Real Digital tem previsão de lançamento para o público no fim de 2024 (alengo/Getty Images)
Repórter do Future of Money
Publicado em 19 de julho de 2023 às 09h00.
A Sinqia está entre as empresas brasileiras que foram escolhidas para fazer parte dos testes com o piloto do Real Digital, uma etapa importante na criação da moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês) do Brasil. E, em entrevista à EXAME, Leo Monte, Chief Innovation Officer da empresa, explicou quais são os objetivos da companhia com essa nova fase do projeto, assim como os desafios e potenciais que ele traz.
O executivo destacou que a companhia está "muito contente de fazer parte da vanguarda dessas inovações", mas que o projeto é um "trabalho de construção" que deve inclusive ser mais longo que o do Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. O motivo, explica, é que a CBDC deverá exigir algumas mudanças na infraestrutura financeira atual.
Ao mesmo tempo, ele vê como "muito positivo ter empresas diversas com atividades diversas se juntando, formando grupos de trabalho. O Banco Central vai colher ótimos frutos para o que pretende, mas as empresas também. Os nosso clientes estão muito interessados no Real Digital, então temos uma expectativa grande".
Para Monte, a iniciativa do Banco Central está "muito alinhada" com a digitalização e inovação no sistema financeiro que virou tendência nos últimos anos. A Sinqia já tinha notado esse movimento, em especial em torno de tendências como tokenização, criptoativos e o próprio Pix e suas atualizações. Nesse sentido, o executivo acredita que essas etapas "serviram de base" para a entrada da empresa no piloto.
"Os principais impactos para a Sinqia, que estamos tentando entender, é justamente o entendimento maior daquilo que o Banco Central entende que tem que ser esse novo momento de digitalização da moeda. Isso tem um impacto relevante na tecnologia que fornecemos para os nossos clientes, então a gente precisa entender e até se antecipar em relação ao que precisa ser atualizado", explica.
Para o executivo, ainda existem muitas dúvidas em torno de elementos como arquitetura, funcionamento e validações no sistema do Banco Central, mas a fase de testes com uma versão piloto deverá ser um momento para "validar hipóteses, entender o projeto e como usar esse know how para que a gente consiga se ajudar para entregar um bom projeto e validar hipóteses e ter aprendizados. Existem vários pontos em comum [entre as empresas participantes], dúvidas sobre latência, arquitetura, a DLT que vai ser usada, infraestrutura, plataforma, mesa de operação".
Ao mesmo tempo, o avanço do Real Digital também vai depender da superação de "desafios" em áreas como economia, pagamentos e tributos. "É um universo bem amplo, com muitas regras distintas, órgãos que atuam. O grande desafio é conseguir tokenizar a economia tradicional, transformar o dinheiro físico em dinheiro digital, conseguir fazer com que aconteça essa integração entre a moeda tradicional, o Pix e o Real Digital".
Monte destaca que "não é que o Real Digital vai matar a moeda tradicional", com a tendência sendo de uma integração entre diferentes métodos de pagamento. Exatamente por essas complexidades, ele acredita que o desenvolvimento da CBDC será mais lento que o do Pix, precisando unificar "vários processos burocráticos, tipos de transações distintos, navegando dentro de operações, estruturas, e tudo precisa ser validado. Tem que ser transparente e sem trazer complexidade".
Outro ponto que ele ressalta é que o próprio funcionamento do sistema proposto para o piloto, com o Real Digital criado no blockchain Hyperledger Besu, ainda precisa ser validado e pode mudar: "Nada impede que no futuro isso seja alterado ou que tenha múltiplas redes e elas possam existir juntas, com oportunidades de criação de uma infraestrutura de interoperabilidade entre as redes. É uma hipótese que a gente tem aqui, mas no momento, de concreto, é o Hyperledger".
Além disso, ele acredita que o projeto vai demandar alterações na própria infraestrutura atualmente usada pelo sistema financeiro nacional. Uma delas será a criação de contas de liquidação para a ferramenta, semelhante ao Pix, mas também necessidade de criar mecanismos para lidar com o potencial da CBDC de trazer um "controle maior das transações que acontecem no ambiente digital".
Apesar de reconhecer as vantagens da moeda digital - em especial com ganhos de eficiência e redução de custos em operações -, o executivo da Sinqia acredita que o usuário final "não vai ter uma percepção real" da presença da CBDC ou da transição para esse sistema. "O Banco Central já teve uma iniciativa com o Pix que já trouxe um viés do dinheiro não-papel, não precisar ficar fazendo TED, DOC, boleto".
"Isso já traz uma cultura de digitalização do dinheiro que pode ser super positiva para o Real Digitial. Existem algumas barreiras culturais de utilização, mas a tecnologia não deve ser um empecilho. Ele traz uma possibilidade de tokenização, fracionamento de pagamentos, tokenizar ativos. A gente caminha para uma revolução completa de como a gente lida com a economia, que vai ser mais digital do que física", diz Monte.
Nesse sentido, o executivo de inovação afirma que está "muito otimista com toda essa modernidade": "O que eu vejo é justamente uma grande evolução em relação à nossa economia. Tudo que está sendo feito é para que possa ter uma democratização no acesso aos serviços financeiros, e a gente já começa a enxergar isso quando vê aplicações de Open Finance. Coisas que eram impensáveis há alguns anos, novas funcionalidades, oportunidades, e como alternativa ao que tem no tradicional".
Por isso, ele Monte diz que a Sinqia vai "continuar andando em conjunto [com o Banco Central]. O Real Digital pode impulsionar as inovações do setor, permitindo ter uma economia digitalizada, tokenizada, uma moeda digital de fato acontecendo, podendo impulsionar câmbio, conversas e conversões com moedas digitais, acelerando cada vez mais uma economia digitalizada e com controle do próprio regulador, que hoje é o que ainda falta em cripto".
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