A Vale, comandada por Roger Agnelli, disse esta semana que adotou abordagem mais flexível nos contratos com os clientes (.)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2010 às 07h07.
São Paulo - Era quase um consenso. No começo do ano, os analistas de investimentos apostavam muito em ações de empresas que pudessem captar as altas projeções de crescimento da renda das famílias brasileiras. Porém, quase no final do terceiro mês do ano, quem lidera o Ibovespa - principal índice de ações da BM&FBovespa - é o setor das ligadas ao minério de ferro, matéria-prima usada na fabricação do aço.
A justificativa para tanto otimismo é a expectativa de que os preços da commodity disparem cerca de 100% este ano. "No final do ano passado, a expectativa chegava só a 15% de reajuste. Depois, a projeção saltou para 50% e agora está nos 100%. Isso dá R$ 10 bilhões a mais no caixa da Vale", avalia Leonardo Boguszewski, analista de renda variável, da gestora Paraná Banco Asset Managament.
Na ponta positiva do índice no ano, destaque para as ações da MMX Mineração (MMXM3), com alta de 32%. Logo depois chegam os papéis da CSN (CSNA3), com valorização de 24%, seguidos pelas preferenciais de classe A da Vale (VALE5), com avanço de 15% e, por fim, as ações da Usiminas (USIM3, USIM5), que subiram 14% e 13%, respectivamente. Enquanto isso, o índice avançou um tímido 0,5%.
Todos querem o minério
Além disso, pela primeira vez, a negociação da Vale - maior mineradora do setor no mundo - com os clientes asiáticos não será feita em base anual, como o de costume. A ideia é de que os termos sejam revisados trimestralmente. Assim, o preço pode subir ainda mais ao longo do ano. "Essa proposta deve se mostrar benéfica ao longo do tempo. É similar ao que aconteceu com o início do mercado de petróleo", explica Nick Robinson, gerente de investimentos em ações para mercados emergentes da escocesa Aberdeen, maior da Escócia.
Para ele, a Vale é "provavelmente a melhor companhia para aproveitar o aumento dos preços". A disparada das estimativas é uma questão de oferta e demanda. "Está faltando o minério. Hoje, a demanda anual é de 1,32 bilhão de toneladas de minério de ferro. A oferta é de só 1 bilhão", conta Max Bueno, analista de investimento da corretora Spinelli.
Mas não é só a Vale que participa da festa. A MMX, apesar de ainda de produzir pouco, possui reservas enormes que agora passam a valer ainda mais. Além delas, aparecem as siderúrgicas, como a CSN e a Usiminas. "A CSN é autossuficiente em minério, mas já vende bastante para a China e eles ainda podem fazer uma venda de ações da empresa de mineração. Eles têm um minério de alta qualidade", aponta Felipe Miranda, analista da Empiricus Independent Research.
O bonde já passou?
Para os analistas, a resposta é não. O analista José Cataldo, da Bradesco Corretora, fez uma análise sobre a possível resposta das ações da Vale para um aumento de preços em torno de 100%. O preço-alvo da corretora, que era de R$ 62,40 por ação, saltou para R$ 87. Ou seja, considerando que as ações encerraram a quarta-feira (24) vendidas a R$ 48,50, há um potencial de valorização adicional de 80%.
"A CSN vai ganhar duas vezes, uma no excedente e outra no repasse do preço do aço, que vai ficar mais caro. Além disso, ela tem a logística", sugere Miranda. Para a Usiminas a expectativa é mais modesta. A empresa não é autossuficiente, mas certamente irá sofrer menos do que as concorrentes que não possuem operações de mineração.