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Aumenta endividamento de curto prazo após queda do Ibovespa

O estoque de dívida de curto prazo entre as empresas negociadas no mercado deu um salto de 25% no final do primeiro trimestre em relação a um ano antes

O Ibovespa acumula uma queda de 5,2% em reais neste ano (Yasuyoshi Chiba/AFP)

O Ibovespa acumula uma queda de 5,2% em reais neste ano (Yasuyoshi Chiba/AFP)

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Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2012 às 08h43.

São Paulo - Empresas como a Transmissora Aliança de Energia Elétrica SA e a Iochpe-Maxion SA passam a aumentar sua dependência da dívida com vencimento em até um ano em meio à queda do Ibovespa.

As notas promissórias, títulos que têm prazo máximo de um ano, representaram 19,5 por cento das operações no mercado de capitais do país do início do ano até maio, contra 14,6 por cento no mesmo período de 2011. O estoque de dívida de curto prazo entre as empresas negociadas no mercado deu um salto de 25 por cento no final do primeiro trimestre em relação a um ano antes, para R$ 129 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. No México, a dívida corporativa com prazo de até um ano estava em 235 bilhões de pesos (R$ 34,8 bilhões) ao final do primeiro trimestre, ou 3,6 por cento a menos que no mesmo período do ano passado.

Empresas brasileiras estão aumentando as emissões de notas promissórias enquanto o agravamento da crise de dívida na Europa reduz as fontes de financiamento de prazo mais longo nos mercados de empréstimos, renda fixa e de ações. O Ibovespa acumula uma queda de 5,2 por cento em reais este ano, o segundo pior desempenho na América Latina, só sendo superado pela baixa da bolsa da Argentina. As ofertas de títulos de empresas brasileiras no mercado externo caíram 75 por cento neste trimestre em relação aos primeiros três meses do ano.

“Algumas companhias que querem fazer uma emissão pública inicial de ações ou uma nova oferta estão tomando dívida de curto prazo para esperar por um melhor momento de mercado”, disse Leandro Miranda, responsável pela área de renda fixa do Banco Bradesco SA, em entrevista em São Paulo. O banco é líder no ranking de originação no mercado local. “Mesmo nas emissões de dívida de longo prazo, os clientes pedem a inclusão de uma cláusula que permite resgate antecipado, pois dessa forma eles poderão vender ações no exato momento em que perceberem uma janela de oportunidade.”

Aquisição da Taesa

A Transmissora Aliança de Energia, controlada pela maior empresa de eletricidade do país por valor de mercado, vendeu um total de R$ 905 milhões em notas promissórias com vencimento em um ano, a uma taxa de 104 por cento do Certificado de Depósito Interbancário, ou cerca de 8.38 por cento, de acordo com fato relevante de 25 de maio. Títulos públicos de prazo similar pagam 7.72 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Taesa, sediada no Rio de Janeiro, vai usar os recursos levantados na oferta para financiar a aquisição da fatia de 50 por cento da Abengoa SA na União de Transmissoras de Energia Elétrica SA por R$ 863,5 milhões.

“Conseguimos levantar o dinheiro rapidamente, a um custo pós-fixado que consideramos atraente e que nos permite tirar vantagem de um cenário de queda no CDI”, afirmou Paulo Ferreira, gerente de relações com investidores, em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. A Taesa pretende substituir os papéis por instrumentos de prazo mais longo em “momento oportuno. Uma companhia com as características da Taesa consegue acessar o mercado de dívida local mesmo em tempos mais difíceis”, ele disse.


Cortes de juros

O Banco Central reduziu o juro básico em 4 pontos percentuais desde agosto para o menor nível histórico de 8.5 por cento para proteger a economia da crise financeira na Europa.

As empresas do país emitiram R$ 9 bilhões em notas promissórias do início do ano até maio, comparado a um total de R$ 7,5 bilhões um ano antes, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A maior parte das notas promissórias no mercado fica no balanço dos bancos.

A Iochpe-Maxion SA, fabricante de autopeças sediada em São Paulo que abandonou em 5 de junho planos de vender ações no mercado, informou que elevou a dívida de curto prazo em aproximadamente US$ 1 bilhão no ano passado para financiar as aquisições do Grupo Galaz SA, do México, e da Hayes Lemmerz International, sediada em Akron, no Estado americano de Ohio.

A companhia planejava vender ações para “reduzir a alavancagem e dar continuidade a nosso plano de crescimento internacional e não para refinanciar dívida”, disse Luis Fernando Abreu, gerente de relações com investidores, em entrevista por telefone de São Paulo. “Nós estamos perseguindo uma estratégia agressiva de crescimento internacional.” A empresa refinanciou sua dívida de longo prazo com um empréstimo de nove anos do Banco do Brasil SA, Itau Unibanco Holding SA e Banco Votorantim SA, ele disse.

"Bolha de crédito"

As ofertas de ações no país desabaram 59 por cento no ano até 25 de junho para US$ 3,4 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As empresas venderam US$ 6 bilhões em bônus internacionais no segundo trimestre, comparados a um total de US$ 13,1 bilhões um ano antes.

Para Paulo Rogerio Caffarelli, diretor responsável pelas áreas de private banking, atacado e negócios internacionais do Banco do Brasil SA, o aumento das obrigações de curto prazo não criará riscos de refinanciamento para as companhias brasileiras, que estão assumindo mais dívidas para financiar investimentos relacionados à Copa do Mundo e às Olimpíadas.

“A taxa de inadimplência no crédito para empresas está baixa, estável e não há nenhum sinal de problemas nos balanços dos grandes bancos brasileiros”, disse Caffarelli em entrevista por telefone de Brasília. “Não há risco de refinanciamento e nem bolha de crédito para empresas.”

A taxa de inadimplência para pessoa jurídica se manteve em 4,1 por cento em abril, de acordo com os últimos dados do BC. A taxa estava em 3,5 por cento no fim de 2010.

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