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Brasil compra mais notas do Tesouro dos EUA, apesar de críticas

Enquanto Rússia e China diminuíram montante investido nos títulos norte-americanos, Brasil aumentou total em 8%

Geithner, do Tesouro dos EUA, e Dilma: rendimento dos papéis norte-americanos está baixo (Ricardo Stuckert Filho/PR)
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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2011 às 09h11.

Brasília/Nova York - As críticas do governo brasileiro à estratégia do Federal Reserve de manter os juros baixos com a compra de títulos do Tesouro americano não o impedem de adquirir os papéis do governo dos Estados Unidos no ritmo mais acelerado em 15 meses.

O Brasil aumentou o total investido em dívida do Tesouro americano em 8 por cento, para US$ 197,6 bilhões, nos três meses até janeiro, enquanto a Rússia reduziu em 21 por cento e a China em 1,8 por cento, segundo dados compilados pelo governo dos EUA. A aplicação tem feito o Brasil perder dinheiro, já que os treasuries com prazo de 10 anos caíram 2,1 por cento desde o fim de outubro em meio aos sinais de recuperação da maior economia mundial, segundo o Bank of America Merrill Lynch.

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou recentemente o BC dos EUA pela apreciação do real por causa da queda dos juros naquele país, o que estimula a busca dos investidores por títulos de dívida do Brasil. Enquanto isso, o rendimento dos treasuries de 10 anos subiu 77 pontos-base nos últimos seis meses. Mantega disse em 4 de novembro que a política do Fed, conhecida por alívio quantitativo, se igualava a “ficar jogando dólar pelo helicóptero” e não é eficaz para estimular o crescimento. Em 4 de janeiro, ele disse a jornalistas que os EUA estavam tentando “derreter o dólar”.

“Mantega precisa criticar alguém, precisa estar no mercado todo dia batendo insistentemente nos EUA e no bloco desenvolvido principalmente devido aos desequilíbrios globais -- este é o trabalho dele”, disse Aryam Vazquez, economista do Wells Fargo & Co. em Nova York, em entrevista por telefone. “A perspectiva realista é a que domina os mercados financeiros globais, não o idealismo que costuma ser propagado”.

Gross vendendo

A diferença entre os rendimentos dos títulos de dívida brasileiro denominados em real com vencimento em 2021 e os papéis dos EUA com prazo semelhante aumentou para o nível mais alto em um mês e meio, alcançando 954 pontos-base em 17 de março. Ontem, essa diferença encolheu para 948 pontos-base, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Bill Gross, que comanda o maior fundo de renda fixa do mundo na Pacific Investment Management Co., disse no relatório mensal sobre a perspectiva de investimentos divulgado no website da instituição em 2 de março, que eliminou a dívida soberana de seu principal fundo no mês passado, porque o rendimento dos treasuries permanece muito baixo. Gross aumentou a quantidade de dívida de emergentes para 10 por cento do total dos ativos no mês passado, a maior participação desde outubro.


IOF triplicado

O total investido pelo Brasil em notas do Tesouro americano cresce à medida que o País compra dólares para conter a disparada de 37 por cento do real num período de dois anos, que tem prejudicado os exportadores e aumentado o déficit em conta corrente. O déficit anualizado cresceu para o recorde de US$ 50 bilhões em novembro, antes de baixar para US$ 47,5 bilhões em dezembro.

O Banco Central comprou US$ 20 bilhões no mercado de câmbio este ano, o equivalente a quase metade dos US$ 41 bilhões em compras durante todo o ano passado. As reservas internacionais brasileiras saltaram de US$ 289 bilhões no final de 2010 para US$ 316 bilhões. Cinco anos atrás, o volume das reservas era de US$ 57 bilhões, de acordo com o BC.

Em outubro, Mantega triplicou para 6 por cento a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras cobrado de estrangeiros que aplicam na renda fixa, numa tentativa de conter a apreciação do real.

Custo da intervenção

O aumento das reservas tem um custo porque as compras de dólares são financiadas por meio da venda de dívida no mercado local e compra de Treasuries e outros ativos estrangeiros, disse Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs Group Inc. em Nova York.
“O custo quase fiscal da intervenção é muito negativo”, disse Ramos em entrevista por telefone. “É este o custo financeiro que eles estão dispostos a pagar para impedir mais valorização cambial, e ele não é pequeno”.

As reservas internacionais, que aumentaram 21 por cento em 2010, equivalem a 14,2 por cento do Produto Interno Bruto do Brasil, comparado a 49 por cento para a China e 33 por cento para a Rússia, disse ontem Alexandre Tombini, presidente do BC, a senadores em Brasília.

O objetivo de comprar reservas é “reduzir a volatilidade excessiva da taxa de câmbio, sem, no entanto, afetar sua tendência estrutural”, disse Tombini.

Um assessor de imprensa do BC se negou a comentar, sugerindo a consulta ao relatório de junho da autoridade monetária sobre a gestão das reservas internacionais. O documento mostrou que o BC tinha cerca de 90 por cento das reservas aplicadas em títulos do governo. Um porta-voz do Ministério da Fazenda se negou a fazer comentários.

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