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Até onde vai o rali do Ibovespa?

Bolsa brasileira já subiu mais de 40% desde as mínimas do ano, apesar de o país ainda conviver com o pico da epidemia

Bull market: pela teoria, bolsa brasileira já está em tendência de alta (Adam Gault/Getty Images)

Bull market: pela teoria, bolsa brasileira já está em tendência de alta (Adam Gault/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 27 de maio de 2020 às 14h12.

Última atualização em 27 de maio de 2020 às 14h38.

O otimismo com a redução das quarentenas nas maiores economias do mundo tem provocado valorizações intensas nas bolsas de valores. Nos Estados Unidos, onde todos os estados já iniciaram processos de reabertura, os principais índices acionários estão a menos de 10% das máximas históricas. O composto de Nasdaq, com maior participação de empresas de tecnologia, já acumula ganhos em 2020.

A expectativa dos investidores é de que a redução do isolamento social aumente a velocidade da recuperação econômica. “O mercado sempre precifica o futuro de forma um tanto quanto exagerada”, disse Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos.

No Brasil, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, também avança de forma acelerada. Desde as mínimas do ano, quando tocou 61.690 pontos, o índice já subiu 40,8% e caminha, nesta quarta-feira, 27, para fechar na maior pontuação em 76 dias. Em teoria, tal valorização nos coloca em tendência de alta, já que para isso bastaria uma valorização de 20% em relação à pontuação minima. Mas, diferente do restante do mundo, o país ainda vive seus momentos mais críticos da epidemia. Somente na véspera, foram confirmados pelo Ministério da Saúde mais 16.324 casos e 1.039 óbitos, totalizando 391.222 infectados e 24.512 mortos pela doença. Segundo um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o pico da doença no Brasil deve ocorrer só em junho.

Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital modalmais, acredita que uma segunda onda de contaminação possa fazer com o preço dos ativos voltem a cair e vê com cautela o afrouxamento do isolamento social neste momento. “Aqui a gente corre o risco de ter reaberto a economia ainda com primeira onda em aceleração. O risco é muito maior”, afirma. Segundo ele, se a situação “ficar absolutamente fora do controle” podemos, até mesmo, voltar às mínimas do ano.

Por outro lado, a possibilidade de uma vacina contra o coronavírus ser descoberta é tida como um dos principais gatilhos para novas valorizações nas bolsas, já que poderia evitar uma segunda onda de contaminação. “Daria para [o Ibovespa] subir uns 30% até o fim do ano”, estima Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Sem nenhuma vacina com eficácia comprovada, a mera notícia de que testes serão feitos tem feito as ações subirem, como ocorreu na terça-feira, após a empresa americana Novavax anunciar testagem em seres humanos.

Sidnei Nehme, economista e diretor executivo da NGO, vê “excessos nas repercussões” sobre potenciais vacinas tanto no mercado de câmbio quanto no acionário. Segundo ele, “o momento requer visão mais cética e rigorosa”.

Nehme também avalia que as reações positivas no mercado brasileiro estão sem relação com a realidade do país. “O Brasil das reformas continua sendo ‘sonhado’, mas a efetivação pode ser mais desafiadora ao governo pela crescente robustez de conflitos jurídicos, políticos, e alinhamentos fundamentais em torno da dicotomia entre saúde e economia”, afirmou em relatório desta manhã.

Por outro lado, Cassiano Leme, presidente da Constância Investimentos, vê a recuperação das ações como um processo natural, tendo em vista que a bolsa brasileira foi uma das que mais caíram no mundo. Em dólar, o Ibovespa chegou a acumular queda de 58% no ano. “Muitos fundos foram obrigados a vender posição em ações por causa do aumento da volatilidade. O fato de ter caído tanto estimula a entrada”, comenta.

Além disso, Leme também elenca a taxa de juros na mínima histórica e a redução das incertezas como fatores que ajudaram a impulsionar a alta. “Se não se sabe o que pode acontecer, não tem como saber se [o ativo] está caro ou barato. Então, o investidor não compra. A recuperação da bolsa está relacionada ao aumento das informações disponíveis”, disse.

Com base em análises técnicas, Bandeira avalia que, agora que passou dos 84 mil pontos, o Ibovespa possa chegar com certa facilidade aos 92 mil pontos, mas não acredita que tenha força para voltar aos 119 mil pontos alcançados em fevereiro.

“Os EUA falam em vacina até o fim do ano. Dentro dessa expectativa, a gente deve ter um quarto trimestre melhor e começar 2021 mais acelerado. Mas aqui tudo deve ser em menor escala, porque temos que endereçar melhor algumas questões internas, como reformas, marcos regulatórios e privatizações”, afirmou Bandeira.

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