ESG

Como a natureza pode garantir a infraestrutura de saneamento no Brasil

Soluções baseadas na natureza são mais eficientes do que piscinões e estações de tratamento. Tema será debatido em evento da TNC e do Pacto Global

No Brasil, 20% das crianças estudam em escolas que não possuem água filtrada (Luis Alvarez/Getty Images)

No Brasil, 20% das crianças estudam em escolas que não possuem água filtrada (Luis Alvarez/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 4 de dezembro de 2020 às 11h16.

Construir uma infraestrutura baseada na natureza pode resolver o problema do saneamento no Brasil. Esse tipo de solução leva em consideração o equilíbrio natural dos ecossistemas, permitindo o uso consciente de “serviços” providos pela vegetação. Trata-se de uma maneira moderna de tratar antigos problemas das cidades, como o tratamento da água, as enchentes e, até mesmo, o controle de insetos.

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O tema será debatido em evento, nesta sexta-feira, 4, promovido pela ONG The Nature Conservancy (TNC), em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global. O debate terá as presenças de especialistas internacionais, como Gregg Brill, pesquisador do Pacific Institute, e Naabia Ofosu Amaah, conselheira sênior da Global Water, braço de estudos hídricos da TNC. Também estarão presentes representantes da Ambev e da Pepsico. O evento começa às 14h e será transmitido no Youtube (links abaixo).

Para assistir ao evento em inglês, clique aqui

Para Gregg Brill, as soluções baseadas na natureza são mais baratas e mais eficientes em lidar com o abastecimento de água nas grandes cidades. “Não há nem o que pensar”, disse ele à EXAME. “Estamos falando de uma infraestrutura com duas vezes a capacidade pela metade do preço”. Soluções tradicionais, como os piscinões e as estações de tratamento, são muito custosas de se manter e, especialmente no caso dos piscinões, geram outros problemas sanitários, como a proliferação de ratos e insetos.

Na Europa, diz ele, há uma tendência de retornar à superfície rios canalizados. Com a recuperação da flora, a própria vegetação se encarrega de filtrar a água. “Você planta árvores e sai água potável”, afirma. Projetos dessa magnitude parecem complexos e dispendiosos, mas, de acordo com o pesquisador, são opções melhores do que tentar lidar com as consequências negativas da destruição ambiental.

As soluções naturais também oferecem outros benefícios, como a criação de parques e áreas de lazer. “Um rio recuperado se transforma em um parque para as famílias. Por acaso alguém já quis passar o dia numa estação de tratamento de água”, questiona. São Paulo, cidade que foi construída em cima de rios como o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí, teria muito a ganhar com a adoção desse tipo de estratégia.

Um ponto importante para a construção de uma infraestrutura natural é a privatização do setor. Para Brill, somente empresas privadas são capazes de garantir o uso de tecnologias mais avançadas, como as soluções baseadas na natureza. “O governo não tem as condições necessárias para incorporar a inovação”, diz ele. “É a iniciativa privada que vai liderar essa agenda.”

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Novo marco do saneamento

A busca por controlar a natureza é uma característica do homem moderno. Para sanitizar o ambiente das cidades, a vegetação foi sendo substituída por concreto e asfalto ao longo de décadas. Rios foram canalizados, pântanos aterrados e as árvores foram reduzidas a objetos ornamentais, cuja existência é permitida desde que não sujem a calçada. As enchentes, os deslizamentos, a poluição e as secas recorrentes são a prova de que a estratégia não pode ser considerada um sucesso.

No Brasil, pode se considerar que esse processo de concretar as matas nativas gerou uma infraestrutura “de fachada”. Ainda que biomas tenham sido completamente destruídos, como a Mata Atlântica, a realidade é que o saneamento não foi feito. Hoje, por exemplo, 20% das crianças do país estudam em escolas que não possuem água filtrada, esgoto ou coleta de lixo.

O governo busca reverter esse quadro. A aprovação do novo marco legal do saneamento, em julho, trouxe a expectativa de uma enxurrada de investimentos para o setor.  A primeira leva de leilões já se mostrou bem-sucedida. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), no total, 24 grupos participaram das três licitações realizadas até agora.

A primeira envolveu a concessão dos serviços de água e esgoto da região metropolitana de Maceió, em que a empresa BRK Ambiental venceu a concorrência com um valor de outorga de 2 bilhões de reais — um ágio de 12.800%.

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