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BNDES já vendeu este ano R$ 3,5 bilhões em ações

Na outra ponta, o banco desembolsou apenas R$ 160 milhões para comprar ações, ou seja, as vendas têm sido maiores do que os investimentos

Dados do site do BNDES apontam a Petrobrás como destaque nas vendas (Nacho Doce/Reuters)

Dados do site do BNDES apontam a Petrobrás como destaque nas vendas (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de outubro de 2017 às 08h52.

Rio de Janeiro - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aproveitou as condições de mercado neste ano para resgatar investimentos em participações acionárias.

Até ontem, a instituição de fomento acumulou cerca de R$ 3,5 bilhões em vendas de participações em empresas neste ano. Na outra ponta, o BNDES desembolsou apenas R$ 160 milhões para comprar ações, ou seja, as vendas têm sido maiores do que os investimentos.

A diretora de mercado de capitais do banco, Eliane Lustosa, negou que seja uma estratégia para gerar caixa, disse que nada será vendido "na bacia das almas", mas destacou que "não existe ativo intocável". Maior investidor institucional do País, o BNDES tem R$ 68,6 bilhões em ações, segundo seu balanço financeiro.

Dados do site do BNDES apontam a Petrobrás como destaque nas vendas. A participação do banco no capital total da petroleira caiu de 17,1% em 2016 para 16,5% no fechamento do segundo semestre deste ano, quando a fatia estava avaliada em R$ 27,3 bilhões, segundo o balanço financeiro.,

Outras participações que caíram foram na fabricante de autopeças Iochpe (de 9,1% para 6,0%), na geradora de eletricidade eólica Renova Energia (de 7,7% para 6,0%) e na fabricante de medicamentos Biomm (de 14,0% para 12,2%).

"Hoje, não existe na carteira do banco nenhuma ação que seja estratégica. Em todas as nossas participações, uma vez cumprido o nosso papel, a gente pode e deve buscar liquidez. Isso não tem a ver com a necessidade de recursos, tem a ver com uma gestão eficiente dos recursos", disse Eliane.

Diante da necessidade de o governo diminuir a dívida pública, o BNDES já antecipou R$ 50 bilhões este ano. Mais R$ 130 bilhões foram pedidos para 2018. Em artigo publicado em junho no Broadcast/Estadão, Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC) e assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas (FGV), defendeu a venda das ações do banco para devolver para o Tesouro.

Ajuda

Por escrito, Werlang disse que mantém a posição, ressalvando que não tinha dados sobre vendas recentes: "O BNDES não deveria ter carteira de ações. Isso é parte de um passado que deveria já ter sido deixado de lado. Além do mais, a carteira é de ações de empresas maduras, que não precisam de ajuda governamental".

O economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, também vem defendendo mais devoluções por parte do BNDES, mas vê esse movimento como algo separado da venda da carteira de ações. O banco não pode ter uma meta de venda de ativos, pois as operações de redução da carteira precisam de justificativa técnica e devem render lucro, com pareceres técnicos justificando. "Não dá para conciliar esse tipo de timing com o timing do repagamento (ao Tesouro)", disse o economista.

Isso não quer dizer que as vendas de ações não devam continuar, pois "não faz muito sentido" o BNDES ter grandes fatias em grandes empresas privadas. Para Kawall, o foco do banco no mercado deveria ser atuar menos no segmento de participação acionária e mais no segmento de títulos de dívida.

Eliane, do BNDES, disse que a diretriz de investimentos em participações acionárias já foi reformulada, conforme a política operacional instituída em janeiro. O foco agora está em operações menores, com caráter de inovação e capacidade de desenvolver o mercado. Nessa diretriz, o objetivo não é ficar para sempre com as ações. "Ativo no qual a gente já cumpriu o papel, que tem liquidez e tem preço, a gente vai desinvestir", afirmou.

Em paralelo à nova diretriz de investimentos, a diretoria do BNDES aprovou semana passada a construção de um código de "stewardship" (investimento responsável), com princípios e regras que vão pautar sua atuação como investidor institucional. O código deverá estar pronto até o fim de 2018.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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