Mauro Leos, vice presidente da Moodys, garante: "A menos que algo muito inesperado aconteça, o rating não deve ser alterado neste ano" (REUTERS/Brendan McDermid)
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2015 às 09h58.
São Paulo - A Moodys só espera uma estabilização da relação dívida bruta/ PIB para o fim do mandato da presidente Dilma. Mesmo assim, isso não significa que o País perderá o grau de investimento.
"A menos que algo muito inesperado aconteça, o rating não deve ser alterado neste ano", disse Mauro Leos, vice-presidente da Moodys, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado
Segundo Leos, um dos principais motivos para o rebaixamento é a deterioração do perfil de risco do Brasil, que está relacionada ao fraco crescimento.
"O crescimento está mais fraco do que antecipávamos e continuará fraco durante o resto do governo". Leos cita ainda os resultados fiscais mais fracos do que o previsto. Não apenas a arrecadação, que, diz ele, é importante, mas também os gastos no médio prazo. Boa parte dessa fraqueza fiscal , avalia, está relacionada à tendência dos gastos obrigatórios.
Outro fator, segundo o vice-presidente da Moody's, que levou ao rebaixamento é o fraco consenso sobre as reformas políticas. "Tudo isso resulta em um perfil de crédito pior do que antes. O perfil é mais fraco, não só em bases absolutas, mas também em bases relativas. Quando comparamos com outros países com rating na faixa Baa, o Brasil tem indicadores fiscais mais fracos".
Ele diz que, para a relação entre dívida e PIB estabilizar, o Brasil precisa de um crescimento de 2% e um superávit primário de 2%. "Isso não vai acontecer este ano e não vai acontecer no próximo ano. Só no médio prazo, 2017, 2018, deve chegar nisso. Isso significa que a dívida vai continuar subindo, para perto de 70% em 2018. Esse nível está entre os mais altos dos países com rating Baa".
Leos diz que a Moody's manteve a perspectiva estável do País porque há um equilíbrio entre os fatores positivos e negativos.
"O Brasil é resistente a choques externos. Quando olhamos para a categoria Baa, vários países têm problemas no balanço de pagamentos e choques externos podem ter impacto significativo na economia. O Brasil é o oposto, é muito forte em termos de contas externas. A maior parte do déficit é financiada por investimento estrangeiro direto. Há um nível elevado de reservas internacionais."
Ele lembra que para cada dólar que precisa pagar de dívida externa, o Brasil tem quatro dólares em reservas, uma das maiores relações em economias emergentes. E que o governo tem uma exposição relativamente baixa à dívida externa. Assim, diz, esses elementos compensam os fatores negativos.
Crise política
Mauro Leos reconhece que fatores políticos sempre entram na conta dos ratings. Diz que um dos fatores que a Moody's incorporou no rating do Brasil está relacionado ao fraco consenso político para reformas.
A tensão entre o Congresso e o governo está tornando a vida difícil, diz ele. "Nós vemos isso todo dia. Isso é capturado nos números fiscais, porque o ministro Joaquim Levy não tem conseguido aprovar tudo o que queria e também afeta os números de investimentos".
Leos ressalta que a confiança dos investidores estava baixa no ano passado e continuou a cair este ano, e isso causa impacto no crescimento.
"Podem existir cenários extremos, eventos extremos, como o que você mencionou. O que avaliamos é a situação atual, os problemas, o grau de tensão, e tentamos incorporar isso no rating. Quem sabe o que vai acontecer? Acreditamos que os números que vemos já capturam uma parte importante do risco político."
O diretor da Moody's diz que, a menos que algo muito inesperado aconteça, a perspectiva estável do rating significa que não devemos ter alterações este ano. Até além deste ano, afirma. Destaca que uma consideração muito importante para a perspectiva estável é a análise sobre o que vai acontecer após 2016.
"Esperamos uma recuperação cíclica na segunda metade de 2016. O crescimento continuará baixo, mas será uma recuperação, e isso deve ajudar na arrecadação. Esperamos que juros e inflação caiam no próximo ano. Porém, se nossa expectativa de melhora gradual no próximo ano e de estabilização nas condições em 2017 estiver errada, e os juros continuarem a subir e a economia continuar a cair, teremos de rever nosso rating. Contanto que o desempenho da economia e das contas públicas esteja em linha com o que pensamos, há elementos para apoiar a perspectiva estável, não só para este ano, mas o próximo."