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Campeão em previsões projeta corrida para real com aposta em QE3

Para o banco, a alta será impulsionada por estímulos monetários nos Estados Unidos

O real vai liderar a recuperação das moedas emergentes este ano, avançando 7,8%, para R$ 1,7 por dólar (Germano Lüders/Você S/A)

O real vai liderar a recuperação das moedas emergentes este ano, avançando 7,8%, para R$ 1,7 por dólar (Germano Lüders/Você S/A)

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Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2012 às 10h14.

Nova York - O Standard Chartered Plc, que fez as estimativas mais acertadas para o real nos últimos 18 meses, agora prevê que a moeda brasileira terá a maior valorização desde 2009. Para o banco, a alta será impulsionada por estímulos monetários nos Estados Unidos.

O real deve se valorizar 12 por cento este ano, para R$ 1,65 por dólar, em relação ao fechamento de ontem, a R$ 1,8332, disse Mike Moran, estrategista de moedas do banco com sede em Londres. Moran foi quem mais acertou as projeções para o real nos últimos seis trimestres, de acordo com estudo Bloomberg Rankings com 23 analistas. A estimativa média entre os cinco analistas que mais acertaram as projeções no período é que o real se valorize 6 por cento, para R$ 1,73. O real teve desvalorização de 11 por cento em 2011, o pior desempenho da América Latina depois da queda de 11,5 por cento do peso mexicano.

O Federal Reserve deve promover uma terceira rodada de compras de títulos públicos, conhecidas como “alívio quantitativo”, ou “quantitative easing”, em inglês, o que levou à sigla QE3. A medida, adotada para estimular a economia americana, deve elevar a demanda pelas commodities exportadas pelo Brasil, segundo o Standard Chartered e o BNP Paribas SA, que ficou em terceiro lugar entre os que fizeram previsões mais acertadas para o real. A desvalorização do real em 2011 fez o retorno dos títulos de dívida local recuar para 3 por cento em dólar, comparado a uma média de 40 por cento nos dois anos anteriores, segundo o índice GBI-EM, do JPMorgan Chase & Co.

“Esperamos ver as condições para o QE3 ser lançado nos Estados Unidos, o que é um sinal de alta forte para os mercados de commodities e moedas de países emergentes, como já foi no passado”, disse Moran, em entrevista de Nova York. “O surgimento de mais expectativas de alta este ano vai ajudar muito essas moedas influenciadas por crescimento, como o real.”

Corrosão do retorno

O Fed comprou US$ 2,3 trilhões em títulos do Tesouro e papéis atrelados a hipotecas entre 2008 e junho de 2011 em duas rodadas de alívio quantitativo. O real se valorizou 48 por cento no período e o índice UBS Bloomberg de commodities com prazo constante, que acompanha cotações de 27 matérias-primas, disparou 61 por cento. As exportações de commodities representaram 11 por cento do Produto Interno Bruto brasileiro em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A queda da moeda brasileira no ano passado corroeu o retorno dos ativos de renda fixa, apesar de o rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2017 ter recuado 165 pontos-base, ou 1,65 ponto percentual, desde o fim de julho para 11,3 por cento ontem, segundo dados compilados pela Bloomberg.


Riscos à economia

Com exceção de três moedas, todas as divisas de mercados emergentes se desvalorizaram em relação ao dólar em 2011, já que o agravamento da crise da dívida europeia levou investidores a reduzir as aplicações em ativos de países em desenvolvimento. A lira turca e o rand sul-africano caíram mais de 18 por cento. Títulos de mercados emergentes denominados em moeda local perderam 1,8 por cento em 2011, de acordo com o índice diversificado global GBI-EM do JPMorgan.

O real vai liderar a recuperação das moedas emergentes este ano, avançando 7,8 por cento, para R$ 1,7 por dólar, seguido pelo peso mexicano e pela lira turca, de acordo com a estimativa mediana de analistas sondados pela Bloomberg. Há previsão de queda em 2012 apenas para o dólar de Hong Kong e para o peso argentino.

Mesmo com a economia americana mostrando sinais de recuperação após a taxa de desemprego ter caído para o menor nível em 34 meses, representantes do Fed reiteraram na ata da reunião de 13 de dezembro que “restrições nos mercados financeiros globais” continuam impondo “riscos significativos” de piora à economia. O presidente do escritório do Fed em Chicago, Charles Evans, argumentou que um afrouxamento adicional garantiria a continuidade do crescimento econômico.

Perspectiva de expansão

A aceleração do crescimento no Brasil levará o Banco Central a iniciar um ciclo de aumento de juros até o fim do ano para segurar a inflação, aumentando a atratividade dos ativos de renda fixa e embalando ganhos no real, disse Diego Donadio, estrategista para América Latina do BNP em São Paulo.

A economia brasileira vai crescer 3,3 por cento em 2012, após uma expansão estimada em 2,9 por cento no ano passado, de acordo com a estimativa mediana cerca de 100 economistas ouvidos pelo BC. Os EUA vão crescer 2,1 por cento este ano, após um avanço de 1,8 por cento em 2011, segundo economistas sondados pela Bloomberg.

No Brasil, a equipe econômica cortou a taxa básica de juros em 150 pontos-base desde agosto, para 11 por cento, reduziu impostos e aliviou exigências para concessão de crédito, com o objetivo de estimular o crescimento. As NTN-F com vencimento em 2017 pagam 10,4 pontos percentuais a mais do que os títulos do Tesouro americano de prazo similar. Em 29 de novembro, a diferença era de 9,9 pontos percentuais, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

‘Ajudar o real’

“No fim do ano, as conversas sobre aumento de juros no Brasil vão começar a aparecer”, disse Donadio disse em entrevista por telefone. “Isso também vai ajudar o real.”

Donadio espera que a moeda se aprecie 12 por cento para R$ 1,64 por dólar até o fim do ano. Ele foi o terceiro especialista de maior precisão em suas projeções numa sondagem da Bloomberg.


Vladimir Caramaschi, economista-chefe da divisão brasileira do Crédit Agricole, disse que a valorização do real será limitada pelo alargamento do déficit em conta corrente e pelo aumento dos juros em grandes economias mais para o fim do ano. O déficit em conta corrente, a medida mais ampla da troca de bens e serviços de um país, vai aumentar de 2,1 por cento do PIB em 2011 para 2,9 por cento este ano, segundo pesquisa da Bloomberg.

“O Brasil vai começar a crescer de novo na segunda metade do ano e isso vai levar a um aumento do déficit em conta corrente”, disse Caramaschi em entrevista em São Paulo. “Em algum momento, as políticas monetárias nas economias desenvolvidas vão se normalizar. Ambos os desdobramentos vão limitar o ganho da moeda.”

‘Muito acomodatícia’

Os rankings da Bloomberg são baseados em previsões trimestrais de analistas desde setembro de 2010 e em uma previsão anual feita em dezembro de 2010. As previsões do Standard Chartered ficaram em média 6,9 por cento distantes da cotação real da moeda. O Credit Suisse Group AG ficou em segundo lugar, com uma diferença de 7 por cento, seguido pelo BNP, Credit Agricole SA e JPMorgan.

O real também vai se beneficiar de uma política do Banco Central Europeu similar ao QE do Fed, com a compra de títulos da Itália e da Espanha para conter a crise de dívida da região, disse Moran, do Standard Chartered.

“Uma política muito acomodatícia de bancos centrais globais vão levar a liquidez de volta ao Brasil”, disse Moran.

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