Alta do IOF causa recorde de juros e reverte efeito Serra
Mercado começa a ignorar possível benefício em vitória do tucano nas eleições por conta da guerra cambial travada pelo governo
Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2010 às 09h59.
Nova York - As taxas dos títulos prefixados do Tesouro Nacional de prazo mais longo estão tendo alta recorde esta semana por conta do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras para aplicações de estrangeiros em renda fixa. O efeito do IOF reverteu a queda causada pelo avanço do candidato da oposição à Presidência, Jose Serra, nas pesquisas eleitorais da semana passada.
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 subiu 48 pontos-base, ou 0,48 ponto percentual, nos últimos dois dias pra 11,97 por cento. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou o IOF pela segunda vez este mês para conter a valorização do real e defender-se do que descreveu como uma “guerra cambial” global para proteger exportadores.
O aumento do IOF de 4 por cento para 6 por centos para estrangeiros causou alta nas taxas das NTN-F por causa da crescente participação de investidores não residentes na dívida doméstica. O total de títulos denominados em real nas mãos de estrangeiros triplicou nos últimos três anos para US$ 89 bilhões, em parte devido a apostas que o Brasil reduziria o déficit público e também por causa do juro real, que é o segundo mais alto do mundo, inferior apenas ao da Croácia.
“O Brasil está dando um grande recado a nós estrangeiros donos dos títulos: Eles querem a gente longe da curva brasileira”, Jeremy Brewin, que administra US$ 2 bilhões em ativos de mercados emergentes na Aviva Investors em Londres, disse numa entrevista. “Isso é uma guerra cambial para eles, e Mantega reforçou a visão de que ele vai continuar se necessário. Serra pode criar um ambiente para reverter mais o estímulo fiscal, mas quando o mercado começa a vender, isso tende a engolir qualquer ideia positiva.”
Brewin, que na semana passada fez uma aposta no mercado de futuros de que uma vitória de Serra diminuiria os juros no Brasil, disse ontem que pode “rever” essa aposta nos próximos dias.
O rendimento nas NTN-F com vencimento em 2021 de 11,97 por cento ao final do dia de ontem é o mais alto desde 6 de agosto. A taxa das NTN-F com vencimento em 2017 avançou 44 pontos-base nos últimos dias para 11,88 por cento.
A depreciação eliminou todos os ganhos da semana passada, quando pesquisa Sensus mostrou que Serra havia diminuido a distância em relação a Dilma Rousseff, candidata do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para 4,6 pontos percentuais. Dilma, ex-ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, teve 47 por cento dos votos no primeiro turno em 3 de outubro, enquanto Serra levou 33 por cento.
Serra, que diminuiu gastos públicos como governador de São Paulo, prometeu cortar a folha de pagamento do setor público e renegociar preços em contratos governamentais. Já Dilma disse numa entrevista à TV Globo em 31 de agosto que promover cortes de gastos era um “crime”.
“Há um pouco de pânico no mercado, e as taxas estão estourando”, disse Ram Bala Chandran, um analista de moedas e juros para a América Latina do Citigroup, numa entrevista. “Se Serra começar a perder votos, podemos ver mais vendas na ponta longa da curva.”
A campanha de Serra se recusou a fazer comentários quando contatada ontem pela Bloomberg News. O Ministério da Fazenda se recusou a comentar num comunicado por e-mail.