Buffett completa 90 anos e deixa nova lição para investidores
O Oráculo de Omaha vende posições importantes de bancos e compra ações de uma mineradora de ouro: visão de longo prazo?
Marcelo Sakate
Publicado em 30 de agosto de 2020 às 14h23.
Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 13h00.
Um dos mais bem-sucedidos investidores de todos os tempos completa 90 anos neste domingo, 30. Warren Buffett , também conhecido como o Oráculo de Omaha, ergueu um império avaliado em 500 bilhões de dólares com a sua Berkshire Hathaway, que comanda como CEO desde 1965.
A data comemorativa acontece em um ano em que Buffett, cujo patrimônio é de 83 bilhões de dólares, fez algumas alterações na sua consagrada estratégia de investimentos.
Recentemente, Buffett se desfez de boa parte de suas participações em bancos americanos e empresas do setor financeiro, incluindo o JPMorgan Chase, o Wells Fargo, a Mastercard e a Visa. No início do ano, já havia vendido sua participação no Goldman Sachs (é justo dizer que ele ainda capital no Bank of America e na American Express, entre outras).
Ao mesmo tempo, o Oráculo de Omaha fez uma intrigante aquisição: ações da canadense Barrick Gold, a maior mineradora de ouro do mundo.
O bilionário investidor é conhecido por carregar posições acionárias relevantes em grandes companhias por muitos anos, como na Coca-Cola e na Apple -- a sua participação de 5,7% é estimada em 125 bilhões de dólares --, entre outras blue chips. São em geral empresas bem-administradas e com vantagens competitivas nos seus setores, o que incluía os bancos.
Buffett é sócio também da Kraft Heinz, em parceria com a 3G Capital, empresa de private equity de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
A decisão de comprar ações da mineradora colocou analistas em dúvida sobre as razões que levaram Buffett e a Berkshire a fazer tal movimento: estaria o bilionário montando posições de curto prazo para se proteger, como costuma ser associado ao ouro?
Para Charles Gave, sócio-fundador da Gavekal Research, o movimento pode esconder uma visão de longo prazo que foge à maioria do mercado neste momento.
No relatório "Does Warren Buffett Know Something We Don't", o famoso economista francês analisa o comportamento de ações de mineradoras de ouro à luz do contexto histórico da economia. E constata que as cotações superam a maior parte dos ativos em momentos que descreve como "períodos keynesianos", em que o Federal Reserve (o BC americano) mantém as taxas extraordinariamente baixas para estimular o crescimento.
É o que tem acontecido desde 2016, em linha com o que se espera que deve continuar a acontecer por algum tempo -- juros baixos nos EUA --, escreve Gave.
Ele afirma que a decisão de comprar ações de mineradoras tem duas possíveis respostas: a expectativa de valorização das cotações do ouro ou que o metal volte a desempenhar um papel relevante no sistema internacional de pagamentos, como no passado.
Isso levaria bancos centrais a voltar a comprar o metal como uma espécie de seguro, "transformando ações de mineradoras de ouro de ativos de curto prazo em ativos de longo prazo", escreve. "Talvez Buffett não tenha perdido o seu toque (de Midas)", conclui.