Fases da atualização foram nomeadas em homenagem à grandes nomes da ciência e literatura (salarko/Getty Images)
Coindesk
Publicado em 23 de agosto de 2021 às 18h34.
A atualização “Alonzo”, programada para a rede Cardano e cuja ativação deve acontecer em 1º de outubro, pode fazer com que o blockchain atinja o auge de suas capacidades, segundo especialistas. A implementação da atualização é bastante aguardada principalmente pela introdução das funcionalidades dos smart contracts à rede.
Smart contracts, ou contratos inteligentes, são códigos computacionais que se executam automaticamente a partir do cumprimento de condições pré-definidas. Após a atualização “Alonzo”, qualquer pessoa poderá criar e implementar seu próprio smart contract no blockchain Cardano, abrindo o caminho para os aplicativos descentralizados (dApps) e colocando o projeto na briga por setores em alta, como DeFi e NFTs.
É essa perspectiva que fez o preço do cardano (ADA), a criptomoeda nativa da rede, disparar nas últimas semanas, chegando ao seu maior preço de todos os tempos nesta segunda-feira, 23, de 2,96 dólares. O movimento teve início já há algum tempo, fazendo com que a criptomoeda acumule alta de quase 1.600% no ano. Recentemente, a alta levou o cardano ao terceiro lugar entre as maiores criptomoedas do mundo por valor de mercado, atrás apenas do bitcoin e do ether.
A atualização do sistema significa o fim da era “Shelley” da rede e o início da fase “Goguen”. Ainda que não haja uma data exata para o fim do processo de atualização, desenvolvedores por toda a rede trabalharam em testes e definiram um plano de ação com pilares específicos na forma de “eras”.
O plano de ação para o desenvolvimento da Cardano é dividido em seis fases principais, ou “eras”, cada uma focada em expandir a funcionalidade da rede:
A Cardano atualmente está nos estágios finais da era “Shelley”. Essa fase de desenvolvimento adicionou um grande número de funcionalidades para a rede, como o protocolo de prova de participação (PoS) conhecido como “Ouroboros”, um esquema de incentivo e delegação que recompensa participantes e funciona como um melhor suporte para hard wallets, as carteiras digitais que armazenam criptomoedas offline.
Ao oferecer recompensas àqueles que rodarem nós completos – participantes da rede que realizarem o download de todo o blockchain – a Cardano incentiva a participação na rede e encoraja o seu crescimento.
Desde o lançamento em 29 de julho de 2020, a era Shelley apresentou dois grandes hard forks: Allegra e Mary. Allegra introduziu o mecanismo de bloqueio de token que permite que usuários bloqueiem tokens da rede Cardano como uma forma de se preparar para a votação on-chain (que se espera que ocorra na era Voltaire, o estágio final de desenvolvimento).
Mary, por outro lado, introduziu o suporte para os tokens nativos da Cardano (CNT). Os tokens nativos são similares aos padrões de token ERC da Ethereum e permitem que usuários criem e implementem seus próprios tokens no blockchain Cardano, incluindo tokens não-fungíveis (NFTs).
A Cardano opera utilizando seu próprio “combinador de hard forks” – um sistema que combina dois protocolos diferentes (como Byron e Shelley) em um único ledger, ou livro-razão, para garantir uma transição estável entre as fases. Um problema que os desenvolvedores da Cardano identificaram foi que após haver um acordo quanto a um hard fork, ainda haveria um segmento considerável da comunidade que não adotaria a nova versão.
Isso pode acontecer porque não concordam com as mudanças ou apenas não vêem necessidade de atualizar a rede. De toda forma, o combinador permite que os nós rodem múltiplas versões ao mesmo tempo, significando que as transições são uniformes e as atualizações não sofrem atrito. Essencialmente, ao invés de optar por entrar, os usuários devem optar por ficar de fora.
A atualização “Alonzo” é dividida em três fases principais:
Existem ainda duas fases menores após a Alonzo Purple, apelidadas de “Alonzo Red (vermelho)” e “Alonzo Black (preto)”. Cada fase essencialmente adiciona mais usuários para a rede de testes e identifica bugs que podem precisar de conserto.
A Alonzo Blue apresenta smart contracts com aproximadamente 50 participantes técnicos, em maioria operadores de stake pools (SPOs). Erros simples de invalidação e outros tipos foram encontrados e ajustados durante essa fase. Tais bugs “padrão” são esperáveis e serão consertados conforme a “Alonzo” passa sob testes.
A Alonzo White adiciona mais funcionalidades e uma gama mais ampla de participantes para a Alonzo Blue. Centenas de novos usuários encontrarão uma espécie de “campo de treinamento”, que irá testar as capacidades da rede. Esse experimento é feito pela IOG, a companhia de desenvolvimento principal por trás da Cardano e liderada pelo cofundador da Ethereum, Charles Hoskinson. A companhia espera que essa fase dure entre duas e quatro semanas.
A Alonzo Purple se tornará uma rede de testes totalmente pública e embarcará milhares de participantes. Essa fase em particular é dividida em duas outras fases, “light purple” e “dark purple”, ou “roxo claro” e “roxo escuro”. A primeira permitirá smart contracts simples, enquanto a outra permitirá smart contracts mais complexos.
Já as fases finais Alonzo Red e Alonzo Black são reservadas para consertos de bugs e ajustes finais para o preparo para o lançamento final da atualização. Quaisquer retoques futuros ao hard fork seriam bastante difíceis de se realizar após esse ponto, então é importante que essas duas fases tenham bastante atenção.
Os testes garantem a qualidade, já que o código está congelado e as corretoras estão preparadas para a atualização. O Alonzo Mainnet irá lançar oficialmente o código final.
A era Goguen, nomeada a partir do famoso cientista computacional Joseph Goguen, irá permitir o desenvolvimento de dApps na rede Cardano pela primeira vez, por conta das novas capacidades da Alonzo para smart contracts. Os smart contracts são componentes vitais dos dApps e os permitem operar sem intermediários. Uma plataforma de construção de smart contracts chamada The Plutus Platform tem seu lançamento agendado para essa fase e irá permitir que usuários técnicos e não-técnicos construam dApps.
A Plutus utiliza a Haskell, linguagem de programação nativa da Cardano. A Plutus e a Haskell utilizam a mesma base de código para o desenvolvimento dentro e fora da cadeia. Isso significa que em essência, o código é idêntico e então não haveriam complicações do gênero ao se desenvolver smart contracts. Isso permite que os contratos da Plutus se tornem ainda mais objetivos, e também a realização de testes, o que possibilita que desenvolvedores aprimorem seus produtos para carregamentos muito mais intensivos como hospedar grandes instituições e governos.
Hoskinson, que é atualmente o CEO da IOG, explicou que a Haskell foi escolhida por ser um código de alta segurança (capaz de prover maior confiança de que o código funciona como foi projetado).
Muitas vezes no setor blockchain, o código não corresponde perfeitamente as intenções do desenvolvedor e como um resultado disso, milhões de dólares podem ser roubados ou aplicativos podem sair do ar, assim como o que ocorreu quando um smart contract da Solidity não estava em pleno direito e o projeto de organização descentralizada autônoma (DAO) sofreu um ataque cibernético.
Com a Haskell, a intenção pode corresponder melhor ao código, já que a linguagem, apesar de complexa, foi projetada para ser precisa.
Então, existe o Plutus Core, que é a linguagem de programação que conecta os smart contracts à camada final de liquidação da Cardano: o blockchain. A partir do momento que um desenvolvedor terminou de criar seu código com a Plutus, esse código é compilado dentro do Plutus Core, onde ele é simplificado para o blockchain Cardano. Esse método permite que a Cardano lide melhor com os dados e ocupe menos espaço no blockchain.
Para os entusiastas menos técnicos, há a Marlowe, uma nova linguagem de domínio específico (DSL) que permite que qualquer usuário crie e teste seu próprio smart contract sem precisar de nenhuma capacidade avançada de programação. A Marlowe é construída sobre a Haskell e Plutus mas pode ser pensada como tijolos para a criação de smart contracts.
Com uma produção de smart contracts mais fácil e mais desenvolvimento na rede Cardano, pode-se imaginar os potenciais projetos que serão realizados. Se observarmos a rede Ethereum, é possível verificar centenas de projetos que podem ser reimplementados, reiterados e melhorados na rede Cardano, incluindo Uniswap, Aave e muitas outras. Os projetos que demandam velocidades de transação mais rápidas irão se beneficiar muito dos baixos custos da rede Cardano. Já existem mais de 65 projetos que se comprometeram em lançar em conjunto com a Alonzo, incluindo a Synthesis, Miniswap, Stasis e CardWallet.
O surgimento de um método mais fácil para construir dApps trará consigo mais projetos. Hoskinson menciona em um vídeo que esses projetos irão eventualmente competir com muitas instituições financeiras do mundo real e visam substituí-los por sistemas mais justos, garantindo a liberdade econômica para aqueles que precisam.
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