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Mercado cripto vê "momento crucial" em caso Binance e oportunidade para concorrentes

Executivos afirmaram à EXAME que empresas aderentes às regulações de cada país deverão ser beneficiadas pelo caso

Binance perdeu CEO e precisará pagar multa para encerrar investigação nos EUA (Reprodução/Reprodução)

Binance perdeu CEO e precisará pagar multa para encerrar investigação nos EUA (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 22 de novembro de 2023 às 17h11.

A saída de Changpeng Zhao do cargo de CEO da Binance e um acordo bilionário com o governo dos Estados Unidos para encerrar investigações podem representar um novo capítulo na história do mercado de criptomoedas, com mais maturidade e regras para o setor. É o que afirmam executivos de algumas das principais empresas do mercado à EXAME.

Nos últimos dias, o mercado foi pego de surpresa pelo anúncio de um acordo entre a maior exchange do mundo e o Departamento de Justiça dos EUA. Foi definido que, para evitar um processo por violação de leis de prevenção de lavagem de dinheiro, a Binance precisará pagar US$ 4,3 bilhões para o governo do país. Além disso, Zhao precisou renunciar ao cargo.

Com isso, a Binance e o mercado cripto perderam um dos seus mais famosos rostos. Em uma publicação nas redes sociais, o agora ex-CEO admitiu que cometeu erros: "É certo que não foi fácil desapegar-se emocionalmente. Mas sei que é a coisa certa a fazer. Cometi erros e devo assumir a responsabilidade. Isso é melhor para nossa comunidade, para a Binance e para mim. Binance não é mais um bebê. É hora de deixá-lo andar e correr. Eu sei que a Binance continuará a crescer e se destacar".

Já a corretora, que vai deixar os EUA, também admitiu que, quando foi lançada, "não tinha controles de conformidade adequados para a empresa que estava se tornando rapidamente, e deveria ter". "A Binance cresceu globalmente em um ritmo extremamente rápido, em uma indústria nova e em evolução que estava nos estágios iniciais de regulamentação, e a Binance tomou decisões equivocadas ao longo do caminho".

Entretanto, ela afirmou que "assume a responsabilidade por este capítulo passado". "Embora a Binance não seja perfeita, ela tem se esforçado para proteger os usuários desde o seu início como uma pequena startup e tem feito enormes esforços para investir em segurança e conformidade", indicando a importância do tema para o mercado de criptomoedas atualmente.

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O futuro do mercado cripto

Para Pedro Lapenta, head de research da Hashdex, as novidades em torno do caso Binance são positivas. Ele destaca a postura do governo dos EUA de firmar um acordo com a empresa, uma postura que é "relevante dentro da visão de regulação para os EUA, que vem avançando a passos lentos mas vem avançando. Era importante ter uma resolução dessa situação da Binance nos EUA, já que havia medo de que algo catastrófico poderia vir contra a corretora dentro desse litígio. Portanto, esse evento retira do radar dos investidores um risco de cauda potencial".

"A julgar pela reação de mercado após anúncio, seja pelas retiradas de fundos da Binance que estão normais ou pelo preço do BNB - token nativo da BNB Smart Chain - que também está relativamente normal, tudo sugere que a situação está sob controle, que a Binance consegue absorver essa multa bilionária e que não houve quebra de confiança pelo mercado perante à corretora, o que é importante para a saúde do mercado de cripto dado à relevância da corretora", pontua.

Já José Gabriel Bernardes, sócio da Fuse Capital, acredita que o caso deve ter "mais repercussões para a Binance especificamente do que para o próprio mercado de cripto". "O que isso pode, de fato, fazer em expectativas para o futuro do mercado? A gente já está vendo uma limpa de players “maliciosos” saindo do mercado. O mercado está virando algo muito mais maduro, mais sério, onde players locais, e players regulados, fazem a diferença".

"Acabou a época ou a fase de nenhum regulador entender o que é esse mercado, de ofertar produtos, fazer oferta e distribuição de ativos imobiliários sem o selo regulatório. Isso é factível em termos de lavagem de dinheiro também. Cada vez mais a gente vê uma tecnologia muito mais forte relacionada a isso. Menos empresas ou menos corretoras sendo usadas para lavagem de dinheiro", afirma.

Oportunidades

É uma visão semelhante à de Sebastian Serrano, CEO e cofundador da Ripio, empresa de tecnologia blockchain multiprodutos. Para ele, a tendência é que "os investimentos em organizações com esse perfil ético devem crescer". Ele também acredita que "o recente acontecimento fará com que as pessoas fiquem mais criteriosas sobre a empresa na qual confiam seus investimentos, exigindo mais transparência, segurança e compromisso forte com o compliance".

"O que aconteceu [com a Binance] vai servir de aprendizado para companhias do setor, e o aumento das exigências dos usuários vai incentivá-las a dar ainda mais atenção para esse cuidado", avalia. Mesmo assim, ele considera que "o mercado cripto vai continuar crescendo", sem grandes impactos pelo caso.

Daniel Vogel, CEO e fundador da corretora de criptomoedas Bitso, vê o caso da Binance como um "momento crucial para a indústria". Ele ressalta que as empresas que adotaram um "cumprimento normativo, a segurança e as práticas éticas" podem ter um crescimento mais lento no mercado, mas acabam tendo "sustentabilidade e a confiança a longo prazo".

Ele diz ainda que o cenário reafirma "nossa crença de que a transparência e o cumprimento normativo não são apenas opcionais, mas essenciais para o futuro das criptomoedas". "Embora sejam tempos turbulentos para a indústria, também representam uma oportunidade para a Bitso. Nosso compromisso com compliance e nosso foco proativo na regulação nos distinguem e continuarão sendo os princípios que nos orientam", ressalta.

Já Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios no Mercado Bitcoin, tem um tom mais duro, destacando que a saída de Zhao do cargo de CEO e a "admissão de culpa" da Binance "são claros indicativos de que a arbitragem regulatória e a mera simulação de conformidade não serão mais toleradas, especialmente nos Estados Unidos".

"Este movimento sugere uma tendência que pode ser adotada globalmente, incluindo no Brasil, onde a regulação cripto pelo Banco Central está em evolução", afirma. Tota diz ainda que "a tendência é um afastamento cada vez mais rápido e definitivo de criminosos como CZ [Changpeng Zhao] do universo cripto, à medida que a indústria se esforça para promover práticas mais éticas e transparentes".

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