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Com alta do dólar, Marfrig se beneficia da venda de ativos

Um total de US$ 2,2 bilhões em títulos da empresa brasileira em dólar teve recuperação de até 31% desde a mínima deste ano


	Marfrig: a mudança para operações no exterior, que geram receita em dólar, significa que os investidores podem ganhar mais com os títulos da empresa
 (Divulgação/Marfrig)

Marfrig: a mudança para operações no exterior, que geram receita em dólar, significa que os investidores podem ganhar mais com os títulos da empresa (Divulgação/Marfrig)

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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2013 às 14h24.

Rio de Janeiro - O maior período de valorização do dólar em um ano vem em bom momento para detentores de títulos da Marfrig Alimentos SA, depois que a empresa reduziu sua dívida pela metade se desfazendo de ativos locais para focar em vendas no exterior.

Um total de US$ 2,2 bilhões em títulos da Marfrig em dólar teve recuperação de até 31% desde a mínima deste ano, em 18 de abril, maior alta dentre emissoras da indústria de alimentos em mercados emergentes com rating abaixo de grau de investimento, segundo dados da Bloomberg.

Desde que o maior fornecedor de carne para a McDonald’s Corp. e o fabricante de lanches de frango endossados pelo famoso chef Jamie Oliver anunciou a venda de ativos e repasse de US$ 2,7 bilhões em dívida para a rival JBS SA em junho, o real lidera perdas entre as principais moedas de mercados emergentes do mundo. A mudança para operações no exterior, que geram receita em dólar, significa que os investidores podem ganhar mais com os títulos da empresa, diz a Oppenheimer Co.

“Sem a Seara, quase metade das vendas vem do exterior”, diz Omar Zeolla, analista de crédito corporativo da Oppenheimer, em entrevista por telefone de Nova York. “Até agora, temos visto apenas os efeitos contábeis, mas será bom quando virmos os efeitos no caixa, quando a depreciação se refletir nos resultados.”

Vendas no exterior

“O bom equilíbrio da receita da Keystone Foods, Moy Park e Marfrig Beef, junto com a diversificação geográfica e de portfólio dessas unidades, colocam a Marfrig em posição privilegiada para capturar oportunidades geradas pela apreciação do dólar”, diz Ricardo Florence, diretor financeiro da Marfrig, em resposta a questões da Bloomberg enviadas por e-mail.


Após a venda negociada das unidades de comida processada da Seara da Marfrig no Brasil, e um curtume no Uruguai para a JBS, a maior produtora de carne do mundo, as vendas da Marfrig no exterior representarão 54 por cento do total da companhia, contra cerca de um terço atualmente, segundo uma apresentação de 8 de agosto.

O real desvalorizou 12,7 por cento em relação ao dólar nos últimos três meses, a maior diferença entre as moedas de 24 mercados emergentes analisados pela Bloomberg, e o mais longo período de baixa em uma base mensal desde o período encerrado em maio de 2012. Neste ano, esta é a pior performance depois do rand sul-africano e do peso argentino.

Os rendimentos dos US$ 725 milhões em títulos de 2018 da Marfrig caíram 5,4 pontos percentuais desde a baixa de abril para 9,95 por cento, contra um aumento de 1,1 ponto percentual por notas no Bloomberg High Yield Emerging Market Corporate Bond Index.

Redução de dívida

O acordo com a JBS, que está esperando aprovação regulatória, foi parte da manobra do CEO da Seara, Sergio Rial, para ajudar a cortar a dívida da Marfrig, que chegou a um pico de cerca de R$ 13,2 bilhões (US$ 5,7 bilhões) no primeiro trimestre após pelo menos 18 aquisições entre 2007 e 2012.

Rial, que chegou à empresa em 2012 após trabalhar como diretor financeiro na Cargill Inc. e que é cotado para tornar-se CEO no ano que vem, pretende reduzir a dívida líquida da Marfrig a 3 vezes o lucro antes dos juros, taxas, depreciação e amortização neste ano -- em 2012, representava 4,7 vezes. A venda das unidades da Seara está reforçando a confiança do investidor de que ele cumprirá a meta segundo Ian McCall, gerente financeiro da Quesnell Capital SA, com sede em Genebra.


“Rial está executando o plano”, disse McCall, que ajuda a administrar US$ 107 milhões em dívida em mercados emergentes, incluindo a da Marfrig, em entrevista por telefone de Cascais, Portugal. “Rial está cumprindo suas promessas.”

Preocupações do investidor

A Standard Poor’s baixou o rating da dívida da Marfrig de B+ em 9 de maio, a B, cinco níveis abaixo do grau de investimento, citando resultados mais fracos que o esperado para 2012 e indicadores de crédito fracos. A Fitch Ratings cortou seu ranking para o mesmo nível em 6 de junho. O serviço de investidores da Moody listou-a com um equivalente B2.

A taxa de endividamento da Marfrig terá que cair mais para melhorar a confiança do investidor, disse Michael Roche, estrategista de mercados emergentes na corretora de valores Seaport Group LLC.

“Uma preocupação para a empresa e para a comunidade do crédito é otimizar ambos, seus custos de dívida e seu perfil de maturação”, disse Roche em entrevista por telefone, de Nova York. “A Marfrig operou com níveis bastante exagerados tanto de receita quanto de dívida sobre o Ebitda que precisariam ser redirecionados”.

Os investidores provavelmente seguirão colhendo “bons” retornos dos títulos da Marfrig mesmo após a oscilação dos últimos meses, disse Peter Lannigan, diretor-geral da CRT Capital Group LLC. Os títulos ainda têm “bom potencial de retorno total”, disse ele em entrevista por telefone de Stamford, Connecticut.

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