Web 3.0 é baseada no blockchain e descentralizada (ipopba/Getty Images)
Desde seu surgimento nos anos 90, a internet foi uma das tecnologias que mais evoluiu nas últimas décadas, se tornando uma parte crucial do nosso dia a dia. Atualmente, a maioria de nós depende dela para trabalhar e exercer as tarefas mais básicas, e ela nos acompanha não só em computadores, mas celulares, tablets, TVs, fones de ouvido e até mesmo relógios.
Especialmente durante a pandemia, a internet foi um pilar vital para muitos. Foi o que possibilitou que dentro de casa em isolamento social, as pessoas pudessem continuar trabalhando, estudando e socializando.
No Brasil, um país onde nem todos possuem acesso à esta tecnologia, o número de domicílios com ao menos um dispositivo conectado à internet saltou de 39% para 45% de 2019 para 2020, segundo uma pesquisa da Cetic.br, incentivados pelo estouro da pandemia. Além disso, os dados da pesquisa ainda revelam que o número de usuários saiu de 53% para 70% nas áreas rurais, de 34% para 50% entre os idosos de mais de 60 anos e de 57% para 67% entre a população das classes D e E no mesmo período.
Na época, o então Ministro das Comunicações Fábio Faria enfatizou o caráter essencial da internet. “Virou serviço essencial para o Brasil”, disse, acrescentando que “As pessoas estão trabalhando de casa. Muita gente estudando de casa. E quem não tem internet não está podendo visitar os parentes que moram longe. Então a gente tem que fazer com que essas pessoas tenham acessibilidade, que tenham inclusão digital”.
Com tanta gente dependendo da internet para atividades essenciais, faz sentido que a tecnologia evolua constantemente. Foi o que aconteceu e continua acontecendo desde a criação da World Wide Web por Tim Berners-Lee. Na época, o estudioso se destacou no que ficou conhecido como “Web 1.0”, ou a primeira fase da internet.
Foi ele quem criou o termo que deu origem ao prefixo “www”, quando era cientista da computação na Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), um dos maiores e mais respeitados centros de pesquisa científica.
A Web 1.0 tinha como base três tecnologias fundamentais:
• HTML: HyperText Markup Language, a linguagem de marcação ou formatação da web
• URL: localizador de recursos, um endereço exclusivo usado para identificar cada recurso na web
• HTTP: HyperText Transfer Protocol, que permite a recuperação de recursos vinculados de toda a web
Nessa época, as páginas da internet tinham seu design baseado em quadros e tabelas, com poucas oportunidades para o desenvolvimento de aplicativos interativos, embora o que havia já era o suficiente para encantar muitos usuários.
Desde os anos 2000, vivemos na Web 2.0, ou seja, a segunda fase da internet. Foi ela que nos trouxe uma maior interatividade social, capacidade de pesquisa e consumo de conteúdo. Caracterizada por ser o berço das redes sociais, a Web 2.0 foi uma mudança de paradigma no modo como utilizamos a internet.
Por meio de plataformas como Airbnb, Facebook, Instagram, TikTok, Twitter, Uber, Whatsapp, YouTube, LinkedIn, Mercado Livre, iFood, entre outros, a forma como interagimos, consumimos conteúdo, produtos e serviços, se conectou de vez com a web.
Foi assim que toda uma economia foi criada em torno da tecnologia, e empresas como Apple, Amazon, Google e Meta (antigo Facebook) se tornaram algumas das maiores empresas do mundo, gerando um verdadeiro mar de arrependidos por não terem investido em suas ações antes.
Agora, a internet virou fonte de renda de milhares de pessoas. Seja com a produção de conteúdo, dando caronas, alugando casas, fazendo entregas ou comercializando produtos, a Web 2.0 integra boa parte do dia a dia da maioria das pessoas, impulsionada pelo uso de smartphones e dispositivos móveis.
Apesar da grande evolução causada pela Web 2.0, depois de duas décadas, a necessidade por novas formas de usar a internet cresce cada vez mais. Problemas da Web 2.0 viraram o assunto nos últimos anos, como a centralização que facilita a formação de verdadeiros oligopólios que podem extrair dados extremamente detalhados de usuários gratuitamente e os utilizar em práticas predatórias de publicidade e marketing. Casos como o vazamento de dados da Cambridge Analytica, que fizeram com que Mark Zuckerberg passasse horas em julgamento no Senado norte-americano, deram luz à problemas ainda maiores nos bastidores das redes utilizadas por bilhões de pessoas todos os dias.
A Web 3.0 é considerada a nova fase da internet e uma série de especialistas preveem que ela pode substituir a fase atual no futuro próximo. Oferecendo conceitos similares ao que o próprio Berners-Lee idealizava nos anos 90 como o que chamava de “Web Semântica”, a Web 3.0 já existe e dá os seus primeiros passos utilizando como base a tecnologia blockchain.
A nova fase da internet é descentralizada, e por isso, permite um controle maior por parte do usuário de seus dados pessoais. Ele pode escolher se irá monetizá-los ou não, e até mesmo lucrar em criptomoedas por navegar na internet e visualizar anúncios, utilizando o navegador Brave.
Enquanto a Web 2.0 é focada nas comunidades, a Web 3.0 tem como objetivo alcançar usuários individuais, para entender suas preferências e fornecer experiências adaptadas ao seu comportamento. Tudo isso, mantendo a transparência por meio do blockchain e sua infraestrutura de código aberto.
Todos podem participar da nova fase da internet sem censura e sem precisar confiar uns nos outros. Por meio de algoritmos programados, qualquer acordo é automaticamente efetivado sem a necessidade de um intermediário, e as criptomoedas serão a moeda oficial. Otimizando a forma como lidamos com o dinheiro e funcionando de forma 100% digital, os usuários poderão utilizar criptomoedas como o bitcoin e o ether, ou stablecoins e CBDCs, cujo valor é estável e atrelado a outros ativos.
Além disso, conceitos como Machine Learning e Internet das Coisas podem ser utilizados para melhorar ainda mais a experiência do usuário na Web 3.0, que pode ser tão disruptiva quanto a Web 2.0 foi nos anos 2000.
Como resultado, os aplicativos da Web 3.0 também são descentralizados, e construídos com base na tecnologia blockchain. Assim, nenhuma empresa pode ter o controle sobre eles, como é o que ocorre atualmente com plataformas como o Facebook e Twitter.
Atualmente, milhares de “dApps” já existem e a discussão sobre a existência de uma rede social descentralizada já envolve grandes nomes da indústria, como o criador do Twitter Jack Dorsey e seu novo dono, Elon Musk, e o cofundador do Reddit, Alexis Ohanian.
Eric Schimdt, ex-CEO do Google, importante protagonista da revolução causada pela Web 2.0, agora aposta na Web 3.0 como o futuro da internet. “Um novo modelo de internet onde você como indivíduo pode controlar sua identidade e onde você não tem um gerente centralizado, é muito poderoso. É muito sedutor e muito descentralizado. Lembro-me daquele sentimento quando eu tinha 25 anos que a descentralização seria tudo. A economia da Web 3.0 é interessante. As plataformas são interessantes e os padrões de uso são interessantes”, declarou o executivo, em uma entrevista recente à CNBC.
A nova fase da internet ainda está em fase de expansão e precisa melhorar em alguns quesitos para que possa ser adotada em massa pelo público mundial. Os principais problemas apontados por usuários são:
• Escalabilidade: as transações são mais lentas porque são descentralizadas. Pagamentos, por exemplo, precisam ser processados por um minerador e propagados por toda a rede.
• Experiência do usuário (UX): interagir com aplicativos descentralizados pode exigir etapas extras, software potente e experiência no assunto.
• Acessibilidade: a falta de integração em navegadores modernos torna a Web 3.0 menos acessível para a maioria dos usuários.
No fim, a intenção de todas as fases da internet é promover o acesso à informação, apesar de suas diferenças evolutivas. Comparando com as fases do cinema, a Web 1.0 poderia representar a era do cinema em preto e branco, enquanto a Web 2.0 seria a era do 3D colorido, e a Web 3.0 as experiências imersivas no metaverso. Assim como a Web 2.0 mudou a forma como fazemos negócios e consumimos cultura em todo o mundo, agora pode ser a vez da Web 3.0.
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