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Barclays sugere venda de dívida da Usiminas devido a importados

O crescimento das importações de aço do Brasil limitou a capacidade da Usiminas de elevar seus preços

A siderúrgica mineira produz cerca de 50% do minério que utiliza (Nelio Rodrigues/Agência Primeiro Plano/Veja)

A siderúrgica mineira produz cerca de 50% do minério que utiliza (Nelio Rodrigues/Agência Primeiro Plano/Veja)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2012 às 09h04.

Nova York - A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA, segunda maior siderúrgica do país, está tendo o pior desempenho no mercado de dívida na comparação com a ArcelorMittal desde maio de 2009 com a crescente concorrência com produtos importados afetando os lucros.

O rendimento dos títulos de dívida em dólar da Usiminas com vencimento em 2018 caiu 33 pontos-base este ano, em comparação com uma queda de 102 pontos-base de papéis com prazo semelhante da ArcelorMittal, maior produtora de aço do mundo. Os títulos da Usiminas oferecem rendimento de 5,15 por cento, ou 19 pontos- base menos do que os da ArcelorMittal. O diferencial de rendimento encolheu de 173 pontos-base, ou 1,73 ponto percentual, em novembro, segundo dados da Bloomberg.

O crescimento das importações de aço da maior economia da América Latina limitou a capacidade da Usiminas de elevar seus preços, ao mesmo tempo em que um aumento de 20 por cento desde outubro no custo do minério de ferro tornou a produção do metal mais cara. A siderúrgica mineira produz cerca de 50 por cento do minério que utiliza, menos que sua concorrente Cia. Siderúrgica Nacional SA.

“Vemos a Usiminas como a siderúrgica brasileira mais fraca em termos de fundamentos e, em comparação à CSN e à Gerdau, a geração de Ebitda foi a mais afetada pelas adversidades do setor e foi a mais lenta a se recuperar”, disse Christopher Buck, analista do Barclays Plc. em entrevista por telefone de Nova York. “As dívidas de siderúrgicas brasileiras são caras na comparação com seus pares no mundo e investidores podem achar melhores oportunidades em outros mercados.”

Queda do lucro

Os bônus da Usiminas pagam 84 pontos-base a mais do que a dívida pública brasileira de prazo similar, segundo dados compilados pela Bloomberg. A empresa tem classificação de risco BBB- pela Standard & Poor’s, um nível abaixo da nota soberana e em linha com a da ArcelorMittal. Títulos da Gerdau SA, maior siderúrgica do país, denominados em dólar e com vencimento em 2017 rendem 5,14 por cento, enquanto os da CSN de 2019 pagam 5,56 por cento.

Em comunicado enviado por e-mail, a Usiminas disse que “sua dívida tem um perfil adequado” e está “em linha com empresas do mesmo porte”.

Giles Read, porta-voz da ArcelorMittal em Londres, se recusou a fazer comentários para esta reportagem.

A moeda brasileira se valorizou 33 por cento em relação ao dólar desde o fim de 2008, barateando o aço importado.

A Usiminas informou que o lucro líquido desabou 80 por cento para R$ 103 milhões no terceiro trimestre, diante da queda da produção de aço bruto e da retração de 7,4 por cento na receita líquida. A margem de lucro da operação de aço encolheu para 3 por cento, comparado a 18 por cento um ano antes.


Resultados afetados

O preço do minério com teor de 62 por cento de ferro entregue no porto chinês de Tianjin subiu de US$ 116,90 por tonelada em outubro para US$ 139,80.

Os resultados da Usiminas “foram afetados por preços médios mais baixos, custos maiores de matéria-prima e volumes menores”, disse Daniel Sensel, analista de dívida do JPMorgan, em relatório a clientes em 23 de janeiro. “Esperamos que os custos altos da matéria-prima, estoques de aço elevados e pressão de preços continuem afetando os resultados.”

A Usiminas provavelmente irá perder o grau de investimento após S&P e Moody’s Investors Service terem colocado as notas para a empresa em perspectiva negativa no ano passado, disse Sensel. Ele tem recomendação “underweight”, ou peso abaixo da média do mercado, para a Usiminas e se recusou a fazer comentários adicionais.

‘Positivo’

“Existe excesso de capacidade, o que empurrou a produção extra do mundo para o Brasil, com a ajuda do câmbio”, disse Barbara Mattos, analista da Moody’s em São Paulo, em entrevista por telefone. “A companhia foi bastante impactada pela concorrência com os importados, teve resultados operacionais fracos por causa disso e seu poder de definição de preços no mercado doméstico diminuiu”.

Jay Djemal, diretor da Fitch Ratings, disse que o plano da Usiminas de expandir a produção de minério de ferro é “positivo”. A siderúrgica quer elevar a capacidade de mineração de 8 milhões de toneladas em 2011 para 29 milhões de toneladas anuais em 2014, de acordo com o Barclays.

A Fitch tem perspectiva estável para a classificação de risco BBB- da Usiminas.

“Se eles forem bem-sucedidos, o perfil de crédito e a estrutura de capital da empresa vão acabar melhorando”, disse Djemal em entrevista por telefone de Chicago. “É definitivamente positivo.”

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