Future of Money

Nova líder da Bitso no Brasil não vê "briga" com grandes corretoras internacionais de cripto

Em entrevista exclusiva à EXAME, Bárbara Espir falou sobre planos ao assumir o comando da companhia e o futuro da regulação do setor

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 22 de outubro de 2024 às 17h16.

Última atualização em 22 de outubro de 2024 às 17h39.

Tudo sobreCriptomoedas
Saiba mais

A Bitso anunciou em setembro o nome de Bárbara Espir como a nova líder da empresa de criptomoedas no Brasil. Em entrevista exclusiva à EXAME, a executiva falou sobre seus planos à frente da companhia, o cenário regulatório brasileiro e destacou que, em sua visão, "não tem briga" com grandes corretoras internacionais que expandiram suas operações no Brasil nos últimos anos.

Espir destaca que uma de suas principais metas no comando da Bitso é "proporcionar a parte de educação financeira e incrementar o número de clientes mulheres dentro da plataforma de varejo. Não apenas trazer novas clientes, mas também incrementar e ter mais mulheres na liderança da Bitso. É uma iniciativa inclusive a nível global e quero cumprir essa meta até o final de 2025".

Ela lembra que, "em geral, apenas 1% das mulheres assume posições C-level na América Latina. É uma baita responsabilidade, mas fiquei muito animada e é muito positivo porque muitas mulheres se sentiram representadas".

Futuro da Bitso no Brasil

A executiva destaca que a Bitso tem se "dedicado muito" a atrair clientes institucionais para suas plataformas desde o início de 2023, algo que deve continuar. "Não deixamos de servir, dar a importância para o varejo, mas devemos seguir com os produtos para clientes institucionais, seja para pagamentos locais e transfronteiriços com cripto e também fazendo essa ponte entre cripto e o mercado de câmbio tradicional", ressalta.

Ela pontua que a empresa tem visto "bastante demanda" no mercado para essas soluções. Recentemente, a Bitso também anunciou que vai integrar um consórcio com outras empresas para criar uma stablecoin pareada ao real, algo que "deve tomar um pouco de tempo, energia e dedicação, mas vai ser superinteressante".

Espir também promete "reativar" a comunidade da Bitso no Brasil. O esforço ocorre em meio ao avanço de grandes corretoras da Ásia e dos Estados Unidos no mercado brasileiro, em especial com a chegada da Coinbase e da OKX em 2023 e a consolidação da Binance nos últimos anos.

Sobre o tema, ela opina que "cada exchange tem um viés muito particular. A gente entende que a Binance tem um foco muito mais de negociação diária, com muito mais pares que a gente, mas a UX da plataforma é mais difícil, truncada, é um pouco diferente o tipo de cliente que vai para lá e um pouco diferente do nosso tipo de cliente".

"Já a Coinbase, a Crypto.com, essas corretoras internacionais têm aqui uma parcela de mercado muito pequena ainda e produtos também limitados. A Bitso sempre quis se posicionar no Brasil como uma empresa local. Estamos aqui há mais de dois anos e temos mais de 100 empregados, reportamos nossas operações à Receita Federal. A gente se considera uma empresa local e acho que não tem briga ainda com as exchanges internacionais", diz.

Em relação ao avanço das discussões e projetos de tokenização de ativos, Espir comenta que o tema "não está no nosso radar imediato", mas tem sido explorado a nível global, em outras jurisdições. A ideia é "trocar figurinhas e estar mais perto desse produto. Pode ser um caso de uso que faça sentido explorar".

Drex e regulação

Para a nova líder da Bitso, "o Drex não assusta, pelo contrário. Temos visto o projeto com bons olhos". Ela reconhece porém que "uma das perguntas que mais aparecem para a gente é se o Drex vai matar as stablecoins".

"A conclusão neste momento, a menos que tenha uma mudança significativa na estrutura e no conceito, é que não, tanto que todos os players do segmento de stablecoins estão nos grupos de trabalho e conversando com Banco Central e bancos sobre o assunto. São duas tecnologias complementares. O Drex é de atacado, mais para os bancos e instituições de pagamento", avalia.

A tendência, projeta, é que o Drex e as criptomoedas consigam coexistir, com a possibilidade do projeto do Banco Central "ficar mais focado no mercado tradicional e as stablecoins nas prestadoras de serviços com ativos virtuais [VASPs], em uma dualidade. Mas as stablecoins também são ser reguladas pelo Banco Central, então em algum momento vai ter esse encontro".

Ainda no tema de regulação, a executiva vê a exigência de segregação patrimonial entre os ativos das corretoras e os de clientes como "essencial" e inevitável para o setor. "Se formos ver as outras licenças para instituições financeiras, de pagamento, está lá. É uma regra básica, até para mitigar riscos sistêmicos e resguardar os consumidores", lembra.

Ela destaca, porém, uma das polêmicas atuais no processo de regulamentação do setor: "O Banco Central colocou a princípio que bancos conseguiriam operar automaticamente como VASPs, mas empresas com outras licenças deveriam apresentar documentação adicional. É um assunto que o mercado, de maneira geral, está conversando com o BC e pode rever, é algo mais crítico".

"A Bitso sempre buscou, desde que começou a operar no Brasil, essa segurança jurídica, e finalmente vai vir. A ideia é que consiga ter a menor carga possível operacional extra. Mas ainda restam questões. A VASP tem que ser uma instituição 100% segregada da IP? Precisa duplicar todos os esforços? Entendemos que, a princípio, isso não faz sentido e não parece ser a intenção do Banco Central", diz.

Para ela, "o Banco Central quer manter o controle sobre o mercado, exigir que as empresas tenham representação no Brasil, ter informações financeiras disponíveis em caso de investigação. São esses os interesses, não inviabilizar a operação".

O processo também deverá ser importante para ajudar a "entrada do brasileiro no sistema cripto". "Muitos ainda veem cripto como algo muito arriscado. Tem muitos golpes, mas estamos diariamente lutando contra golpistas, que existem em todos os setores, mas principalmente no financeiro. Então acho que estar sempre à frente e buscando dar mais segurança, transparência para os clientes e educação financeira vai fazer com que a gente tenha o maior numero de adeptos no mercado", defende.

"Se pensarmos no cartão de crédito, a pessoa pega um pedaço de plástico, passam em uma máquina e só depois chega na fatura. A pessoa não sabe e nem precisa saber como funciona o processo, mas ela usa porque confia no cartão, no banco, aí que está a importância da regulamentação. É um selo de confiança, de legitimidade para nós, as empresas de cripto que, mesmo com todos os nossos recursos e esforços, não conseguiríamos obter de outra forma".

Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube Telegram | TikTok

Acompanhe tudo sobre:CriptomoedasCriptoativos

Mais de Future of Money

Sam Altman diz que criptomoedas podem ter "futuro brilhante" e elogia Worldcoin

Evento reúne BC, CVM e mercado para debater futuro da economia digital no Brasil

Tokenização de venture capital: mais autonomia ao investidor

À vista ou a prazo? Pix ou Drex? A evolução dos pagamentos na visão da Cielo