Ethereum passou por importante atualização em setembro (Capuski/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2022 às 11h00.
Aconteceu há menos de um mês um dos eventos mais aguardados deste ano por entusiastas das criptomoedas - a atualização ‘The Merge’ da Ethereum. A criptomoeda desse blockchain, o ether é a segunda mais utilizada no mundo, atrás somente do bitcoin. Entretanto, quando falamos de transações institucionais ou em grande valor, o ETH assume a liderança global.
Planejada há cerca de cinco anos, a atualização tem como objetivo alterar a dinâmica de funcionamento da rede Ethereum, que passa operar sob o mecanismo de consenso proof-of-stake (prova de participação), ao invés do tradicional proof-of-work (prova de trabalho).
Cada transação ou transferência feita com criptomoedas gera um novo bloco de informações que é adicionado ao blockchain. Para que este novo bloco seja integrado à rede, é necessário confirmar que os dados ali contidos são verdadeiros - processo chamado de validação.
Tradicionalmente, a validação desses blocos acontece em uma competição entre mineradores: o proprietário do primeiro supercomputador que resolver o cálculo é remunerado com duas unidades de ether mais taxas de transação pela descoberta. Essa dinâmica é chamada de proof-of-work.
No proof-of-stake, por outro lado, um único endereço é escolhido para validar o novo bloco. Com essa mudança na dinâmica, espera-se que a Ethereum reduza seu consumo de energia elétrica em mais de 90%. De acordo com um levantamento do site Digiconomist, o consumo de energia pela rede no início de setembro era de 77,77 bilhões de Quilowatt-hora [kWh]/ por ano. Após o ‘Merge’, esse total chegou a menos de 10 milhões kWh/por ano.
A validação proof-of-work de uma única transação com ETH gasta aproximadamente a mesma quantidade de energia elétrica que uma família de classe média dos Estados Unidos por uma semana, afirma o Digiconomist. Com isso, a ETH deve ter sua pegada de carbono reduzida drasticamente - multiplicando as chances da criptomoeda aumentar sua aceitabilidade no mercado e entre formuladores de políticas regulatórias.
A Ethereum Foundation, uma organização sem fins lucrativos dedicada à criptomoeda, afirma que o Merge também permitirá que a rede hospede mais tecnologias robustas e isso deve potencializar ainda mais a participação do ETH em finanças descentralizadas (Defi). De acordo com dados do DeFi Lama, a Ethereum hospeda cerca de 62% de todos os produtos DeFi.
Primeiramente, desde o ‘Merge’, o preço do ether caiu 11,2% até a última segunda-feira, 3. Entretanto, a queda não significa, necessariamente, que a atualização falhou. Investidores e traders podem ter reagido muito rapidamente ao negociar ETH após o evento - pressionando os preços para baixo.
Além disso, os mineradores ainda estão se realocando em busca de cadeias alternativas de Proof of Work - entretanto, nenhuma tem o mesmo valor de mercado que a Ethereum. Até o dia 23 de setembro, aproximadamente uma semana após o ‘Merge’, os mineradores já tinham vendido cerca de US$ 319 milhões, ou pouco mais de R$ 1,5 bilhão em ETH represados, aumentando a quantidade disponível no mercado e, por conseguinte, derrubando os preços.
O PoS também permite maior escalabilidade - isto é, quanto uma tecnologia é capaz de atingir um número grande de usuários, mantendo a qualidade do serviço.
O ‘Merge’ provavelmente estimulará mais desenvolvimento no ecossistema da Ethereum. Grandes instituições financeiras geralmente se interessam pelas áreas mais estabelecidas de cripto, como Bitcoin e Ethereum. Com a atualização, a atividade institucional na rede aumentará principalmente no staking - ferramenta que oferece rendimentos equivalentes, se não maiores, do que os instrumentos tradicionais de renda fixa. A Taxa de Porcentagem Anual (APR, na sigla em inglês) do ‘staking’ na Ethereum pode chegar a 10% ao ano.
É provável que as mudanças mais significativas do ‘Merge’ sejam perceptíveis somente após um certo tempo. Possivelmente, os investidores ainda estão ‘vendendo as notícias’ em busca de novos players para a rede. Grandes instituições devem se sentir mais confortáveis na nova rede Ethereum conforme ela amadurece e se consolida.
Esse movimento ganhará peso e crescerá exponencialmente conforme a aprovação de projetos regulatórios nos principais mercados de criptomoedas do mundo. No caso do Brasil, o Projeto de Lei 4.401/2021, que regulamenta o uso e venda de ativos digitais no país, aguarda a apreciação pela Câmara dos Deputados desde abril, quando foi aprovado no Senado Federal.
*Brianna Kernan é Líder de Vendas da Chainalysis para a América Latina
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