Alta de 107% de bonds do BicBanco pode perder força
Com o yield em um patamar 0,48 ponto porcentual abaixo do que a média para empresas de mercados emergentes não há muito mais espaço para valorização
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2014 às 12h45.
São Paulo - O aumento de preço dos títulos de dívida que rendeu aos credores do BicBanco os melhores retornos dos mercados emergentes tende a perder força.
Impulsionado pela aquisição por parte do China Construction Bank Corp., o preço das notas de dívida do BicBanco com vencimento em 2020, que somam US$ 300 milhões, mais do que dobrou em relação ao patamar mínimo recorde de 58.9 centavos por dólar em julho de 2013.
Com o yield, ou o retorno dos títulos, em um patamar 0,48 ponto porcentual abaixo do que a média para empresas de mercados emergentes com o mesmo rating BB, a GBM Grupo Bursátil Mexicano e a Andbanc Brokerage LLC dizem que não há muito mais espaço para valorização.
Após a segunda maior instituição financeira chinesa ter oficialmente finalizado a aquisição no dia 29 de agosto, o banco com sede em São Paulo poderá agora considerar uma recompra dos títulos que hoje estão no mercado e emitir bonds mais baratos, de acordo com Gilberto Tonello, analista da GBM.
O rendimento das notas emitidas pelo BicBanco, que tem nota de crédito seis níveis mais baixa do que a de seu controlador chinês, caiu 0,5 ponto porcentual neste mês para a mínima recorde de 5,45 por cento.
“Não há muito mais espaço para cair, já que está em um nível apertado em comparação a títulos de pares de mercado”, disse Tonello, em entrevista por telefone, de São Paulo.
“Faria sentido diminuir o custo da dívida à medida em que os chineses começarem a administração, e possivelmente executar uma oferta de recompra dos títulos. Ao se considerar que os novos donos têm rating muito melhor, eles poderiam melhorar o custo da dívida do nível atual de 8,5 por cento para algo próximo de 6 por cento”.
‘Pedra fundamental’
Uma porta-voz do BicBanco preferiu não comentar os preços dos bonds. Deborah Tsui, uma porta-voz do China Construction Bank, não respondeu a um pedido por comentário enviado por e-mail.
Em um comunicado de 29 de agosto para a Comissão de Valores Mobiliários do Brasil, o BicBanco disse que o China Construction Bank vai comprar as ações remanescentes atualmente em posse de acionistas minoritários.
O banco com sede em Pequim fechou acordo para pagar R$ 1,62 bilhão (US$ 721 milhões) por uma participação de 72 por cento em outubro de 2013, a primeira compra de um banco chinês no Brasil.
A aquisição tem “grande importância estratégica para a globalização do CCB”, disse o China Construction Bank em um comunicado publicado em seu site, em 30 de agosto. O BicBanco é uma “pedra fundamental” na América Latina.
Perspectiva econômica
Hsia Hua Sheng, professor de finanças corporativas da Fundação Getúlio Vargas, disse que o China Construction Bank enfrentará desafios em sua busca para expandir-se no Brasil, cuja economia entrou em sua primeira recessão desde 2009 no primeiro semestre.
“Ao mesmo tempo que será bom para eles poder contar com uma rede e uma infraestrutura pré-existentes por aqui, não é um momento de grande expansão do crédito corporativo no Brasil”, disse Sheng, que já trabalhou no Citigroup Inc., em uma entrevista por telefone, de São Paulo.
“Eles estão entrando em um segmento em que a competição é forte e em que as margens estão cada vez mais apertadas. A economia não está melhorando e é difícil dizer quando irá se recuperar”.
Fundado em 1938 pela família Bezerra de Menezes, no dia 15 de agosto o BicBanco informou que registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 150,8 milhões (US$ 63,5 milhões) no segundo trimestre.
O banco vem reduzindo os empréstimos desde o anúncio da aquisição ao se preparar para a chegada dos novos donos, disse o vice-presidente-executivo de operações, Milto Bardini, em uma teleconferência, em 20 de agosto.
Rendimentos mergulham
O BicBanco, especializado em empréstimo corporativo, foi um dos vários bancos de médio porte no Brasil a ter dificuldades para obter financiamento próprio em meio à concorrência crescente de bancos de maior porte depois que os órgãos reguladores intervieram no Banco Cruzeiro do Sul SA, em junho de 2012, devido a irregularidades.
O yield pago a investidores pelos bonds do BicBanco, que subiram para recordes 20,4 por cento em julho de 2013, desde então caíram 14,9 pontos porcentuais, mostram dados compilados pela Bloomberg.
O China Construction Bank, que tinha um total de US$ 2,5 trilhões em ativos totais no final do ano passado, tem nota de crédito A1 pela agência Moody’s Investors Service, o sexto mais baixo grau de investimento, e está um degrau mais baixo na avaliação da Standard Poor’s, com nota A.
A S&P classifica o BicBanco como BB, dois níveis abaixo da qualidade de investimento e um degrau mais baixo que a nota Ba1 da Moody’s.
As notas do BicBanco subiram para 114,47 centavos por dólar em 19 de setembro, o nível mais alto desde sua emissão, em 2010.
“Esses títulos estão pagando um prêmio em relação a seus pares de mercado”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da corretora do Andbanc em Miami, em entrevista por telefone. “A maior parte dos ajustes já foi precificada. Não há muito mais espaço para que haja mais apreciação”.