Bolsas americanas: "Quando os investidores possuem uma ação que despencou 30% e um analista diz a eles que vai dobrar daqui a um ano, isso não tem muita credibilidade" (Reuters/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 30 de junho de 2022 às 09h14.
Seja por conta de uma ousadia louvável ou uma recusa em encarar a realidade, a maré baixa do mercado de ações deixou os analistas de Wall Street com previsões de preços que levarão mais do que um pouco de sorte para se tornarem realidade.
As maiores vítimas da liquidação, desde Peloton a Coinbase, vão dobrar de valor se você considerar os preços-alvo de analistas compilados pela Bloomberg. É a mesma história para uma série de ações devastadas cujas dificuldades parecem não abalar as estimativas.
A Novavax, desenvolvedora de vacina contra o coronavírus, está prestes a aumentar 193%, segundo as previsões. A incapacidade da Uber em obter lucro nos últimos quatro anos não deve impedi-la de saltar 129%, concordam seus analistas profissionais. Quem está chateado com o colapso de 90% da Carvana em 2022 pode se animar com o consenso dos especialistas de que o papel vai ter uma recuperação de 218%.
Tudo isso para dizer que a reprecificação brutal dos últimos seis meses foi seguida por uma revisão bem menos apressada das previsões dos analistas, deixando muitas ações com projeções que exigiriam uma duplicação ou triplicação de preço para serem alcançadas.
“Os investidores estão fartos demais de tudo isso para realmente acreditar nesse tipo de número”, disse Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research, que recentemente perguntou se os analistas estão “delirantes” ao aumentarem estimativas de lucros em meio a sinais de desaceleração econômica. “Quando os investidores possuem uma ação que despencou 30% e um analista diz a eles que vai dobrar daqui a um ano, isso não tem muita credibilidade.”
A liquidação de ações deixou 33 empresas do Russel 1000 com previsões para saltos de 100% ou mais, e há mais centenas de ações cujo consenso de analistas representa um ganho de 50%. Ao todo, após a queda de 21% do índice, o preço-alvo para as empresas está 32% acima do seu nível atual, contra 12% no início do ano.
A situação é parecida com baixas anteriores, inclusive em 2020, quando quase 300 empresas ficaram com previsões de que iriam dobrar, e 2009, quando o número era de pelo menos 100.