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Confiança no mundo das empresas

A rentabilidade dos papéis de bancos e empresas, que ficou bastante acima da dos títulos públicos, justificou o prêmio do banco inglês

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h03.

Renato Ramos, gestor de fundos multirriscos do banco inglês HSBC, sentia-se pouco confortável ao analisar os números do mercado financeiro no fim de 2005. Como todo gestor, ele havia destinado boa parte dos recursos dos investidores nos fundos do banco para títulos públicos, considerados papéis seguros e de elevada liquidez -- ou seja, facilmente vendáveis em caso de necessidade. O problema é que, naquele momento, a forte entrada de recursos no mercado brasileiro havia distorcido bastante os preços. A remuneração dos títulos públicos de longo prazo era muito parecida com a dos papéis de prazos mais curtos, reduzindo o incentivo para que o gestor assumisse posições mais longas e arriscadas. Nesse caso, buscar uma rentabilidade diferenciada por meio da compra de papéis de prazos bem mais longos -- como os títulos com vencimento em 2019 ou 2045 -- poderia expor o investidor a risco exagerado.

A saída encontrada por Ramos foi valer-se da longa tradição do HSBC de emprestar dinheiro em todo o mundo e apostar nos títulos privados. Esses papéis podem ser de vários tipos. Desde os tradicionais Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de bancos privados de primeira linha ou títulos de renda fixa de empresas, como notas promissórias ou debêntures. Também podem ser instrumentos financeiros mais sofisticados, como cotas dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), mais conhecidos como fundos de recebíveis. Esses fundos compram os direitos que empresas e bancos têm de receber pagamentos no futuro. Embora menos líquidos que os títulos públicos, CDBs, debêntures e cotas de fundos são bem mais rentáveis do que os papéis emitidos pelo Tesouro sem ser, comparativamente, muito mais arriscados.

Os melhores de multirriscos
Gestor Patrimônio no Guia
(R$ milhões)
Nota Final (1)
1 - HSBC
1 438,7
83,1%
2 - Bradesco
627,4
52,7%
3 - ABN Amro Real
369,5
42,4%
4 - Pactual
3 723,2
20,4%
5 - Unibanco
429,1
2,5%
(1) Anota de um gestor varia de 0% a 100% e é calculada pela relação entre o patrimônio premiado com 5 e 4 estrelas e o patrimônio total administrado
Fonte: Centro de Estudos em Finanças da FGV/Eaesp

O raciocínio de Ramos seria imitado por boa parte dos administradores de fundos ao longo do primeiro semestre do ano. No entanto, o HSBC anteviu o movimento do mercado, o que lhe valeu um bom desempenho para seus fundos multirriscos e garantiu ao banco o troféu de melhor gestor de fundos nessa categoria. Ao comprar os papéis antes, Ramos adquiriu os mais rentáveis e menos arriscados. Logo depois, o aumento da demanda elevou os preços e tornou a rentabilidade desses títulos menos atraente. "Conseguimos antecipar uma forte migração de recursos para esses investimentos e estávamos bem posicionados quando ela de fato ocorreu", diz Ramos.

Desde o início de 2005, a parcela de títulos privados nos fundos do banco dobrou, crescendo de 25% para 50%. "A maior parte dos papéis é de instituições financeiras, como debêntures de empresas de leasing", diz Walter Shinomata, diretor executivo do HSBC. No restante da carteira, o HSBC optou por posições mais conservadoras, com títulos públicos bastante negociados e papéis de curto prazo corrigidos pela inflação. Segundo ele, a perspectiva para os próximos meses é manter elevada a participação dos papéis privados nos fundos do HSBC.

Ramos, de 49 anos, é engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Está no HSBC desde 1998, pouco depois da chegada do banco inglês ao Brasil. Antes, trabalhou no Banco Francês e Brasileiro. Está a cargo do dia-a-dia da gestão dos fundos do banco, hoje o maior administrador estrangeiro de recursos do Brasil. O HSBC tem cerca de 45 bilhões de reais em ativos sob administração, o que o coloca em quinto lugar no cômputo geral da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

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