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Ethereum com risco de queda? Entenda como atualização Shanghai pode afetar criptomoeda

Principal mudança na rede será a liberação de saques de ether atualmente bloqueados, o que despertou temores de redução na cotação

Nova atualização da Ethereum vai permitir saques de criptomoedas bloqueadas (Reprodução/Reprodução)

Nova atualização da Ethereum vai permitir saques de criptomoedas bloqueadas (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 11 de abril de 2023 às 14h48.

Última atualização em 13 de abril de 2023 às 10h17.

A Ethereum vai passar na próxima quarta-feira, 12, pela atualização Shanghai, o maior conjunto de mudanças no blockchain desde o "The Merge", em setembro de 2022. O mercado tem aguardado ansiosamente pela novidade, mas ela também alimentou temores de que o evento pode acabar levando à uma queda no preço da criptomoeda da rede, o ether, no curto prazo.

A atualização terá um foco na funcionalidade de saque de ethers atualmente depositados na rede. Desde a atualização em setembro, o blockchain adotou um mecanismo de consenso de prova de participação (proof-of-stake, em inglês), no qual os validadores apenas assumem a função caso depositem no mínimo 32 ethers na rede, uma modalidade conhecida como staking.

Em troca, os validadores recebem recompensas, também em ether, pelas validações de transações e movimentações realizadas. Mas essas recompensas também estão bloqueadas. E é aí que entra a Shanghai. A atualização permitirá, pela primeira vez, os saques da criptomoedas. Mas a nova funcionalidade também fez com que muitos investidores projetassem uma queda da cotação do ether devido ao aumento repentino de oferta em circulação quando os saques começarem.

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Preço da Ethereum vai cair?

Samir Kerbage, CIO da Hashdex, observa que, hoje, existem cerca de 18 milhões de ether em staking, ou cerca de US$ 34 bilhões. O número representa cerca de 15% de toda a oferta disponível do ativo atualmente. Entretanto, isso não significa que todo esse volume será despejado no mercado de uma vez, já que os próprios desenvolvedores da Shanghai adotaram formas de prevenir essa possibilidade.

"Embora os saques de ether pós-Shanghai estejam liberados, filas de depósito estão presentes tanto para a entrada quanto para a saída de validadores, introduzindo limites superiores no número de validadores que podem entrar ou sair do conjunto de validação em um dado intervalo de tempo, e reduzindo a pressão de venda teórica que estaria presente se muitos ethers fossem repentinamente retirados", explica Kerbage,

Graças a essa fila, no pior do cenário, em que todos os validadores solicitariam o saque de todos os ethers atualmente em staking, apenas 1.800 validadores conseguiriam sair do blockchain por dia. Atualmente, são 562 mil validadores exercendo a função na rede. Para Kerbage, esse número diário representaria uma "pressão vendedora pequena face aos volumes negociados de ETH diariamente nos últimos meses".

O maior risco, avalia ele, é na liberação de cerca de 1,1 milhão de ether que estão bloqueados não como parte do staking, mas sim como recompensas para os validadores. Mesmo assim, caso eles sejam sacados, "essa possível pressão vendedora, que não necessariamente se concretizará, pode ser facilmente absorvida pelo volume médio negociado na Ethereum".

Um relatório divulgado pela Binance nesta semana também converge nessa posição. Segundo os analistas da corretora de criptomoeda, atualmente a maior parte do ether em staking já possui liquidez, graças a serviços de exchanges e de protocolos como o Lido. Neles, cada ether depositado é convertido em um token que pode ser negociado, permitindo que os participantes tenham lucro ou saiam da iniciativa.

Segundo os dados da Binance, 57,7% dos validadores com ether atualmente em staking já possuem liquidez, e a corretora acredita que os detentores dessa criptomoeda "dificilmente" realizarão os saques. Além disso, apenas 31% dos validadores com ether em staking estão com lucro atualmente e teriam um benefício com o saque, indicando que a maioria não deve retirar o token no momento. Se isso se confirmar, o aumento de oferta em circulação deverá ser pequeno, com impacto limitado no preço.

Mudanças com a Shanghai

A Binance acredita que "muitos grupos de indivíduos estão esperando a Shanghai para depositar seus ethers, pois os saques removerão o risco de liquidez e a incerteza de um período de bloqueio previamente indefinido". Ou seja, a atualização deve atrair mais validadores no médio prazo, reduzindo a oferta do ether em circulação - o que ajuda na sua valorização - e aumentando a segurança da rede.

"De toda forma, mesmo que a atualização traga alguma incerteza de preço no curto prazo, é razoável esperar que um número grande de novos players passem a participar do staking de ether pós-Shanghai, uma vez que ele trará muito mais previsibilidade quanto à liquidez dos ethers depositados", ressalta Kerbage.

A expectativa da Hashdex é que mais players institucionais se somem à rede de validadores da Ethereum depois da atualização. "O cenário mais provável hoje é que não haja um movimento significativo de pedidos de saque após a Shangai. Pelo contrário, o que devemos ver nos próximos meses é uma quantidade bem maior de ether sendo depositado em staking. Por isso estamos otimistas com relação à movimentação do preço do ether após o upgrade".

Já José Gabriel Bernardes, sócio da Fuse Capital, ressalta que, mais importante que o impacto imediato sobre o preço, será preciso acompanhar os impactos concretos da Shanghai na dinâmica de validadores e staking do blockchain. Com a possibilidade da saída via saque, será preciso ver se os validadores "ainda vão estar animados para manter uma rede segura, escalável e transparente". Se o número de validadores cair significativamente, a segurança da rede será posta em prova, o que pode afastar investidores e derrubar o preço da criptomoeda.

"É importante ver esse mecanismo de fila de espera, se vai ser o suficiente para manter os validadores iniciais e conseguir que, se ocorrer um fluxo muito grande de validadores saindo, a rede continue sendo segura, transparente", opina Bernardes.

Para ele, "é difícil ter uma venda enorme porque os validadores ganham um  lucro em cima da validação da rede. Há espera na fila de entrada também, não só de saída. É preciso manter a Ethereum descentralizada, o que não é tão fácil. Esse evento tem chamado muita atenção, mas é só um passo na centena de passos que a Ethereum está construindo para de fato ser a rede mais segura, escalável e transparente do ecossistema blockchain".

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