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CÂMBIO-Dólar vira ano abaixo de R$1,70 e acirra "guerra cambial"

É a menor cotação para um início de ano desde 1999 Atenção agora recai sobre juros e atuação do governo Ptax e sistema de registro mudam no ano que vem Por Silvio Cascione SÃO PAULO, 30 de dezembro (Reuters) - O dólar concluiu 2010 com queda acumulada de 4,4 por cento, cotado nesta quinta-feira a […]

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2010 às 15h43.

  • É a menor cotação para um início de ano desde 1999

  • Atenção agora recai sobre juros e atuação do governo

  • Ptax e sistema de registro mudam no ano que vem

    Por Silvio Cascione

    SÃO PAULO, 30 de dezembro (Reuters) - O dólar concluiu 2010
    com queda acumulada de 4,4 por cento, cotado nesta quinta-feira
    a 1,666 real, após um ano de intervenções mais firmes do
    governo e de alertas sobre uma "guerra cambial".

    Em vários momentos do segundo semestre, analistas apontaram
    a atuação do governo como um fator que limitou a valorização do
    real. Ainda assim, com a queda em 2010, é a primeira vez que o
    dólar passa a virada de ano abaixo de 1,70 real desde a
    implantação do câmbio flutuante, em 1999.

    Vários fatores ocupam o radar do mercado para 2011,
    provocando opiniões divergentes para taxa de câmbio. Jorge
    Knauer, diretor de tesouraria do banco Prosper, avalia que é
    preciso ficar atento ao diferencial de juros entre o Brasil e o
    resto do mundo, principalmente diante da perspectiva de um
    aumento da Selic logo em janeiro para frear a inflação.

    Com juros maiores no Brasil, aumenta a remuneração de
    investimentos locais. Foi justamente para reduzir a entrada de
    dinheiro de curto prazo com vistas aos juros no país que o
    governo instituiu este ano a cobrança de um imposto de 4 por
    cento sobre a entrada de investimento estrangeiro para renda
    fixa.

    Para Knauer, existe a possibilidade de que o governo seja
    no começo do ano "um pouco mais leniente com uma possível
    desvalorização do dólar para tentar um auxílio na política
    monetária". "A inflação está muito ligada a commodities no
    exterior, prinicipalmente commodities agrícolas e alimentos."

    Mas a porta para novas intervenções está aberta. A última
    cúpula do G20, realizada em novembro na Coreia do Sul, admitiu
    que os países podem usar instrumentos para se proteger da
    desvalorização cambial de outros países. [ID:nN11193838]

    Cristopher Garman, analista da consultoria estrangeira
    Eurasia, aventa por exemplo a possibilidade de que a isenção do
    Imposto de Renda sobre os ganhos de capital de estrangeiros em
    aplicações em renda fixa aqui no país seja eliminada. O
    ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou a medida nesta
    quinta-feira em conversa com jornalistas. [ID:nN30111093]

    De acordo com uma autoridade do futuro governo, Dilma
    planeja no início do mandato a desoneração de alguns setores e
    o aumento de impostos sobre determinadas importações para se
    contrapor aos efeitos do real valorizado. [ID:nN29289167]

    DESEQUILÍBRIOS EXTERNOS

    Em relação ao diferencial de juros no mercado externo,
    outro fator a ser considerado é a política das grandes
    economias. Os Estados Unidos, que têm juro praticamente zero,
    injetarão no primeiro semestre 600 bilhões de dólares na
    economia para baratear ainda mais os empréstimos.

    Além disso, os investidores mantêm os ouvidos atentos a
    dois outros grandes centros: China e Europa.

    No primeiro caso, a expectativa de continuidade da alta dos
    juros pode limitar a valorização das commodities e,
    consequentemente, a pressão pela queda do dólar no Brasil.

    Na Europa, a preocupação é com um agravamento da crise da
    dívida entre os países que dividem o euro. Um eventual calote,
    mesmo em um país periférico como a Irlanda, seria capaz de
    afugentar investidores de aplicações de maior risco.

    Internamente, um fator a ser monitorado é o superávit cada
    vez menor da balança comercial e o efeito disso sobre as contas
    externas do país. Embora as exportações tenham batido recorde
    em 2010, o crescimento das importações engordou o déficit em
    transações correntes do país para 43,5 bilhões de dólares em
    2010 até novembro --mais de duas vezes maior que um ano antes.

    A estimativa do governo é de que o déficit em transações
    correntes alcance 64 bilhões de dólares em 2011. Como o país
    depende dos investimentos estrangeiros em carteira para cobrir
    esse saldo, fica mais vulnerável a eventuais solavancos no
    exterior --embora, em último caso, possua quase 300 bilhões de
    dólares em reservas internacionais. [ID:nN21240604]

    "O ideal seria que a pauta (de exportações) fosse marcada
    por produtos de maior valor agregado que não dependem apenas da
    formação internacional de preços. Conclusão: os riscos de
    reversão do cenário positivo se tornam mais elevados", escreveu
    Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros.

    Ao longo de 2010, os preços das matérias-primas, um
    importante fator para a formação do câmbio brasileiro devido ao
    predomínio de produtos agrícolas entre as exportações, subiram
    cerca de 15 por cento segundo o índice Reuters-Jefferies
    .

    NOVIDADES TÉCNICAS

    Do ponto de vista técnico, o mercado de câmbio terá
    novidades a partir da metade do ano que vem, com a mudança no
    cálculo da Ptax (taxa média do dólar) e com a introdução de um
    novo sistema para registro das operações no Banco Central.

    A Ptax será obtida a partir de julho como uma média
    aritmética das cotações do dólar, de forma similar ao cálculo
    da taxa Libor no exterior. O horário de divulgação também muda,
    sendo por volta das 13h, e não mais após as 17h.

    A Ptax é usada como referência para derivativos e outros
    contratos. A intenção do governo ao alterar o cálculo é elevar
    o peso do mercado à vista na formação da taxa de câmbio,
    reduzindo o volume de operações casadas. [ID:nN23233618]

    Já o novo sistema para o registro de operações, baseado em
    trocas de mensagens entre os agentes financeiros, ainda está em
    fase de desenvolvimento e testes. A previsão do BC é que ele
    entre em vigor a partir de 30 de setembro.

(Edição de Nathália Ferreira)

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