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A controlada da Odebrecht que remou contra a maré da Bolsa

Como a Braskem, controlada pela Odebrecht e Petrobras, superou todos os obstáculos de 2015 e se consolidou como uma das maiores altas do ano


	Carlos Fadigas da Braskem: só entre setembro e dezembro do ano passado as ações da companhia subiram mais de 88%
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Carlos Fadigas da Braskem: só entre setembro e dezembro do ano passado as ações da companhia subiram mais de 88% (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2016 às 07h01.

São Paulo – Se alguém tivesse previsto, no início de 2015, que no ano as ações da petroquímica Braskem (BRKM5) teriam a terceira maior valorização entre todos os papéis negociados na Bolsa o mercado o taxaria como louco.

Não bastasse o cenário cada vez mais eminente de desaceleração da economia, na época a Braskem enfrentava o peso dos problemas de seus controladores. 

Odebrecht e Petrobras, que juntas são responsáveis por mais de 97% do capital votante da petroquímica, eram alvos de investigações da Operação Lava Jato.

A própria Braskem, inclusive, foi citada ao longo do ano em esquemas de pagamentos de propina para fechar contratos de nafta com a Petrobras. E em junho ela teve seu escritório em São Paulo vasculhado pela Polícia Federal, como parte da investigação envolvendo a Odebrecht.

Nada disso impediu que os papéis da companhia (BRKM5) terminassem 2015 com uma valorização de 66%. Só entre setembro e dezembro do ano passado as ações subiram mais de 88%, revertendo algumas perdas sofridas ao longo do ano. 

E não foram só os investidores locais que se animaram com a empresa. As ADRs da Braskem, negociadas na Bolsa de Nova York (NYSE), subiram 73% entre setembro e dezembro de 2015.

“A alta das ações da Braskem foi uma surpresa, não esperávamos uma valorização tão grande”, conta Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos, "A empresa conseguiu se adequar bem aos movimentos do mercado". 

A companhia manteve o seu grau de investimento pelas três principais agências de classificação de risco do mundo, Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s.

Coisa rara em um momento em que o Brasil e, consequentemente as grandes empresas nacionais, já perderam seu grau de investimento.

O que fez a Braskem tão atrativa

A alta das ações é atribuída a um conjunto de fatores, que inclui “pura sorte do mercado” e “saber agir na hora certa”, segundo analistas.

O preço do barril de petróleo, principal matéria-prima da Braskem, caiu 35% em 2015. Já os produtos fabricados tiveram  preço de venda quase inalterado - o que ajudou a engordar o lucro. 

A exposição cada vez maior ao mercado externo veio em ótima hora, com o dólar em alta. Segundo dados da própria empresa, a previsão é de que 49% de sua receita deva vir do mercado doméstico neste ano, contra 57% em 2014.

“A empresa conseguiu encarar muito bem as dificuldades do mercado interno. A expansão das receitas no exterior veio na hora certa”, comenta William Gonçalves, analista da Geral Investimentos.

A finalização do complexo petroquímico construído no México, em parceria com a mexicana Idesa, também agitou o mercado. 

A fábrica, que segundo a companhia deve iniciar a produção de polietileno ainda neste trimestre, custou 5,2 bilhões de dólares e tem capacidade de produção de um milhão de toneladas de polietileno por ano.

No Brasil a capacidade de produção da Braskem deste produto é de 3 milhões de toneladas. Além do complexo, outra unidade em Houston, nos Estados Unidos, está em construção. 

Complexo petroquímico construído no México (Divulgação)

Os desafios de 2016

Apesar da já forte valorização das ações da Braskem, analistas consultados por EXAME.com acreditam que há espaço para mais. A maior parte da alta já passou, é claro, mas uma combinação de fatores deve contribuir para que o preço das ações aumente.

A expectativa é de que, com a finalização da fábrica mexicana, a Braskem conclua uma importante fase de investimentos e com isso, diminua suas dívidas e aumente o caixa. 

“Avaliamos a liquidez da Braskem como forte. Esperamos que as fontes de liquidez possam exceder os usos em torno de 2,0x nos próximos 24 meses”, comenta a agência Standard & Poor’s em relatório. 

O contrato de fornecimento de nafta fechado com a Petrobras no fim de dezembro, depois de dois longos anos de discussões, também é um fato positivo.

“O preço final não foi barato, mas finalmente temos um contrato. Isso é um alívio pro mercado e tira um pouco do medo político”, afirma Philip Soares, analista da Ativa Investimentos.

Com uma empresa que parece tão sadia, o maior medo do mercado é de quem “dá as ordens” na companhia.

Composição acionária da Braskem

Empresa Capital Votante Capital Total
Odebrecht 50,10% 38,30%
Petrobras 47,00% 36,10%
Bndespar 0,00% 5,00%
Outros acionistas 2,90% 20,60%

Risco Odebrecht 

“Eu sempre tenho um certo receio na hora de recomendar a Braskem aos meus clientes justamente por causa do envolvimento de seus controladores na operação Lava Jato”, comenta um analista do mercado.

O medo é de que novas investigações da Lava Jato revelem que a companhia também tem “dedo podre”. 

A Braskem já foi citada em depoimentos da operação que afirmam que a petroquímica pagou propina a diretores da Petrobras e políticos para obter vantagens na compra de produtos. Por diversas vezes a Braskem negou as acusações.

No ano passado circularam notícias de que a Petrobras pretende pôr à venda sua participação na Braskem, mas que, queria esperar um pouco a valorização das ações.

Como agora as ações estão em alta, resta saber se a Petrobras abrirá mão de parte do controle de uma empresa que se mostra tão promissora no mercado. 

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