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Aprovar reformas é fiel da balança, diz S&P e Moody's

Segundo representantes, fatores como dívidas dos Estados e o reajuste de salários de funcionários e do Bolsa Família não mudam cenário de longo prazo


	Real: "ainda vemos grandes riscos de problemas políticos", diz especialista
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Real: "ainda vemos grandes riscos de problemas políticos", diz especialista (Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 6 de julho de 2016 às 22h08.

São Paulo - A atenção de grandes agências de classificação de risco em relação ao Brasil segue voltada para a capacidade do governo interino de aprovar propostas no Congresso para corrigir a deterioração fiscal do país, e não tanto para medidas adotadas que aumentam o rombo orçamentário no curto prazo.

Segundo representantes da Moody's e da Standard & Poor's, fatores como a renegociação das dívidas dos Estados e o reajuste de salários de funcionários públicos e do Bolsa Família, que tem rendido crescentes críticas ao governo do presidente interino Michel Temer, por piorarem ainda mais o buraco fiscal, não mudam o cenário de longo prazo.

"Já está dado que uma reversão para melhor da dinâmica da dívida pública brasileira vai demorar para acontecer, o que precisamos ver é qual o empenho na implementação das reformas de correção orçamentária propostas", disse à Reuters a analista da Moody's responsável pelo rating soberano do Brasil, Samara Maziad, referindo-se à proposta limitar por até 20 anos o aumento dos gastos públicos à inflação e à reforma na Previdência.

Essas medidas, segundo ela, criam a expectativa de um cenário melhor para a trajetória de endividamento como proporção do PIB, que chegou a 68,6 por cento em maio, segundo dados do Banco Central.

No cenário de estresse, que leva em conta a possibilidade do governo ter que capitalizar alguma estatal, a Moody's calcula que essa relação pode chegar a 80 por cento. "As decisões até agora eram de alguma forma previstas, não mudam estruturalmente o cenário", disse Samara.

A analista responsável pelo rating soberano do Brasil na S&P, Lisa Schineller, concorda que vai ser duro reverter a trajetória fiscal negativa e que a situação fiscal ficou ainda pior neste quase dois meses de governo interino, considerando que o déficit primário previsto para este ano foi elevado para 170,5 bilhões de reais.

Além disso, a expectativa é que o governo anuncie uma meta fiscal para o próximo ano muito próxima ao rombo deste ano. Para a analista da S&P, no entanto, Temer conseguiu formar uma equipe econômica robusta e o fiel de balança agora é realmente o apoio do Congresso para as reformas.

"Ainda vemos grandes riscos de problemas políticos, especialmente até a votação do impeachment (da presidente afastada Dilma Rousseff) e das consequências da Lava Jato", disse Lisa.

"Vamos esperar sinais mais claros de melhora". Os comentários refletem o quão atentas estão as agências à capacidade de Temer de aprovar medidas impopulares que dependem de ampla maioria no Congresso, numa economia que já enfrenta a maior recessão em cerca de um século.

Para a S&P e a Moody's, as medidas de contenção são vitais para estancar a piora fiscal, que levou o país a perder o grau de investimento e ser classificado dois degraus dentro da faixa especulativa, diante de um misto de forte recessão e crise política.

A Fitch, outra grande agência de rating, emitiu relatório na terça-feira afirmando que as iniciativas tomadas pelo governo Temer sugerem uma tentativa de controlar os gastos, mas podem não ser suficientes para alcançar uma rápida consolidação fiscal.

"A popularidade do governo Temer continua relativamente baixa e as investigações da Lava Jato são uma contínua fonte de distúrbios políticos. A tolerância pública à profunda austeridade fiscal pode ser limitada pela forte e prolongada contração econômica e pela alta do desemprego", destacou a Fitch em nota assinada pela diretora Shelly Shetty.

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