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Controles de capital prejudicam mercados de renda fixa latinos

Retomada das medidas antes praticadas nos anos 1980 contra a inflação começam a afetar rendimentos

Guido Mantega, ministro da Fazenda: controles de capital fizeram títulos públicos caírem (AGÊNCIA BRASIL)

Guido Mantega, ministro da Fazenda: controles de capital fizeram títulos públicos caírem (AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 10h26.

Nova York/Brasília - Países latino-americanos do Brasil ao Peru estão retomando os controles de capital que marcaram os anos 80, era marcada pela hiperinflação.

Desde o início do ano, bancos centrais da região aumentaram as compras de dólares para níveis recordes, elevaram os depósitos compulsórios e limitaram a capacidade dos bancos de apostar contra a moeda americana. As medidas vêm sendo tomadas para tentar conter a alta de 29 por cento nas moedas da América Latina desde março de 2009. Os controles podem ficar mais rígidos, e outras nações podem juntar-se ao movimento “market-unfriendly”, disse Alberto Ramos, economista da Goldman Sachs Group Inc.

“Em todos esses países, se prosseguir, haverá a tentação de subir o nível de restrições,” disse Ramos, que já trabalhou como economista para o Fundo Monetário Internacional, em entrevista por telefone de Nova York. “Não podemos jogar no lixo quatro décadas de boa pesquisa econômica. Os controles de capital têm sérios custos econômicos.”

Os títulos domésticos da América Latina acumularam uma baixa de 0,5 por cento em dólares nos últimos três meses, a primeira queda para o período desde outubro de 2008, que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers Holdings Inc., segundo o índice GBI-EM Global Diversified do JPMorgan Chase & Co.

O rendimento das Notas do Tesouro Nacional com vencimento em 2017 deu um salto de 111 pontos-base desde meados de outubro para 12,55 por cento. As taxas mais altas elevam o custo para a rolagem da dívida do País, que equivale a 58 por cento do Produto Interno Bruto, em comparação com 34 por cento na Coréia do Sul.

Hiperinflação

Essa reviravolta econômica que levou os fluxos privados líquidos a quadruplicarem desde 2003 e reduziu os aumentos de preços para mínimas históricas está ocorrendo duas décadas depois que moratórias se espalharam do México à Venezuela e a inflação em 12 meses no Brasil chegou a níveis de até 6.821 por cento com a alta que precede o Plano Collor. Ao mesmo tempo em que governos estão tomando medidas pra limitar gastos, a inflação e os custos de captação estão subindo e podem acelerar se as moedas perderem força, de acordo com o Bank of America Corp.

“Os bancos centrais vêem o nível das taxas de câmbio como prioridade em vez de usá-las para ajudar a diminuir a inflação,” disse David Beker, estrategista-chefe para América Latina do Bank of America. “Uma vez que você começa a perseguir objetivos múltiplos, aumentam as chances de um erro nas medidas.”


Países emergentes fora da América Latina, da Tailândia à Turquia, também estão tomando medidas para frear a valorização de suas moedas. Isso em um cenário onde as taxas próximas de zero nos Estados Unidos e na Europa, além da compra de US$ 600 bilhões de notas do Tesouro americano pelo Fed, têm direcionado os fluxos para ativos que oferecem maiores retornos.

Aumento de Fluxos

As medidas preventivas contra bolhas de ativos e proteção da competitividade concentraram-se na América Latina, onde a entrada líquida de fluxos privados subiu para US$ 203,4 bilhões no ano passado em comparação com US$ 57,5 bilhões em 2003, de acordo com o Banco Mundial. A força da região, demonstrada no crescimento econômico de 5,7 por cento no ano passado -- o dobro da taxa de expansão dos Estados Unidos -- indica que o fluxo de entrada de recursos provavelmente vai continuar pressionando suas moedas, disse o banco em 12 de janeiro.

As moedas latinas subiram 0,3 por cento este ano e uma alta de 29 por cento desde março de 2009, segundo índice do JPMorgan e da Bloomberg que acompanha as seis principais moedas da região.

O Chile, que não tinha comprado dólares no mercado de câmbio desde 2008, anunciou em 3 de janeiro que compraria um volume recorde de US$ 12 bilhões, equivalente a 43 por cento das reservas cambiais do país.

Na Colômbia, onde o peso subiu 10 por cento contra o dólar desde o fim de 2009, o banco central está comprando pelo menos US$ 20 milhões por dia no mercado à vista. O Peru comprou US$ 9 bilhões ano passado, o segundo maior volume já comprado, enquanto a moeda local, o sol, atingiu a maior cotação dos últimos dois anos em outubro. O governo peruano também aumentou depósito compulsório para elevar o custo de captação de curto prazo no exterior por bancos locais.

No Brasil, onde uma valorização de 38 por cento do real desde o fim de 2008 fez com que o déficit comercial de bens manufaturados dobrasse no ano passado para US$ 71 bilhões, o governo e Banco Central têm sido os mais agressivos no lançamento de medidas para conter o avanço.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras em aplicações de estrangeiros na renda fixa para 6 por cento. O Banco Central anunciou um compulsório sobre posições vendidas em dólar e fez na última sexta-feira um leilão de US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial reverso. O governo também autorizou o fundo soberano do País a fazer compras de dólares no mercado futuro.

“Nesses jogos de gato e rato, acho que as autoridades provavelmente vão perder”, disse Simon Johnson, professor de finanças no Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, Estados Unidos, que foi economista do FMI de 2007 a 2008. “Há muito capital desregulamentado no mundo, principalmente em países desenvolvidos. Essa turma vai encontrar formas de driblar as restrições.”

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