Finanças descentralizadas, ou DeFi (putilich/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2022 às 18h00.
Última atualização em 30 de outubro de 2022 às 18h17.
DeFi significa Finanças Descentralizadas. A principal diferença em relação às finanças tradicionais (ou TradFi, como a comunidade gosta de chamar) é que você não precisa passar por um processo de identificação (KYC). Ao estar em um banco ou em uma exchange, nas finanças tradicionais você precisa fornecer suas informações pessoais. Isso não é necessário em DeFi.
Além disso, você também não precisa criar uma conta. Tudo o que você precisa fazer é conectar sua carteira desejada ao protocolo, ou seja, um conjunto de contratos inteligentes que se empenham para fornecer os serviços que você precisa, passando por todos os primitivos DeFi: o tema que vamos nos aprofundar hoje.
Antes de começar…
É importante lembrar a todos que nenhuma das informações abaixo são conselhos financeiros, se você planeja interagir com protocolos DeFi em criptomoedas, faça sua própria pesquisa e entenda que está sob seu próprio risco.
Inclusive, já fica a oportunidade de aprender duas gírias muito utilizadas no ecossistema DeFi e NFT: Not financial advise (NFA), significando “Não é conselho financeiro” e Do your own research (DYOR), significando “Faça sua própria pesquisa”.
Por que você deveria estar em DeFi:
As finanças tradicionais (TradFi) são muito mais caras por sua natureza. Segundo uma estimativa do Banco da Inglaterra, a TradFi gasta cerca de U$20B em processamento de comércio anualmente, enquanto poderia economizar até 80% dos custos de liquidação após o comércio ao utilizar a tecnologia de registro distribuído (DLT), e é assim que DeFi funciona.
Alguns motivos do porque você deveria estar em DeFi:
- O alto custo para atender os clientes e manter a infraestrutura nas finanças tradicionais significa que há menos espaço para inovação e pensar realmente no que é melhor para o cliente.
- Não ter um intermediário. O fato de DeFi funcionar em uma base peer-to-peer significa que você tem a custódia de seus ativos e está no controle.
- veTokenomics. A votação em escrow tokenomics (resumidamente, é um modelo de economia de token que traz um envolvimento muito mais da comunidade, onde membros da comunidade podem ser donos do token de governança e votar em diversas propostas da DAO.
A difereça para uma DAO comum é que todo o modelo tokenômico está voltado para isso) é um modelo pioneiro da Curve Finance, funciona da seguinte forma: tokens de governança são bloqueados em troca de poder de voto, o que significa que a comunidade tem o poder de inserir suas opiniões no próprio mecanismo e trabalhar em atualizações com a equipe do protocolo. Você já tentou fazer isso com um banco?
- Transparência: os registros são imutáveis no blockchain.
- Descentralização: isso significa que os protocolos distribuem uma grande parte dos ganhos. Você pode usar o protocolo para seus propósitos naturais ou simplesmente participar sendo um membro da comunidade e de várias outras formas — por exemplo, fornecendo liquidez — e obter parte dos lucros.
Coisas a considerar antes de entrar em DeFi
DeFi é um ecossistema incrível, e há muitos aspectos positivos nele, mas é claro que também há aspectos negativos:
- O ecossistema DeFi ainda está em sua infância. Então, é claro, há muito espaço para crescer tanto em serviços quanto em maturidade.
- Incerteza: esses dApps (aplicativos descentralizados) dependem do blockchain em que estão baseados. Isso significa que, se houver instabilidade com o blockchain, haverá instabilidade com o protocolo também.
- Vulnerabilidades nos Contratos Inteligentes: é claro que você já ouviu falar de vários roubos milionários através de muitos protocolos diferentes em DeFi, isso acontece não apenas por possíveis erros dos desenvolvedores, mas por baleias manipulando o mercado — isso acontece quando um investidor com poder de capital muito acima da média (uma baleia) utiliza de sua força para comprar quantidades enormes de um certo token para manipular a oferta e demanda, fazendo com que o preço caia ou suba — já que há muito mais maneiras de fazer isso do que no mercado tradicional.
- Baixa Liquidez: como dissemos antes, DeFi ainda está em sua infância. O valor total bloqueado (TVL) nos protocolos DeFi ainda é uma gota no oceano quando comparado aos sistemas financeiros tradicionais.
- Baixa Interoperabilidade: como explicado neste artigo, existem muitos blockchains e Layers-2. Hoje em dia, ainda é difícil interagir entre todos esses projetos diferentes. Até que isso se torne mais simples, muitos projetos estão operando isolados.
- Responsabilidade: lembre-se, não há um intermediário, o que significa que todos os riscos são seus. Perdeu suas chaves? Sumiu. O dinheiro dessa carteira? Não recuperável. Com a liberdade vem muita responsabilidade.
Quais são os diferentes tipos de blockchain e "Layers-2”
Existem quatro principais tipos de blockchain que vamos discutir brevemente (já que isso não é o foco deste artigo):
- Blockchains públicas, como: Bitcoin e Ethereum;
- Blockchains privadas, como: R3 Corda
- Blockchains híbridas, como: Dragonchain
- Blockchains de Consórcio, como: Hyperledger
O que são Layers-2 e o que isso tem a ver com DeFi:
O motivo pelo qual expliquei sobre os diferentes tipos de blockchain é para podermos falar sobre as segundas camadas (Layers-2). São redes em camadas que ficam em cima do blockchain. Existem várias opções de Layer-2 e o principal motivo pelo qual as pessoas optam por qualquer uma delas é que, com o aumento do número de transações na camada 1 (exemplo: bitcoin e ethereum), as redes estão ficando congestionadas.
Aqui estão alguns dos benefícios das soluções das Layers-2:
- Aumento do número de transações por segundo (TPS), melhorando a experiência do usuário e reduzindo o congestionamento da rede na mainnet (o blockchain Ethereum, por exemplo);
- As transações são consolidadas em um pacote antes de serem registradas na mainnet, o que reduz as taxas de gás;
- Eles usam a segurança da mainnet enquanto melhoram outros aspectos com atualizações;
- Permite aplicativos específicos que foram projetados para otimizar certos recursos;
E aqui estão alguns dos desvantagens das Soluções da Camada 2:
- Pode remover a liquidez da blockchain primário;
- Vulnerabilidades potenciais de segurança e privacidade;
- Pode impedir ou dificultar interação entre aplicativos de diferentes blockchains e/ou outros aplicativos baseados em Ethereum;
Dois exemplos de Layer-2:
Starknet
A StarkNet é um ZK-Rollup descentralizado sem permissão. A solução ZK-Rollup é uma maneira de aplicar o que falamos antes: as transações são consolidadas em lotes. Ela economiza esforço computacional e mantém a privacidade sendo uma versão colapsável de um lote de transações que pode ser verificada sem mostrar todos os detalhes.
Ela opera como uma rede Layer-2 sobre a Ethereum, permitindo que qualquer aplicativo descentralizado (dApp) atinja uma escala ilimitada para sua computação sem comprometer a composição e a segurança do Ethereum.
Pessoalmente, acredito que esta é uma das fontes mais promissoras de grandes projetos em DeFi e Web3 em geral.
zkSync
A zkSync está construindo uma solução de zk-Rollups, como explicado anteriormente, mas ao contrário da StarkNet, utiliza uma solução zkEVM (Ethereum Virtual Machine), o que quer dizer que utiliza a linguagem principal da rede Ethereum, Solidity, o que faz com que desenvolvedores da rede ethereum adotem a L-2 com maior facilidade.
E o que a Alma DAO tem a ver com isso?
Nosso propósito é nos tornar uma Investment DAO, que, resumidamente, se trata de uma organização descentralizada trabalhando por meio de finanças descentralizadas. No momento atual, não chegamos lá. Mas estamos com alguns produtos no forno que serão de alto interesse para builders Web3, founders Web3, founders Web2 que querem aprender e/ou migrar para Web3 e investidores.
Além disso, o projeto de dois de nossos membros aqui na Alma DAO, Guilherme Bettanin e Pedro Bergamini, será baseado na StarkNet e zkSync, é a Zero Day Labs, como aparece na imagem acima na aba de DeFi. Trata-se de um laboratório de pesquisa em Ethereum e Starknet que está desenvolvendo seu primeiro produto: um protocolo descentralizado que permite a criação e negociação de ativos sintéticos com integração entre blockchains. Nessa plataforma você conseguirá negociar tokens atrelados à preços de ativos reais como commodities, forex, ações etc.
Alguns dos primitivos em DeFi:
- Oráculos para fornecer os dados de preços mais recentes e precisos. Essas ferramentas criam uma ponte entre o mundo real e o mundo cripto, trazendo dados de fora da=o blockchain (off-chain) para a=o blockchain (on-chain) para que os contratos inteligentes possam usá-los.
Fornecer aos contratos inteligentes a capacidade de executar usando entradas de dados fora do blockchain estende o valor das aplicações descentralizadas. Um bom exemplo de oráculo relacionado à layer-2 da StarkNet, como citado acima, é a Empiric Network, que utiliza um modelo distribuido para publicação de dados on-chain.
- Cofres para armazenar com segurança fundos para fins que incluem fornecer liquidez. Um cofre pode receber criptomoeda como um saldo de ativos normal em sua conta, mas também pode impedir que a criptomoeda armazenada seja imediatamente retirada adicionando etapas de segurança opcionais.
Eles também podem ser usados como instrumentos de investimento que empregam estratégias específicas para o cultivo de rendimentos (yield-farming), fazendo uso de automação para investir e reinvestir continuamente os fundos depositados, o que ajuda a alcançar altos níveis de juros compostos e economizar em taxas.
- Criadores de mercado automatizados (AMMs) para automatizar e remover a dependência de terceiros no processo de fornecimento de liquidez. Basicamente, os AMMs substituem o modelo de livro de encomendas (order book) permitindo que ativos digitais sejam negociados de forma que não necessitam de permissões e automatizados por meio de pools de liquidez. Seus usuários fornecem liquidez com tokens crypto, cujos preços são determinados por uma fórmula matemática constante.
- Mineração de liquidez: é um processo fortemente necessário em que os usuários fornecem liquidez para aplicativos financeiros descentralizados e recebem recompensas por isso. Sem isso, as aplicações DeFi teriam um grande problema para praticamente todos os seus propósitos.
- Emprestar/pedir emprestado para permitir uma funcionalidade aumentada mantendo a propriedade do ativo garantido ou — do lado do empréstimo — ter a oportunidade de ganhar rendimento. O empréstimo e a solicitação de empréstimo podem ocorrer de forma centralizada ou descentralizada em crypto. Focando em DeFi: permite que os usuários o façam de uma maneira em que um indivíduo tenha um controle completo sobre seus fundos a todo momento. Isso é possível por meio do uso de contratos inteligentes. Essas plataformas podem ser usadas por qualquer pessoa em qualquer lugar sem que elas precisem entregar seus dados pessoais a uma autoridade central.
- Ativos sintéticos oferecem exposição a um ativo sem detê-lo, seja um ativo on chain ou off chain, mas negociando-os on-chain. Isso tem uma série de vantagens, incluindo a redução do atrito ao trocar diferentes ativos entre si, a ampliação da acessibilidade a certos ativos e protocolos e a resistência à censura e manipulação de dados.
- Ferramentas de governança para garantir avanços democráticos e participativos no espaço DeFi. Exemplo: Snapshot, para garantir que todas as decisões votadas pela Organização Descentralizada Autônoma (DAO) sejam armazenadas no blockchain e que todos possam acessá-las. Outro exemplo: Gnosis, um tipo de cofre — conforme explicado acima — para garantir que todos possam ler o saldo, as transações e várias outras informações da entidade para que todo o processo aconteça sem a necessidade de confiança entre as partes.
- Derivativos: permitem que os usuários obtenham exposição a perfis de risco/recompensa dos ativos subjacentes sem possuí-los. Os derivativos podem ser alavancados para ampliar perfis de risco/recompensa. Os tipos mais comuns de derivativos em criptomoeda são futuros, opções e contratos perpétuos, conforme expliquei suas diferenças nesta publicação do Twitter.
- Curvas de ligação (bonding curves) compõem a infraestrutura descentralizada necessária para alocações de preço e tokens de forma que não necessita de permissão/autorização. São um conceito matemático usado para descrever a relação entre preço e oferta de um ativo de maneira que o preço não seja afetado por nenhum fator externo
- Índices: eles foram projetados para servir como benchmarks para o desempenho de um conjunto selecionado de criptomoedas listadas em bolsas abertas reconhecidas enquanto atendem a critérios de liquidez e capitalização do mercado.
- Mercados monetários para fornecer fundos de curto prazo e negociar títulos, posições emprestadas e muito mais, são plataformas onde mutuários e credores podem se encontrar. Os mutuários são obrigados a pagar juros aos credores e uma taxa ao mercado monetário por facilitar o acordo. A taxa de juros proporciona liquidez adequada tanto para mutuários quanto para credores.
- Stablecoins para fornecer uma alternativa à alta volatilidade das criptomoedas mais populares. São criptomoedas cujo valor está atrelado a outra moeda, commodity ou instrumento financeiro. Elas podem ser garantidas por moeda fiduciária, garantidos por criptomoeda ou serem algorítmicas, esta última opção tendo a principal diferença que o valor é mantido estável controlando sua oferta através de um algoritmo.
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