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Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2010 às 13h56.
Mantega diz que é preciso esperar para ver efeito do IOF
Medida preserva rendimento de juros no longo prazo
Por Silvio Cascione
SÃO PAULO, 5 de outubro (Reuters) - O corte do juro no
Japão a zero e a expectativa de mais estímulos nos Estados
Unidos derrubaram o dólar nesta terça-feira, pegando o governo
no contrapé após o aumento do imposto sobre investimentos
estrangeiros em renda fixa.
A moeda norte-americana caiu 1 por cento, a 1,675
real. É o menor patamar de fechamento desde 2 de setembro de
2008, antes da quebra do banco Lehman Brothers que agravou a
crise financeira global.
O governo brasileiro elevou o imposto sobre investimentos
externos em renda fixa de 2 para 4 por cento a partir desta
terça-feira, em uma tentativa de frear a entrada de capital
especulativo.
Mas "o mercado vê (o aumento do IOF) como inócuo diante do
cenário externo", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da
CM Capital Markets.
Às 16h30, o euro avançava 1,2 por cento, acima de
1,38 dólar e no maior nível em oito meses. A moeda dos Estados
Unidos caía 0,9 por cento em relação a uma cesta com as
principais divisas .
A tomada de crédito no exterior para aplicação no Brasil
ficou ainda mais barata com o corte do juro básico no Japão a
uma faixa entre zero e 0,1 por cento [ID:nN05170854].
A medida, que surpreendeu o mercado, aumentou a expectativa
por um anúncio de novos estímulos também nos Estados Unidos. O
presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, disse
ao Wall Street Journal que é favorável a "muito mais" estímulos
à economia para combater o desemprego [ID:nN05102960].
"Enquanto a liquidez global seguir alta, os preços das
commodities continuarem a subir e algumas taxas de câmbio em
países avançados permanecerem em queda, o mercado vai continuar
a pressionar o real para cima", avaliaram Paulo Leme e Luis
Cezario, economistas do banco Goldman Sachs.
MANTEGA PEDE PACIÊNCIA
Questionado por jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, disse que é preciso esperar para que o IOF atue sobre
a taxa de câmbio. "Às vezes você tem que tomar antibiótico por
uma semana para que tenha efeito."
Ele acrescentou que o problema cambial não está restrito ao
Brasil. A intervenção de governos em todo o mundo contra a
valorização de suas moedas deve ser discutida no final desta
semana em reunião de líderes econômicos que contará com a
participação brasileira [ID:nN05196099].
De acordo com Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO
Corretora, o aumento do IOF tende de fato a reduzir a
atratividade de investimentos de curto prazo no país. "O
percentual definido torna nulo o rendimento até 139 dias... e
reduz bruscamente o rendimento em um ano", afirmou.
Dados do Banco Central mostram que o investimento
estrangeiro em títulos de renda fixa de curto prazo no país foi
de 1,027 bilhão de dólares entre janeiro e agosto, mais que o
dobro do verificado em todo o ano passado.
Mas o próprio Tesouro Nacional reconhece que a maior parte
dos investimentos estrangeiros está concentrada em títulos de
longo prazo. Segundo os dados do BC, papéis de médio e longo
prazos receberam 10,953 bilhões de dólares até agosto neste
ano, ante 9,678 bilhões de dólares em todo o ano passado.
E, segundo cálculos da Safra Corretora, o aumento do IOF
altera muito pouco a rentabilidade anual de um título com
vencimento em 2017, de 11,34 a 10,97 por cento --ainda muito
acima dos juros pagos por papéis em economias desenvolvidas.
NOVAS MEDIDAS?
Com a indiferença do dólar ao aumento do IOF, analistas já
imaginam que o governo pode apresentar outras medidas para
fazer frente à valorização do real.
Para Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa econômica para
América Latina do BNP Paribas, entre as opções estão um novo
aumento do IOF, extensão da nova alíquota para ações, adoção de
algum tipo de quarentena, reforço da intervenção do Banco
Central ou compra de dólares por meio do Fundo Soberano.
No mês passado, a incerteza sobre as possíveis medidas do
governo no câmbio ajudou a manter a taxa acima de 1,70 real por
algumas semanas, mesmo com a entrada expressiva de recursos por
causa da oferta de ações da Petrobras .
Ainda assim, aponta Carvalho, "suspeitamos que os
fundamentos (tanto no mundo quanto no Brasil) vão orientar a
tendência do dólar ao longo do tempo."
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello; Edição de
Daniela Machado)