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Bolsa: os olhos no exterior

Bolsa: os olhos no exterior O desempenho da bolsa nos últimos dias mostrou que os investidores trocaram os dramas internos por problemas lá de fora. Até maio, a bolsa subia toda vez que a palavra “impeachment” aparecia. Às vésperas da votação pelo afastamento da presidente Dilma no Senado, dia 10 de maio, o Ibovespa subiu […]

BOLSA DE NOVA YORK: Eu ainda acho que os mercados estão subestimando o risco de uma catástrofe / Getty Images (Foto/Getty Images)
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Letícia Toledo

Publicado em 24 de junho de 2016 às 20h34.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

Bolsa: os olhos no exterior

O desempenho da bolsa nos últimos dias mostrou que os investidores trocaram os dramas internos por problemas lá de fora. Até maio, a bolsa subia toda vez que a palavra “impeachment” aparecia. Às vésperas da votação pelo afastamento da presidente Dilma no Senado, dia 10 de maio, o Ibovespa subiu 4%. O índice teve sua maior alta desde 2009 no dia 17 de março deste ano, quando subiu 6,6% após a divulgação de conversas entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, fazendo crescer as expectativas do afastamento de Dilma. Nessas últimas semanas a palavra-chave virou o agora o famoso Brexit. E é bom se acostumar, notícias ruins, alertam especialistas, podem continuar vindo de milhares de quilômetros de distância.

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A expectativa inicial era que, após o afastamento do impeachment, as coisas se acalmassem e as ações oferecessem maior estabilidade. Mas, o cenário interno, como se sabe, continua conturbado com as investigações da Operação Lava-Jato atingindo ministros do atual governo e a falta de grandiosas medidas econômicas que os investidores esperavam logo nas primeiras semanas de governo. O cenário interno virou uma total incerteza. A busca por notícias positivas passou para o cenário internacional. “Internamente o cenário é completamente indefinido ainda. A gente fica sem uma tendência positiva e fica claramente vinculado ao que acontece lá fora”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora Nova Futura.

O problema é que justamente agora, as incertezas passaram a dominar também o mercado lá fora. A principal delas, obviamente, veio na manhã de ontem, sexta-feira 24, quando os britânicos decidiram deixar a União Europeia. No curto prazo, o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia deve ser limitado. O Brasil não tem grandes acordos comerciais com a Europa. Segundo relatório do banco Citi, as exportações do país para o Reino Unido representam apenas 0,2% do PIB brasileiro. O Ibovespa caiu 2,8% nesta sexta-feira 24, mas ainda terminou a semana com alta de 1,15%. “O que houve foi um ajuste de preços, o mercado estava esperando a permanência do Reino Unido, o Brexit surpreendeu, mas não é nada para causar pânico por aqui”, diz Luís Gustavo Pereira, analista da Guide Investimentos.

O impacto foi bem menor do que em outros mercados. Na Europa, as principais bolsas perderam 1 trilhão de dólares em valor de mercado na sexta-feira 24. Em Londres, o FTSE-100, principal índice do Reino Unido, caiu 3,15%. Em Frankfurt a queda foi de 6,8%, em Paris de 8% e em Milão de 12,4%. O principal indicador da Bolsa espanhola, o IBEX 35, despencou 12,35% e teve seu pior pregão da história. Nos Estados Unidos, o Dow Jones caiu 3,39% e o S&P 500 teve queda de 3,6%.

No caso do Brexit, o que preocupa é um possível “efeito dominó” sobre o bloco da União Europeia com a convocação de referendos para tratar sobre o tema em outros países – o que poderia provocar um impacto em diversos mercados.

Mas há quem defenda que a saída do Reino Unido pode ser positiva para os países emergentes. “Os investidores devem começar a procurar ativos em mercados emergentes em grande escala. Isso porque há grandes preocupações sobre quais serão as implicações para o crescimento na Europa com a saída do Reino Unido”, afirmam analistas do banco Credit Suisse, em relatório.

Os próximos problemas

Para especialistas os Estados Unidos permanecem uma incógnita em dois pontos que podem influenciar muito por aqui. O primeiro é a tão esperada alta de juros no país. As apostas sobre se a alta de juros aconteceria uma ou duas vezes este ano já andavam embaralhadas. Agora, cresce a expectativa de que, diante do cenário instável na Europa, o país seja ainda mais cuidadoso. “Este evento [Brexit] deve levar o banco central norte americano (Fed) a ser ainda mais cauteloso na condução da política monetária. Parece ser improvável que o Fed suba a taxa básica de juros mais do que uma única vez”, afirma relatório do Banco Safra.

Outro risco vindo dos Estados Unidos que permanece no radar é a eleição presidencial, marcada para dezembro. “O Trump tem uma política com viés protecionista, isso é péssimo para o mundo”, afirma Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos.

Por último, ainda pesam os números da economia chinesa. Qualquer desaceleração maior do que a prevista arrasta o preço das commodities, e consequentemente das ações, para baixo.

E a estabilidade?

Nos próximos meses, analistas estimam que o Ibovespa se manterá entre os 48.000 e 52.000 pontos. Desde que a possibilidade de impeachment ganhou força, o mercado adotou uma faixa de segurança em torno dos 48.000 pontos, “Esse é um patamar técnico importante. Desde abril o índice se mantém acima dos 48.000. Caso caia abaixo disse, aí sim as coisas podem desestabilizar”, diz Samyr Castro.

Para que a bolsa por aqui tenha um salto maior, avaliam especialistas, é preciso duas coisas. A primeira, mais próxima, seria a concretização do impeachment – que tem votação no Senado prevista para agosto. O impeachment de Dilma poderia atrair principalmente investidores estrangeiros – que são os responsáveis por mais da metade de todo o volume de negócios na bolsa.

A visão dos mais otimistas é que a aprovação poderia trazer um grande saldo positivo de entrada de dólares no país. “Só este ano já temos 13,8 bilhões de dólares em saldo de investimentos na bolsa. Com o impeachment bateremos facilmente os 20 bilhões de dólares, que é o nosso recorde de 2014”, afirma Castro.

Um outro movimento, que pode atrair gringos e brasileiros, é um sinal de estabilização da economia brasileira. Mas isso é história para o próximo ano. No momento, quem manda no mercado é o cenário externo.

(Letícia Toledo)

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