Bitcoin pode cair para a casa dos US$ 13 mil se seguir últimos padrões de ciclos de queda (Getty Images/Reprodução)
As criptomoedas tiveram um 2022 difícil, com fortes perdas e longos períodos de lateralidade. O bitcoin, principal ativo do mercado, acumulou sozinho uma perda de 70% em relação ao pico que atingiu em 2021. E, na visão de analistas consultados pela EXAME, o primeiro trimestre de 2023 ainda deve ser fraco para o setor.
No caso do bitcoin, há a visão de que o ativo ainda tem espaço para novas quedas. Entre investidores, porém, as divergências são maiores: enquanto alguns esperam que a criptomoeda chegue a US$ 8 mil nos três primeiros meses do ano, outros esperam que ela se recupere e atinja os US$ 22 mil.
Entretanto, qualquer aposta concreta enfrenta algumas dificuldades naturais do setor de criptoativos, em especial a alta volatilidade e a abertura para novas surpresas, o que dificulta uma projeção mais precisa. Mesmo assim, o desempenho do ativo neste trimestre pode estar em um meio do caminho.
Rodrigo Zobaran, analista da Kinea, avalia que 2022 comprovou que as cripomoedas começaram a se comportar mais como outros ativos de risco devido ao crescimento de sua popularidade e adesão. Se antes o segmento acompanhava menos os movimentos das bolsas, a entrada de investidores institucionais e pessoa-física mudou esse quadro, criando uma correlação de preços.
Por isso, ele acredita que o importante agora é “olhar para o mercado tradicional. Se a situação macroeconômica do mundo for boa, em especial no Estados Unidos, as criptomoedas e o bitcoin vão bem. Se não, acho difícil ter esse descasamento, no máximo para baixo”.
Zobaran diz ainda que o setor pode acabar sendo prejudicado caso ocorram problemas como o da FTX, cuja falência mostrou que as criptomoedas ainda enfrentam “riscos sistêmicos grandes”. Se outras empresas quebrarem, não é impossível que a inflação nos Estados Unidos alivie, as ações nas bolsas norte-americanas subam e os criptoativos caíam.
Mesmo assim, o analista considera que o mais provável atualmente é que o primeiro trimestre ainda seja mais negativo para a economia global, e portanto o bitcoin e outras criptomoedas seguirão esse quadro, com possíveis movimentos de queda: “não tem nenhum desenvolvimento [obvio que me faça achar que [as criptomoedas vão] descolar”.
Já Ayron Ferreira, head de análise da Titanium Asset, lembra que, nos padrões históricos, o bitcoin costuma cair cerca de 80% em relação a sua máxima antes de iniciar o próximo ciclo de alta. Até o momento, ele recuou 70%, o que indica um possível espaço adicional para queda.
Esse espaço, caso concretizado, levaria a criptomoeda para a casa dos US$ 13 mil, considerando a cotação atual de pouco mais de US$ 16 mil. Para isso ocorrer, Ferreira diz que “vai depender muito de todo o ambiente macroeconômico, que se correlaciona muito”.
“Se tiver um ambiente de juros em estabilização e inflação em pico, tem um Fed menos agressivo, e quando o Fed dar sinais de conforto com a inflação, poderia ver valorização do bitcoin, uma nova pernada de alta”, explica.
Porém, ele acredita que o primeiro trimestre de 2023 tende a ser o pior para o bitcoin, já que é nele que a inflação dos Estados Unidos deverá ter números ainda fortes, indicando uma economia ainda aquecida e exigindo um discurso duro do Federal Reserve sobe o combate à inflação via altas de juros, o que afasta investidores de ativos de risco.
“Vão ser os meses mais desafiadores e decisivos. Acho que se fosse para cair mais, seria agora, e isso seria bem-vindo para corrigir o preço logo e chegar em patamares mais baixos”, opina Ferreira. O motivo é que, na sua visão, preços menores do bitcoin criam boas oportunidades de compra tendo em visto a valorização potencial da criptomoeda no longo prazo.
Para Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management, a tendência é que a maior criptomoeda do mercado opere de lado no primeiro trimestre, sem grandes variações na sua cotação. A perspectiva dele é de recuperação para o ativo em 2023, mas apenas nos trimestres subsequentes.
Mesmo assim, ele considera que “se fosse pra cair mais 10%, seria nesse primeiro trimestre. As quedas adicionais têm que ser vistas como oportunidade de compra, crescimento, não com medo, porque bitcoin é algo de longo prazo, não pra três meses, um ano. É negativo ficar preso ao horizonte curto”.
Ele afirma ainda que será muito provavelmente neste primeiro trimestre que o mercado terá sinalizações sobre o grau de disseminação da falência da FTX, e se ela gerará novas vítimas: “Não tem como afirmar que o pior já passou, mas espero que sim, quanto mais tempo passa, maior as chances das coisas virem à tona. A virada de trimestre é o horizonte para tudo vir à tona”.
Ludolf considera importante observar também os movimentos de agentes reguladores no começo do ano depois dos prejuízos gerados pela FTX. Ele explica que “os reguladores estão com sangue nos olhos, então há uma espera para ver a linha da regulação que vai vir e o que vai causar no ecossistema. Essa espera pode inclusive ser a causa da falta de volatilidade atual”.
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