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2018 será ano bom para a Bolsa, mesmo com alta volatilidade

“Apesar da volatilidade que iremos enfrentar, a queda da Selic continuará ajudando as empresas no ano que vem”, diz analista

Bolsa: (Thinkstock/Thinkstock)

Bolsa: (Thinkstock/Thinkstock)

Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 19 de dezembro de 2017 às 16h47.

São Paulo -- Com boa parte dos analistas prevendo para 2018 um cenário de inflação e juros baixos, economia interna em recuperação e ambiente externo relativamente favorável, com aumento gradual dos juros nos EUA e crescimento das economias americana e chinesa, as estimativas são também positivas para a bolsa B3. O Índice Bovespa, que mede o comportamento das principais ações negociadas na bolsa, acumula alta perto dos 20% em 2017 e, a depender da evolução do cenário político, teria chances de repetir ou até melhorar esses resultados.

Reforma previdenciária e eleições, principais desafios

Certamente as eleições e as dificuldades que já vemos no andamento da reforma da Previdência vão gerar muita volatilidade e incertezas no mercado, destaca Pedro Galdi, analista de investimento da Magliano Corretora e um dos fundadores da GS Research.

Ele acredita, no entanto, que mesmo com a possibilidade de o Banco Central vir a interromper o movimento de redução dos juros e de haver rebaixamento da nota do país pelas agências de risco, não se perderão os ganhos consolidados com cortes já promovidos na Selic e a inflação baixa.

“É um cenário que envolve muitas variáveis a serem acompanhadas, mas caso tenhamos o avanço de um candidato comprometido com as reformas, ajuste fiscal e agenda positiva, veremos mais um ano bom para a bolsa”, analisa Galdi. “E com oportunidades de curto prazo e, para quem tiver um horizonte mais longo de investimento, possibilidade de encontrar papéis de empresas que vêm mostrando bons fundamentos e têm espaço para valorização de suas ações.”

Ambiente melhor para as empresas

A queda da Selic entre outubro de 2016 e dezembro de 2017, da casa dos 14,25% para 7% ao ano, segundo o analista Carlos Souza, da Magliano, já provocou efeitos positivos sobre muitas empresas, que ficam claros nos resultados do terceiro trimestre deste ano.

“Parcela importante das companhias tem dívidas atreladas a juros pós fixado (Selic ou CDI) e tiveram menos gastos com despesas financeiras, maior facilidade de financiamento, melhora nos lucros e incentivo para novos projetos e investimentos.”

Queda no custo de capital terá impacto sobre negócios e investimentos

Mauricio Carvalho, sócio da Condere, assessoria independente e acionista brasileira do Global M&A, ressalta que o corte da Selic promovido pelo BC no último dia 6 de dezembro, para 7% ao ano, reflete diretamente no custo de capital das empresas. Ele destaca a rapidez com que os juros caíram e o possível impacto na atividade de negócios e de investimentos.

“Nossos estudos mostram diversos setores da economia com ROIC (Retorno sobre o Capital Investido, do inglês Return Over Invested Capital) entre 8% e 12% que provavelmente passaram a viabilizar projetos com a nova taxa.”

Enquanto o conceito de ROE (Retorno sobre o Patrimônio, do inglês Líquid Return on Equity) indica o quanto de retorno a empresa gera para cada centavo que o acionista aplica na organização, e se relaciona somente ao Retorno sobre o Capital Próprio, o ROIC é retorno sobre o capital total investido, incluindo o capital próprio somado ao capital de terceiros.

Potencial em tecnologia, concessões, bebidas e alimentos

Na análise de Carvalho, que leva em conta não apenas, mas principalmente empresas de capital aberto, alguns setores com ROIC acima de 10% (empresas financeiras, companhias ligadas a varejo, educação, saúde, entre outras) teriam ganhos potencializados com a nova queda da Selic. Mas o benefício tenderia a ser ainda maior para companhias com custo de capital igual ou menor do que o ROIC, o que hoje ocorre em setores como tecnologia, concessões (energia, rodovias, saneamento), alimentos e bebidas, entre outros.

“A queda da Selic fez cair rapidamente o custo de capital das empresas, com reflexo já nos balanços do terceiro trimestre de 2017”, afirma Carvalho. “Se as reformas seguirem adiante e continuar o movimento de retomada da economia, elas poderão viabilizar projetos em novas fábricas, novos produtos e mercados.”

Como geralmente os processos de orçamento e planejamento das empresas são anuais, lembra Carvalho, vários projetos que no ano passado não faziam sentido estão sendo aprovados agora para serem executados em 2018/2019. “Se o governo não atrapalhar, podemos ter um bom 2018”, prevê o executivo.

Empresa de software vê retomada e vai reativar expansão

Na Alterdata Software, desenvolvedora de soluções para gestão, o presidente e um dos fundadores, Ladmir Carvalho, conta que percebeu melhora significativa dos negócios, principalmente a partir do segundo semestre do ano, e se prepara para retomar, em 2018, investimentos em fusões e aquisições, praticamente paralisados entre 2015 e 2017.

Companhia de capital fechado, com 1,5 mil colaboradores e considerada a quinta maior empresa brasileira de software, a empresa viu seu crescimento recuar da média anual de 25% para 11% em 2016, registrando, em função da crise econômica, redução de faturamento e margem.

Com a queda da Selic combinada a medidas internas de contenção de custos e otimização de processos de atendimento, e também devido à melhora da confiança na economia em sua base de clientes, formada por  32 mil empresas da indústria, varejo, área contábil e imobiliária, a Alterdata projeta para 2017 expansão de 13%, e de 18% a 19% no ano que vem.

Mais empregos e novas unidades de negócio

“Este ano preenchemos 112 novas vagas em filiais e 172 na matriz, fora contratações feitas para substituição ao longo de 2017, ampliando nosso quadro em 284 novos postos de trabalho”, diz Ladmir, acrescentando ainda que foram abertas no ano 12 novas unidades de negócio. Entre os desafios para os próximos anos, o empresário menciona a concorrência de empresas da Europa e dos EUA, que encontram mais facilidade e incentivos para investir em pesquisa e inovação, e dificuldades na obtenção de mão de obra qualificada no setor.

Melhora no segundo semestre e perspectivas para 2018

Na Opersan, empresa de saneamento de capital aberto do Grupo Opersan, especializada em soluções ambientais para o tratamento de águas e efluentes, também se percebe melhora em 2017, principalmente a partir do segundo semestre, que traz expectativas positivas para o ano que vem. E nos dois segmentos de atuação da companhia, que faz tanto a elaboração do projeto, construção e operação de unidades de tratamento, como realiza tratamentos de diversos tipos de efluentes em suas próprias estações.

“Temos sinais de recuperação depois de dois anos de dificuldades, principalmente a partir do segundo semestre desse ano”, diz o presidente da companhia, José Fernando Rodrigues, referindo-se ao aumento de demanda por parte de empresas clientes ligadas sobretudo ao setor automobilístico.

Ele também vê melhora no segmento voltado a projetos e construção de novas estações, que trabalha com contratos de longo prazo, e vem reagindo com o aumento da confiança dos clientes.”Vemos maior procura e discussão (de novo projetos) e alguns novos contratos já estão em fase de formalização”, explica.

Recuperação gradual

“Não acreditamos em melhora rápida (da economia), mas estamos otimistas de que está se formando um cenário mais positivo, e que 2018 será um pouco melhor que 2017”, diz Rodrigues. Ele ressalta entre fatores de incerteza as eleições de 2018 e a continuidade da reforma da Previdência. Entre os positivos, a queda dos juros, inflação baixa e a reforma trabalhista, além da possível implementação de ajuste fiscal e de regulações setoriais que poderão melhorar a vida das empresas.

Oportunidades em varejo e segmento imobiliário

Carlos Souza, da Magliano, vê bom potencial em 2018 e 2019 principalmente em segmentos intensivos em crédito, que dependem mais fortemente de financiamento para a venda de seus produtos, como varejo de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, e também no segmento imobiliário, que já começa a reagir após o forte período recessivo.

Incerteza na política exige cautela das empresas e investidores

“O cenário que vemos é positivo, mas ainda exige muita cautela, diante de incertezas políticas e outros fatores que venham a afetar as contas públicas, o nível de consumo e de emprego, atrasando a retomada da economia e da atividade das empresas”, alerta Souza.

Investidor tende a continuar buscando alternativas à renda fixa

A análise dos fundamentos das empresas — que procura estabelecer o valor justo para as ações negociadas em bolsa, com base em estudo cuidadoso das companhias e do cenário econômico — sinaliza que há espaço para bom desempenho do mercado de ações em 2018, na avaliação de Marco Saravalle, analista de investimento da XP.

“Apesar da volatilidade que iremos enfrentar, a queda da Selic, que já ajudou muito em 2017, continuará ajudando as empresas no ano que vem”, destaca o analista. “Por outro lado, os investidores também devem continuar dispostos a assumir um pouco mais de risco, diante da queda na rentabilidade (das aplicações) da renda fixa”, completa. “É difícil estimar quanto (o mercado poderá crescer), mas há potencial para termos resultados tão bons ou até melhores do que tivemos este ano”, conclui.

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