Mercado de NFTs disparou em 2020 (GettyImages/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2022 às 10h00.
Os volumes diários de negociações de NFTs atingiram um de seus menores patamares da história recente. Segundo o DappRadar, a OpenSea, o maior marketplace do segmento, registrou no último dia 28 de agosto um tombo de 99% no volume em 90 dias.
Quando se vê uma porcentagem dessas, a gente toma um susto. Normal. Muitos estão até falando em bolha NFT. Mas eles só estão olhando em uma perspectiva. E eu vou te provar.
Os itens dispostos para compra e venda nos marketplaces da categoria são, em sua maioria, artes digitais em forma de tokens não fungíveis. O mercado NFT, no entanto, vai muito além dos JPEGs.
Existe uma desinformação em torno da tecnologia. Principalmente porque, no auge do hype, que coincidiu com o ciclo de alta das criptomoedas, as obras colecionáveis monopolizaram os holofotes. Estamos falando aqui de Bored Ape Yacht Club, CryptoPunks e dos trabalhos multimilionários dos artistas Beeple e Pak.
Passado o FOMO, muitos detentores de NFTs estão se perguntando: o que vou fazer com isso? Aí, é que o negócio precisa fazer sentido. E a palavra mágica é “utilidade”. A expansão do conceito de NFTs de utilidade é a chave para que os tokens não fungíveis consigam reter o seu valor e aumentar a sua adoção no longo prazo.
Peguemos o BAYC como exemplo. Tudo começou com uma série limitada de ilustrações de macacos. Hoje, o projeto ganhou robustez e tem até seu próprio metaverso, “Otherside”, onde os detentores vão poder usar seus NFTs para engajamento social e econômico. Esses tokens atualmente já dão acesso a festas e eventos exclusivos, além de servirem como ativos para staking e empréstimos.
Os utility tokens, como são chamados globalmente, não estão limitados a JPEGs. Dentro da categoria, existe uma imensidão de aplicações que certamente vão ditar as interações no futuro.
Para que vocês tenham uma ideia do enorme potencial da tecnologia, vou apresentar neste texto uma resumida classificação dos NFTs de utilidade, que engloba uma boa parte das tendências atuais de casos de uso. A árvore de categorias foi elaborada pelo cientista da computação Miguel Cienfuegos, CTO da startup Vecury. Achei interessante trazer aqui para discutirmos o poder que têm essas ferramentas em blockchain.
Mas, primeiro, do que se trata essa utilidade? Trata-se do potencial de ser útil, lucrativo ou gerar algum benefício. Em alguns casos, pode estar vinculado ao valor econômico do item. Já em outros, ao seu caráter de apresentar uma funcionalidade específica.
A utilidade mais evidente de um NFT, por definição, é conferir a propriedade de um ativo digital ao detentor. Mas os benefícios podem ser estendidos também ao ambiente físico.
• PFP: são os tipos mais elementares, os NFTs “Profile Picture” ou PFPs. Tem gente que prefere chamar de JPEGs. São imagens criadas para uso como fotos de perfil nas redes sociais, como o fazem Neymar, Eminem e Snoop Dogg.
• POAP ou Protocolo de Prova de Presença: serve para marcas, empresas e comunidades oferecerem aos frequentadores uma prova de participação em seus eventos e experiências, sejam virtuais ou reais. São usados também por instituições para emitir certificados digitais de conclusão de algum curso ou programa.
• Identidade: são NFTs que permitem ao usuário ter uma identidade virtual própria para usar nas diversas plataformas da Web3. Podem ser caracterizadas também sob a forma de avatares.
Esses são os tokens não fungíveis que proporcionam experiências de acesso exclusivas a seus detentores, com benefícios que podem se estender também ao offline.
• NFTs de eventos: são os mais comuns da categoria. Marcas e empresas criam os tokens e vinculam a eles vivências e atrações exclusivas. Um caso de uso bastante popular são os NFTs de ingressos, que armazenam credenciais de acesso a um evento específico.
• NFTs de associação: são uma espécie de chave que desbloqueia acesso a serviços e recompensas de programas exclusivos. Pode ser acesso ao lançamento de um produto disputado ou de um cardápio de um restaurante de luxo. Às vezes, inclui até a participação com voto em decisões de uma marca.
• NFTs da comunidade: o acesso, neste caso, costuma ser a canais dedicados apenas para membros, como o metaverso de algum projeto ou o Discord, onde só detentores daqueles NFTs são permitidos. Nesses canais, são organizadas festas e encontros exclusivos para fortalecer o networking entre os participantes.
Esta categoria é autoexplicativa, inclui elementos que fazem parte da gamesfera Web3.
• Play-to-earn: são os NFTs comprados pelos usuários para evoluir dentro de um jogo, como personagens, acessórios tipo armas e tênis de corrida ou mesmo habilidades, por exemplo. Os itens podem ser utilizados como ativos caso o usuário deseje negociá-lo ou, se preferir mantê-lo, tem a opção de aplicá-lo para gerar renda passiva.
• Wearable: marcas como Gucci e Adidas levaram sua expertise para o virtual e estão criando moda para o metaverso. NFTs de roupas, acessórios e sapatos são uma febre e ajudam os usuários a customizar seus avatares. A subcategoria também inclui filtros de Realidade Aumentada (RA), roupas e acessórios visíveis apenas em RA que podem interagir com o mundo externo.
• Fantasy Sports ou esportes de fantasia: nos jogos do gênero, os usuários montam uma equipe com seus jogadores favoritos para disputar uma partida. Na versão para Web3, esses atletas viram cards em forma de tokens não fungíveis. Um dos exemplos mais populares desse universo é a plataforma Sorare, que combina fantasy game com NFTs. Recentemente, a empresa fechou uma parceria com a NBA para lançar um game baseado em cards colecionáveis das estrelas dos times, que poderão ser vendidos no mercado secundário.
Nesta categoria, os NFTs representam o direito de propriedade sobre um ativo digital ou físico, baseado em valor exclusivo. Podem ser vendidos, emprestados e alugados para outros usuários.
• DeFi: essa utilidade se dá quando os NFTs encontram o DeFi. Assim, o token não fungível ganha liquidez, sendo possível usá-lo para staking, dar como garantia a empréstimos e outras funcionalidades capazes de gerar rendimentos via aplicações de finanças descentralizadas.
• Direitos autorais: implica em uma transferência de direitos de marca registrada ou licenciamento para o item associado ao token não fungível. Desta forma, o detentor pode usufruir dos direitos de uso comercial do NFT. Quando o token é vendido, os direitos são repassados ao próximo titular.
• Digitais ou físicos: garantem a propriedade sobre ativos em blockchain ou reais que podem ser resgatados pelo detentor.
• Fracionados: como o nome diz, os NFTs são divididos em frações menores para que mais pessoas possam deter uma parte dele. Um exemplo foi o fracionamento da arte digital “The Merge”, do artista anônimo Pak, considerada uma das mais caras da história, vendida no ano passado por US$ 91,8 milhões. O total foi arrecadado de 28 mil compradores que adquiriram 266.445 unidades da obra.
Por fim, chegamos a eles, também conhecidos como NFTs vivos. Vivos porque não são estáticos como um PFP, por exemplo. Os metadados codificados no contrato inteligente dos NFTs desta categoria podem ser alterados com base em condições variáveis, como o tempo e outras informações externas, obtidos de fontes especializadas em monitorar dados off-chain. A NBA vem apostando em NFTs dinâmicos, que mudam de aparência com base no desempenho dos jogadores nas competições no mundo real.
Acredito que muita coisa aqui é novidade para você. Essas classificações, no entanto, traçam apenas um panorama atual das tendências do mercado. Podemos esperar muito mais. A indústria está se capitalizando e se abastecendo de profissionais que estão, a todo momento, produzindo inovações. Assim, veremos uma grande explosão disruptiva protagonizada pelos NFTs. Esse é só o começo.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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