Descubra as perspectivas da Chainalysis para o mercado cripto em 2023 (metamorworks/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2023 às 10h01.
O último ano foi marcado por importantes eventos e por um longo período de baixa de mercado que levaram a indústria de criptomoedas a uma nova fase. Grandes acontecimentos já planejados, como o Merge do Ethereum, e alguns inesperados, tal qual o colapso da FTX, desenharam o cenário no qual iniciamos 2023: com desafios a serem superados, mas dispondo de boas ferramentas para assim fazer.
É importante refletirmos sobre os principais aprendizados de 2022, que, de certa forma, acalmaram a euforia deixada pelas bonanças do ano anterior. Como um dos acontecimentos mais marcantes de 2022, o colapso da FTX nos lembrou da importância da transparência e da descentralização do poder - bandeiras inerentes da criptoeconomia e da Web3.
Um levantamento da Chainalysis indicou que a reação do mercado ao crash da exchange parece ter sido mais comedida do que as observadas no colapso da Celsius e da Three Arrows Capital (3AC) e na quebra do ecossistema UST-Terra, que exterminaram cerca de US$ 30 bilhões e US$ 20,5 bilhões, respectivamente - contra US$ 9 bilhões que desapareceram após o derretimento da FTX.
Por outro lado, a quebra da exchange acendeu uma luz amarela em aspectos além da flutuação dos preços: a transparência e o compliance nos investimentos em criptomoedas. Está claro que o colapso teve pouco ou nada a ver com o setor ou a tecnologia em si, já que parece ter sido resultado de decisões e ações da própria empresa.
Entretanto, o cenário de perdas se alastrou para outras companhias, o que pode ter incentivado o debate regulatório. No Brasil, após pressão de diversas associações e entidades do mercado financeiro e de capitais, o projeto de regulamentação das criptomoedas foi aprovado pelo Congresso Nacional após de sete anos de tramitação.
Enxergando o potencial desse setor, grandes players do mercado, como os membros da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), se posicionaram a favor do marco regulatório para garantir mais segurança jurídica para si e seus clientes. As empresas que já estão se preparando para essa nova fase da economia estarão melhor posicionadas para aderirem e oferecerem as soluções que nosso ecossistema está desenvolvendo.
Mesmo durante o período de baixa no mercado, o número de empresas brasileiras que declararam operações com criptomoedas à Receita Federal continuou a crescer. Em novembro de 2022 - mês no qual ocorreu o colapso da FTX -, mais de 45 mil CNPJs únicos reportaram compra de criptomoedas ao órgão, o que representa aproximadamente o triplo do total registrado em março do mesmo ano. Devemos observar um contínuo crescimento desse número, visto que mais empresas podem ser atraídas graças ao marco regulatório.
Neste ano, também devemos observar a consolidação das stablecoins e seu uso local. Em novembro de 2022, o Tether (USDT) - criptomoeda lastreada ao dólar americano - foi o ativo digital mais negociado no Brasil, à frente até mesmo do bitcoin.
Como a Chainalysis apontou no ‘2022 Geography Report'’, usuários de criptomoedas na América Latina têm recorrido às stablecoins como forma de proteger seus ativos da instabilidade cambial e da política da região. O levantamento indica que aproximadamente 26% de todas as pequenas transações de varejo com criptomoedas no Brasil foram feitas a partir de stablecoins. Essa classe de ativos deve ganhar ainda mais protagonismo neste ano.
O Brasil já tem um mercado de cripto ativos significativo - o 7º maior do mundo e 1º da América Latina, de acordo com o 2022 Geography Report -, e isso é terreno fértil para criação ou chegada de players e novos projetos.
Há diversos fatores macroeconômicos que podem influenciar o crescimento do setor e que devem ser acompanhados atentamente, como a alta global da inflação, junto ao aumento das taxas de juros, e o custo da energia elétrica. Além disso, é importante salientar que as criptomoedas são negociadas em nível mundial, estando suscetíveis a eventos que fogem ao cenário local no Brasil e na América Latina, como o conflito no Leste Europeu.
Apesar das projeções econômicas pessimistas para os próximos meses, com um ambiente econômico minimamente estável em 2023, a capacidade de disrupção do ecossistema cripto pode nos tirar desse cenário. Há uma enorme demanda por novas formas de propriedade comunitária e transações mais transparentes e diretas, e devemos ser os primeiros a alcançar, conhecer e desenvolver essas soluções.
*Brianna Kernan é líder de Vendas da Chainalysis para a América Latina. A Chainalysis é uma empresa de blockchain que fornece dados, software, serviços e pesquisas para mais de 700 agências governamentais, instituições financeiras e securitizadoras, além de empresas de segurança cibernética em mais de 70 países.
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