Open Finance completa três anos no Brasil (Getty Images/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 18h05.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2024 às 18h28.
O Open Finance completa nesta quinta-feira, 1º, três anos desde o seu lançamento. Criado pelo Banco Central, o sistema faz parte da agenda da autarquia de digitalização da economia e permite o compartilhamento de dados entre instituições financeiras. E, no seu novo aniversário, especialistas apontam que o projeto acumula avanços, vantagens e desafios para continuar crescendo.
Dados divulgados pelo próprio Banco Central indicam que o sistema acumula mais de 42 milhões de consentimentos ativos de clientes para compartilhamento de dados. O número coloca o Brasil na liderança entre sistemas de open banking — como a prática é conhecida —, mesmo com o país lançando o serviço depois de outros mercados, como o Reino Unido.
À EXAME, especialistas avaliam que o Open Finance tem sido bem-sucedido em fomentar a inovação no mercado, permitindo que os bancos e fintechs criem novos produtos e soluções graças a um "panorama mais completo" sobre seus clientes e seus hábitos. Ao mesmo tempo, o projeto ainda tem potencial para ir além, mas para isso precisará ganhar mais funcionalidades e expandir sua base de usuários.
Rogério Melfi, gerente de Open Finance na TecBan, avalia que o sistema de compartilhamento de dados deu origem a "diversas possibilidades de desenvolvimento de novos produtos financeiros, adequados às necessidades e ao bolso dos clientes, gerando ainda mais valor para todo ecossistema financeiro.
"A implementação da plataforma facilitou a gestão de um novo sistema aberto no Brasil, além de reduzir a complexidade e acelerar a integração entre empresas, instituições financeiras, fintechs, seguradoras e insurtechs", ressalta. Ele pontua ainda que os dados mostram uma ampla base de usuários no Brasil, indicando o sucesso da iniciativa.
Entre as novidades que o sistema ganhou nos últimos anos, Melfi destaca a introdução da iniciação de pagamentos: "Quando um usuário adere ao Open Finance, ele passa a poder realizar diferentes pagamentos no aplicativo do banco no qual ele faz parte do sistema aberto. Mesmo que não haja vínculo entre o responsável pela operação, por exemplo, um local onde você esteja comprando um produto e a instituição onde você detém suas contas de depósito ou pagamentos. As operações acontecem de maneira imediata".
Ele considera ainda que o sistema foi capaz de reduzir fraudes ao aumentar a precisão na avaliação de risco de crédito, ajudar na oferta de condições de crédito mais vantajosas, reduzir custos, fomentar mais transparência, agilidade e eficiência e aumentar a concorrência entre os bancos.
"Temos observado que a concorrência entre os participantes está cada vez maior. Novas instituições financeiras estão surgindo nestes últimos anos. Algumas especificamente para atender o modelo de transação de pagamentos, que é voltado para o Open Finance, outras estão focadas em suprir as necessidades do público em geral, entendendo melhor cada segmento e se aproveitando disso para ganhar mercado. Isso também tem acontecido no Open Insurance, por exemplo, focado em seguros", lembra.
Gustavo Bresler, COO da fintech Iniciador e vice-coordenador do Grupo de Trabalho de UX do Open Finance no Banco Central, afirma ainda que o modelo brasileiro de compartilhamento de dados bancários se tornou uma referência global, reconhecida pelo Banco Mundial.
"A adesão ao Open Finance no Brasil já ultrapassou 11% da população, superando em termos absolutos e proporcionais o Reino Unido, pioneiro na implementação deste sistema. Esse sucesso reflete não apenas a eficiência do modelo brasileiro mas também seu histórico regulatório e a disposição do país em abraçar novas tecnologias financeiras", considera.
Para Bresler, o principal desafio para o avanço do projeto ainda é o "desconhecimento generalizado" sobre a iniciativa entre a população. Ele destaca que o Open Finance funciona mais como uma "caixa de ferramentas", viabilizando outros produtos e criando novas possibilidades. Em geral, porém, a contribuição dele nesse processo não chega ao público.
"Prevê-se uma mudança significativa neste ano, à medida que bancos e instituições financeiras se tornam mais capacitados para lançar seus novos produtos dentro deste ecossistema", projeta. Nesse sentido, ele diz que está "altamente otimista" para o futuro do sistema em 2024, em especial com o lançamento de novos produtos a partir de abril.
"Este ano promete ser um marco, com os bancos competindo para oferecer o compartilhamento de dados e realizar pagamentos automáticos entre contas do mesmo titular, uma funcionalidade conhecida como 'transferências inteligentes'. Este avanço sinaliza um futuro onde a automação financeira e a interoperabilidade com segurança regulatória ganharão ainda mais importância", afirma.
Já Melfi, da TecBan, acredita que um desafio importante da iniciativa é a adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LPGD). Uma pesquisa da própria empresa, divulgada com exclusividade pela EXAME, aponta que 52% dos brasileiros têm interesse em compartilhar dados financeiros, mas ainda há preocupações sobre segurança.
Além disso, ele acredita que "a evolução dos meios de pagamento e a inclusão financeira ganharam impulso durante os anos de pandemia, mas segue em crescimento e deve continuar agora em 2024, muito em razão de novas especificações e a chegada dos pagamentos automáticos, por exemplo, o Pix Automático e o Pix Recorrente".
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