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Bancos estrangeiros destacam protecionismo do governo

Único ponto em que país vence “por um nariz de diferença” México é no preço das ações, pela perspectiva de crescimento de lucros nos próximos anos, diz JPMorgan

Intervenções do governo na economia ocorrem há muitos anos, sendo responsáveis pela criação de líderes setoriais por meio de fortes investimentos do BNDES ou incentivos à fusões via mudanças de regras. Essa atuação ganhou destaque no governo Dilma Rousseff (REUTERS/Paulo Whitaker)
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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2013 às 19h32.

O intervencionismo do governo brasileiro na economia é destaque em dois relatórios de bancos internacionais que falam do país para investidores do mundo inteiro, divulgados na semana passada. Em um deles, um extenso relatório especial do britânico Barclays resumindo as oportunidades de investimento no país, as intervenções constantes do governo na economia são o primeiro tópico, servindo de alerta aos investidores. Em outro relatório, do Bank of America Merrill Lynch, as intervenções são apontadas como o motivo para a queda dos investimentos diretos estrangeiros no Brasil.

Marca registrada

Já o JPMorgan, em conferência com investidores hoje pela manhã sobre Brasil e México, destacou que o intervencionismo se tornou “a marca registrada do governo brasileiro do ano passado para cá”. O intervencionismo foi um dos motivos, ao lado das perspectivas macroeconômicas, para justificar a escolha do México como melhor opção na América Latina para os investidores. “Em 17 pontos analisados, incluindo perspectivas macroeconômicas, mercados e valor das ações, o México bate o Brasil em 11″, afirma Emy Shaio Cherman, estrategista de ações do JPMorgan para o Brasil. O intervencionismo do governo e ausência de reformas de longo prazo estariam contribuindo para reduzir o investimento e o crescimento sustentável do país.

Ações ainda baratas

O único ponto em que o Brasil vence “por um nariz de diferença” o México é no preço das ações, pela perspectiva de crescimento dos lucros nos próximos anos. Já o crescimento econômico seguirá fraco e o JPMorgan revisou a previsão de crescimento econômico do país para este ano, de 3% para 2,5%. O potencial de crescimento de longo prazo do país também foi revisado para baixo, de 3,5% a 4% ao ano para 3% a 3,5%. Para Emy Shaio, não seria surpresa se a agência de risco Fitch reduzisse a nota de crédito brasileira no médio prazo.

O banco americano tem recomendação overweight (compra) para o México e neutro (manter) para o Brasil.


Campeões nacionais e mudanças

As intervenções do governo na economia ocorrem há muitos anos, sendo responsáveis pela criação de líderes setoriais por meio de fortes investimentos do BNDES ou incentivos à fusões via mudanças de regras, como no caso da telefonia. Mas essa atuação ganhou destaque no governo Dilma Rousseff, especialmente no ano passado, quando o governo segurou os reajustes dos preços dos combustíveis da Petrobras e mudou as regras das empresas de energia elétrica sem qualquer negociação.

Depois, surgiu a tentativa de estabelecer um teto para os ganhos das empresas privadas nas concessões públicas, o que acabou atrasando os leilões e despertou críticas até do ex-ministro e guru do governo, Delfim Netto.

Destino intervencionista

Em seu relatório especial sobre o Brasil, o Barclays destaca, em um capítulo intitulado “O destino do intervencionismo”, que, após sete anos de crescimento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) per capta, o episódio de aceleração da economia brasileira desvaneceu-se depois de 2010.

Para o banco, as reformas microeconômicas implementadas nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e termos de troca com o resto do mundo extremamente positivos foram os motores do crescimento acelerado. “Porém, a recente inabilidade para retomar o ciclo de investimentos – enquanto outras economias da América Latina que enfrentam as mesmas incertezas entregam taxas de crescimento muito maiores – indicam que idiossincrasias estão atuando”, informa o relatório. “Forte protecionismo, intervencionismo e a falta de um programa de crescimento econômico de longo prazo estão pesando negativamente nas decisões de investimentos”, conclui o Barclays.


Além disso, a ênfase no crescimento de curto prazo tem limitado a capacidade do governo de responder a problemas estruturais.
Apesar de não haver uma mudança formal nas políticas econômicas em anos recentes, continua o Barclays, o modus operandi do governo brasileiro na prática mudou. “O novo normal no Brasil é uma combinação de juros baixos, um menor superávit primário associados a um nível mais alto de depreciação da moeda”, avalia o banco, que divulgou o relatório antes do Banco Central (BC) elevar os juros em 0,5 ponto percentual na semana passada.

A fraqueza da economia mundial permite essas políticas sem grande pressão inflacionária, observa o Barclays. O grande risco que o banco avaliava é o sinal de que o BC estava aceitando uma inflação maior em troca de mais crescimento também, o que seguiria pesando nas decisões dos empresários e segurando o crescimento.

Investimento estrangeiro mais fraco

Em outro relatório, também da semana passada, o americano Bank of America Merrill Lynch destaca a queda dos investimentos diretos estrangeiros no Brasil. Segundo o banco, os investimentos estrangeiros “perderam seu ímpeto devido à atual incerteza legal (uma consequência das várias intervenções promovidas pelo governo em 2012) e esfriaram a taxa de crescimento do país, e poderão ainda tornar-se um problema em um cenário de aumento do déficit externo de contas correntes”, afirma o banco.

Segundo o banco, o nível de crescimento do investimento direto estrangeiro seguirá à redução da capacidade de crescimento da economia brasileira, que teria caído de 4% para 3%. “Quando comparamos o PIB brasileiro e os investimentos diretos em 12 meses desde 1995, fica claro que o crescimento econômico afeta as perspectivas de investimento no país”, diz o relatório. “Há uma correlação de 65% entre as duas variáveis, sugerindo que um declínio do crescimento do PIB leva a uma desaceleração do investimento direto também”, afirma o Bank of América.


Para o banco, o investimento direto é um indicador de decisões tomadas no passado, por isso leva mais tempo para responder ao desaquecimento da economia.

Pico em 2011

Segundo o Bank of América, os investimentos diretos melhoraram nos últimos dois meses, mas em 12 meses continuam perdendo força. Segundo os dados do Banco Central brasileiro, o investimento direto em abril atingiu US$ 5,72 bilhões, acima das expectativas. Mas o acumulado em 12 meses recuou do pico de setembro de 2011, de US$ 76,3 bilhões, para US$ 64,1 bilhão. A expectativa do Bank of America é que o investimento direto feche este ano em US$ 53,6 bilhões, para US$ 60 bilhões no ano passado.

As compras de bens de capital, ou seja, o investimento em máquinas, representaram US$ 49,7 bilhões no investimento direto em 12 meses, ou 75,8%, mas abaixo dos US$ 62,6 bilhões do pico de novembro de 2011, quando representaram 83% do total. Os empréstimos entre companhias também caíram.

Mais concentrado e voltado para serviços

O banco nota ainda dois movimentos importantes nos últimos três anos, a concentração das origens dos investimentos estrangeiros e a maior participação do setor de serviços. Em 2010, segundo o Bank of America, os 10 países que mais investiram o Brasil representavam pouco mais de 70% do total, liderados por Luxemburgo, com 16,8%. No último ano, porém, Luxemburgo e Holanda representaram mais de 50% do total. “Essa concentração acrescenta riscos ao nível atual de investimento estrangeiro direto, particularmente dadas as questões na eurozona que podem levar a uma queda mais pronunciada nas entradas no Brasil”, diz o relatório.


Já o setor de serviços cresceu sua participação como destino dos investimentos estrangeiros, de 28% do total em 2010, com US$ 12,7 bilhões, para 52% em 2012. Caíram as participações da indústria (de 40,5% para 36,7%) e agricultura, mineração e agropecuária (de 31% para 11%).

De olho nos leilões

O Bank of America diz que deve-se acompanhar de perto os próximos leilões de concessões no segundo semestre, que incluem áreas de gás e petróleo e vários ativos de infraestrutura. Os leilões “tornaram-se muito importantes devido aos riscos citados”.

O banco lembra que o governo continua pressionando para baixo as taxas de retorno dos projetos, o que tem reduzido o interesse dos investidores, mas que isso pode mudar e as autoridades podem se tornar mais tolerantes com retornos maiores. ”Um leilão de sucesso neste ano é uma condição necessária para um aumento dos investimentos no país, e a participação dos estrangeiros darão uma boa indicação do apetite internacional por exposição ao Brasil”, diz o relatório.

Irão a leilão novos blocos do pré-sal em novembro, nove rodovias em setembro, alguns portos em outubro e aeroportos em setembro e outubro.

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Marca registrada

Já o JPMorgan, em conferência com investidores hoje pela manhã sobre Brasil e México, destacou que o intervencionismo se tornou “a marca registrada do governo brasileiro do ano passado para cá”. O intervencionismo foi um dos motivos, ao lado das perspectivas macroeconômicas, para justificar a escolha do México como melhor opção na América Latina para os investidores. “Em 17 pontos analisados, incluindo perspectivas macroeconômicas, mercados e valor das ações, o México bate o Brasil em 11″, afirma Emy Shaio Cherman, estrategista de ações do JPMorgan para o Brasil. O intervencionismo do governo e ausência de reformas de longo prazo estariam contribuindo para reduzir o investimento e o crescimento sustentável do país.

Ações ainda baratas

O único ponto em que o Brasil vence “por um nariz de diferença” o México é no preço das ações, pela perspectiva de crescimento dos lucros nos próximos anos. Já o crescimento econômico seguirá fraco e o JPMorgan revisou a previsão de crescimento econômico do país para este ano, de 3% para 2,5%. O potencial de crescimento de longo prazo do país também foi revisado para baixo, de 3,5% a 4% ao ano para 3% a 3,5%. Para Emy Shaio, não seria surpresa se a agência de risco Fitch reduzisse a nota de crédito brasileira no médio prazo.

O banco americano tem recomendação overweight (compra) para o México e neutro (manter) para o Brasil.


Campeões nacionais e mudanças

As intervenções do governo na economia ocorrem há muitos anos, sendo responsáveis pela criação de líderes setoriais por meio de fortes investimentos do BNDES ou incentivos à fusões via mudanças de regras, como no caso da telefonia. Mas essa atuação ganhou destaque no governo Dilma Rousseff, especialmente no ano passado, quando o governo segurou os reajustes dos preços dos combustíveis da Petrobras e mudou as regras das empresas de energia elétrica sem qualquer negociação.

Depois, surgiu a tentativa de estabelecer um teto para os ganhos das empresas privadas nas concessões públicas, o que acabou atrasando os leilões e despertou críticas até do ex-ministro e guru do governo, Delfim Netto.

Destino intervencionista

Em seu relatório especial sobre o Brasil, o Barclays destaca, em um capítulo intitulado “O destino do intervencionismo”, que, após sete anos de crescimento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) per capta, o episódio de aceleração da economia brasileira desvaneceu-se depois de 2010.

Para o banco, as reformas microeconômicas implementadas nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e termos de troca com o resto do mundo extremamente positivos foram os motores do crescimento acelerado. “Porém, a recente inabilidade para retomar o ciclo de investimentos – enquanto outras economias da América Latina que enfrentam as mesmas incertezas entregam taxas de crescimento muito maiores – indicam que idiossincrasias estão atuando”, informa o relatório. “Forte protecionismo, intervencionismo e a falta de um programa de crescimento econômico de longo prazo estão pesando negativamente nas decisões de investimentos”, conclui o Barclays.


Além disso, a ênfase no crescimento de curto prazo tem limitado a capacidade do governo de responder a problemas estruturais.
Apesar de não haver uma mudança formal nas políticas econômicas em anos recentes, continua o Barclays, o modus operandi do governo brasileiro na prática mudou. “O novo normal no Brasil é uma combinação de juros baixos, um menor superávit primário associados a um nível mais alto de depreciação da moeda”, avalia o banco, que divulgou o relatório antes do Banco Central (BC) elevar os juros em 0,5 ponto percentual na semana passada.

A fraqueza da economia mundial permite essas políticas sem grande pressão inflacionária, observa o Barclays. O grande risco que o banco avaliava é o sinal de que o BC estava aceitando uma inflação maior em troca de mais crescimento também, o que seguiria pesando nas decisões dos empresários e segurando o crescimento.

Investimento estrangeiro mais fraco

Em outro relatório, também da semana passada, o americano Bank of America Merrill Lynch destaca a queda dos investimentos diretos estrangeiros no Brasil. Segundo o banco, os investimentos estrangeiros “perderam seu ímpeto devido à atual incerteza legal (uma consequência das várias intervenções promovidas pelo governo em 2012) e esfriaram a taxa de crescimento do país, e poderão ainda tornar-se um problema em um cenário de aumento do déficit externo de contas correntes”, afirma o banco.

Segundo o banco, o nível de crescimento do investimento direto estrangeiro seguirá à redução da capacidade de crescimento da economia brasileira, que teria caído de 4% para 3%. “Quando comparamos o PIB brasileiro e os investimentos diretos em 12 meses desde 1995, fica claro que o crescimento econômico afeta as perspectivas de investimento no país”, diz o relatório. “Há uma correlação de 65% entre as duas variáveis, sugerindo que um declínio do crescimento do PIB leva a uma desaceleração do investimento direto também”, afirma o Bank of América.


Para o banco, o investimento direto é um indicador de decisões tomadas no passado, por isso leva mais tempo para responder ao desaquecimento da economia.

Pico em 2011

Segundo o Bank of América, os investimentos diretos melhoraram nos últimos dois meses, mas em 12 meses continuam perdendo força. Segundo os dados do Banco Central brasileiro, o investimento direto em abril atingiu US$ 5,72 bilhões, acima das expectativas. Mas o acumulado em 12 meses recuou do pico de setembro de 2011, de US$ 76,3 bilhões, para US$ 64,1 bilhão. A expectativa do Bank of America é que o investimento direto feche este ano em US$ 53,6 bilhões, para US$ 60 bilhões no ano passado.

As compras de bens de capital, ou seja, o investimento em máquinas, representaram US$ 49,7 bilhões no investimento direto em 12 meses, ou 75,8%, mas abaixo dos US$ 62,6 bilhões do pico de novembro de 2011, quando representaram 83% do total. Os empréstimos entre companhias também caíram.

Mais concentrado e voltado para serviços

O banco nota ainda dois movimentos importantes nos últimos três anos, a concentração das origens dos investimentos estrangeiros e a maior participação do setor de serviços. Em 2010, segundo o Bank of America, os 10 países que mais investiram o Brasil representavam pouco mais de 70% do total, liderados por Luxemburgo, com 16,8%. No último ano, porém, Luxemburgo e Holanda representaram mais de 50% do total. “Essa concentração acrescenta riscos ao nível atual de investimento estrangeiro direto, particularmente dadas as questões na eurozona que podem levar a uma queda mais pronunciada nas entradas no Brasil”, diz o relatório.


Já o setor de serviços cresceu sua participação como destino dos investimentos estrangeiros, de 28% do total em 2010, com US$ 12,7 bilhões, para 52% em 2012. Caíram as participações da indústria (de 40,5% para 36,7%) e agricultura, mineração e agropecuária (de 31% para 11%).

De olho nos leilões

O Bank of America diz que deve-se acompanhar de perto os próximos leilões de concessões no segundo semestre, que incluem áreas de gás e petróleo e vários ativos de infraestrutura. Os leilões “tornaram-se muito importantes devido aos riscos citados”.

O banco lembra que o governo continua pressionando para baixo as taxas de retorno dos projetos, o que tem reduzido o interesse dos investidores, mas que isso pode mudar e as autoridades podem se tornar mais tolerantes com retornos maiores. ”Um leilão de sucesso neste ano é uma condição necessária para um aumento dos investimentos no país, e a participação dos estrangeiros darão uma boa indicação do apetite internacional por exposição ao Brasil”, diz o relatório.

Irão a leilão novos blocos do pré-sal em novembro, nove rodovias em setembro, alguns portos em outubro e aeroportos em setembro e outubro.

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