Captação no mercado de capitais cai 38% no 1º trimestre, diz Anbima
Juros altos e efeito Americanas derrubam retornos com emissões na renda variável e na renda fixa
Repórter de Invest
Publicado em 11 de abril de 2023 às 14h09.
Última atualização em 11 de abril de 2023 às 14h26.
O primeiro trimestre foi fraco para as emissões de novos ativos no mercado de capitais. O volume total captado no período foi de R$ 66 bilhões de reais, uma queda de 38% em comparação ao ano passado, segundo a Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais .
As mais afetadas foram as emissões de ativos de renda variável, cujo volume ficou em R$ 3 bilhões – queda de 72% na comparação anual. O grupo inclui emissões primárias de ações, os IPOs , e as secundárias, de empresas que já tem capital aberto na bolsa, via follow-ons .
Aqui a grande vilã é a taxa básica de juros, a Selic , que atualmente está em 13,75% ao ano, seu maior patamar desde 2016. Os juros altos tiram a atratividade da renda variável e deixam o ambiente de negociação mais difícil para as empresas que querem estrear na bolsa. Captar no mercado secundário também fica mais caro, e as companhias acabam buscando outras alternativas para se financiar.
“Uma taxa de juros de quase 14% tem um efeito direto e natural nas novas emissões, as empresas buscam outras saídas [para levantar capital]. Os bancos que estruturam as operações continuam conversando com seus clientes, mas buscam um momento melhor [para ir a mercado]”, avaliou José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, em conversa com jornalistas na manhã desta terça-feira, 11.
A expectativa da Anbima é que o cenário continue difícil para as captações na renda variável ao longo do ano caso as taxas de juros continuem altas. Os IPOs devem continuar fora do radar, e os follow-ons devem se manter para casos e oportunidades mais específicos. Em 2023, foi realizado apenas uma operação de follow-on no mercado brasileiro. Não aconteceu nenhum IPO.
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Emissões em renda fixa tem desafio após Americanas
O início de 2023 também foi desafiador para as emissões em renda fixa, especialmente para as debêntures, que sofreram com o caso Americanas . Depois que uma das maiores varejistas do País deu um calote na sua dívida, o mercado de crédito privado ficou mais cauteloso. As emissões de debêntures somaram R$ 55,8 bilhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 34% frente ao mesmo período do ano anterior.
Vale lembrar ainda que, para além da Americanas, outras empresas como Light, Marisa e CVC têm enfrentado desafios de renegociação de dívidas por conta dos juros altos. O momento causou, inclusive, uma mudança no perfil das emissões. Quase 36% dos recursos captados nesse primeiro trimestre foram destinados para um refinanciamento de passivos ao invés de novos investimentos. O prazo médio das ofertas também ficou mais longo, e passou a ser de 5,9 anos.
O mercado de ofertas primárias ficou mais restrito, mas a Anbima reforça que o secundário mostrou resiliência. O número de negociações aumentou 40% no período, enquanto o volume negociado subiu 34%.
“Se dá para tirar algo positivo desse primeiro trimestre, é a evolução do mercado secundário [de debêntures]. A liquidez traz segurança para o investidor de que é possível negociar e sair do papel em momentos de estresse no mercado”, afirmou Guilherme Maranhão, presidente do fórum de estruturação de mercado de capitais da Anbima.
Destaque positivo: Fiagro e Fundos Imobiliários
O destaque positivo ficou com os produtos híbridos, onde se encaixam os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) e os fundos imobiliários (FIIs). A captação com as emissões dos produtos atingiu R$ 6 bilhões, uma alta de 40,6% na comparação anual.
O setor agro é relativamente novo na indústria, então teria se beneficiado de uma busca por diversificação que, segundo a Anbima, se une ao desempenho positivo do produto. Já os FIIs vinham de um cenário de captação abaixo do histórico, o que gerou oportunidades neste primeiro trimestre.
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