Eat Just: frango em laboratório poderá ser comercializado em Cingapura (Eat Just/Divulgação)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 16h21.
Última atualização em 3 de dezembro de 2020 às 17h07.
Dados da Organização das Nações Unidas apontam que 66,5 bilhões de frangos são abatidos por ano em todo o planeta. Em uma matemática simples, mais de 2.000 animais são mortos por segundo. Para a startup americana Eat Just, a conta não fecha. E, por isso, a companhia resolveu desenvolver uma forma de cultivar a carne de frango em laboratório. Nesta semana, a empresa deu um passo importante: poderá finalmente comercializar seu produto.
A autorização foi dada pela Agência de Alimentos de Cingapura (SFA, na sigla em inglês) e permite a comercialização da carne de frango feita do cultivo em laboratório das células dos próprios animais. Este tipo de produto só poderá ser comercializado pela startup americana e apenas dentro do país asiático. A tendência é que a autorização em Cingapura force outros mercados a repensar seus vetos sobre este tipo de alimento.
Ao permitir o comércio por parte da Eat Just, o governo de Cingapura será o primeiro em todo o mundo a autorizar a venda de carne feita em laboratório. Em Israel, por exemplo, a venda do produto é limitada ao restaurante The Chicken, que faz parte de uma ação experimental da foodtech israelense SuperMeat, uma das rivais da Eat Just no mercado de carnes criadas em laboratório.
É importante esclarecer que tanto a Eat Just como a SuperMeat não tentam imitar o sabor de frango ou carne com ingredientes vegetais, como fazem empresas como Beyond Meat, Fazenda Futuro ou NotCo — e que já movimentam milhões de dólares em investimentos de fundos de capital de risco. Fundada em 2011 por Josh Balk e Josh Tetrick, a startup quer mostrar que realmente é possível cultivar pedaços de frango “reais” em laboratório.
No caso da Eat Just, a empresa cultiva células genuínas de galinhas em um biorreator que provoca o crescimento celular deste material genético. Assim, é possível recriar partes específicas do frango sem precisar abater um único animal. Teoricamente, isso poderia ser feito com qualquer animal e a tendência é de que, no futuro, empresas explorem a tecnologia para replicar a carne suína e a bovina — mas este será um processo mais trabalhoso.
A dificuldade em criar partes de boi ou de porco em laboratório está em acertar a estrutura da carne. Acertar a textura do frango é mais simples. E este fator foi determinante para que a Eat Just começasse suas experiências pelos galináceos. Em outro mercado, vale lembrar que é mais comum ver produtos plant-based que tentam imitar o frango do que os que tentam imitar uma carne em formato de bife, por exemplo — hambúrgueres são outra história.
Ao longo de quase uma década de existência e depois de fazer sucesso ao comercializar um ovo feito à base de plantas, a Eat Just já captou 220 milhões de dólares em aportes. Entre os investidores estão fundos de capital de risco como London Impact Ventures, Khosla Ventures, Velos Partners, entre outros. Há também apoiadores célebres, como Eduardo Saverin, brasileiro que cofundou o Facebook, e Marc Benioff, fundador da Salesforce.
Ainda não há previsão de quando os produtos da Eat Just chegarão ao mercado nem a faixa de preço.