Mercados

Campeão de previsões de câmbio espera colapso do peso argentino

Profissional alcançou o primeiro lugar nas previsões cambiais para América Latina, Europa, Oriente Médio e África

Ele compara a situação na Argentina ao quadro de hiperinflação e estagnação econômica da Polônia após a queda do comunismo. (Diego Giudice/Bloomberg)

Ele compara a situação na Argentina ao quadro de hiperinflação e estagnação econômica da Polônia após a queda do comunismo. (Diego Giudice/Bloomberg)

TL

Tais Laporta

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 07h30.

Última atualização em 25 de outubro de 2019 às 07h30.

O campeão em previsões cambiais para mercados emergentes não precisa de cafeína para derrotar a concorrência. “Vivo em um fuso horário diferente”, disse Marcin Lipka, 36 anos, durante entrevista realizada no 26º andar do edifício da Cinkciarz, corretora de câmbio com sede em Varsóvia. “Eu não consumo café, açúcar ou doces. É quase somente chá verde, água e trabalho.”

Ele estuda para a prova da certificação como Chartered Financial Analyst ou CFA entre 4 e 8 da manhã e reserva tempo para a esposa e as filhas gêmeas de seis anos antes de dormir, por volta das 21 horas. O estilo de vida ascético ajuda a explicar como o profissional alcançou o primeiro lugar nas previsões cambiais para América Latina, Europa, Oriente Médio e África. Lipka estimou corretamente o colapso do peso argentino. Agora, com o país sul-americano se preparando para uma eleição histórica no domingo, ele espera outra carnificina financeira.

“A depreciação na Argentina pode ser espetacular, quase como na Venezuela”, disse Lipka, que se formou na Universidade de Varsóvia. Segundo ele, é possível “um tombo de 50% neste trimestre em direção a mais 100 pesos por dólar”.

Ele compara a situação na Argentina — onde os eleitores provavelmente frustrarão a tentativa de reeleição do presidente Mauricio Macri — ao quadro de hiperinflação e estagnação econômica da Polônia após a queda do comunismo, quando o único remédio era a reformulação do que hoje é a maior economia do Leste Europeu. Sobrecarregada por décadas de populismo e uma dependência excessiva das exportações agrícolas, a Argentina precisa “acordar para a realidade e voltar às reformas defendidas por Macri em 2015, mas desta vez de forma decisiva”.

Na quarta-feira, a taxa de câmbio não oficial, conhecida como blue chip, se depreciou para o menor nível desde o início da série, há sete anos.

Fora da Argentina, Lipka prevê estabilidade do dólar por vários trimestres e relativa estabilidade para a maioria das moedas da Europa, Oriente Médio e África (região conhecida pela sigla EMEA).

Lipka ingressou na Cinkciarz três anos após a fundação da corretora, uma década atrás. Atualmente, a receita anual de 17 bilhões de zloty (US$ 4,4 bilhões) faz dela uma das maiores empresas privadas da Polônia. O nome é mais difícil de traduzir do que de pronunciar: é uma referência atrevida aos negociadores de moeda que atuavam ilegalmente na era comunista.

A Cinkciarz ergueu sua reputação ao facilitar transações online para os poloneses pagarem dívidas em moeda estrangeira, enviarem recursos do exterior ou obterem dinheiro para viagens. A corretora também alinhou patrocinadores badalados como o time americano de basquete Chicago Bulls, que conquistou muitos fãs na Polônia quando os jogos eram transmitidos pela televisão estatal e o craque Michael Jordan estava no auge da fama, na década de 1990.

O acordo com o time foi uma sacada de marketing. O pacto de 2015 coincidiu com a inauguração do primeiro escritório da Cinkciarz nos EUA, em Chicago, onde vive boa parte da colônia polonesa. Na cerimônia de assinatura, o touro-mascote Benny the Bull se juntou a ninguém menos que Lech Walesa, o lendário líder do Solidariedade, ganhador do Prêmio Nobel e ex-presidente do país.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaCâmbioDólarpeso-argentino

Mais de Mercados

Japão evita dar pistas sobre aumento dos juros e vai acompanhar os riscos à economia

Vale vira, passa a cair e derruba Ibovespa em pregão de baixa liquidez

5 ações para ficar de olho no mercado dos EUA em 2025; veja a lista

BC vende oferta integral de US$ 3 bi em leilão, mas dólar ensaia recuperação