Salário digno: como a Natura calcula o mínimo que seus funcionários devem receber para viver bem
Empresa de cosméticos desenvolveu um método para definir o piso salarial na empresa e estabeleceu meta, atingida em 2023
Repórter de ESG
Publicado em 15 de janeiro de 2024 às 10h11.
Última atualização em 16 de janeiro de 2024 às 11h29.
A Natura&Co , grupo que inclui marcas como Avon e Natura, anunciou que atingiu a meta de oferecer salário digno para todos os funcionários na América Latina. O compromisso faz parte da Visão 2030, estratégia de sustentabilidade da fabricante de cosméticos, lançada em 2020 e atualizada em 2023. Gleycia Leite, diretora de compensação, organização e gestão da companhia, disse à EXAME que essa questão não é apenas econômica.
“Estamos falando em Direitos Humanos, não é mais falar só da questão econômica. O nosso compromisso com a dignidade humana busca eliminar essas desigualdades, então o letramento das pessoas gera esse entendimento para sairmos das grandes bolhas sociais nas quais podemos estar inseridos”, afirmou.
O conceito de renda digna vai além da noção de salário-mínimo. Ela é calculada tendo como base uma pesquisa de custo de vida para uma vida decente, com acesso à alimentação, água, habitação, educação, saúde, transporte, vestuário e outras necessidades essenciais adaptados ao local onde o funcionário mora.
Como a renda digna é calculada?
“O primeiro desafio foi estabelecer qual é o parâmetro comparativo porque sabemos que cada país tem uma realidade, e às vezes realidades distintas em um mesmo país”, explica Leite. A Natura&Co buscou métricas que tivessem granularidade suficiente para respeitar essas diferenças e ter coerência. Uma das metodologias utilizadas foi a Integrated Profit & Loss Accounting (IP&L ou Contabilidade Integrada de Lucros e Perdas), lançada em 2022 e que consegue mensurar e monetizar o impacto dos negócios nos capitais humano, social e ambiental.
Como base para o desenvolvimento da metodologia, a empresa utilizou os dados da Wage Indicator Foundation, uma organização social que calcula a renda digna em mais de 140 países. Os dados disponíveis na plataforma da organização mostram quem, em 2023, considerando a região de São Paulo, o mínimo que uma pessoa precisaria ganhar para ter uma qualidade de vida decente girava em torno de R$ 2.600, valor consideravelmente acima do salário-mínimo nacional, na casa dos R$ 1.300, .
Equidade salarial
Outro ponto que foi trabalhado pela Natura&Co foi a renda equitativa para excluir possíveis disparidades de gênero. Em 2022, a companhia encerrou as diferenças salariais entre homens e mulheres e reduziu as diferenças salariais brutas na América Latina. No Brasil, ainda foi trabalhada a questão da raça, eliminando a diferença salarial racial.
“Nosso cálculo considera 15 variáveis, como onde o funcionário estudou, quanto tempo estudou, quanto tempo de experiência ele tem e quanto tempo está naquela posição. Claro, temos avaliações, mas contamos com um algoritmo lógico bem estruturado que consegue ver onde aquela pessoa está e se o funcionário tem alguma diferença não explicada pela trajetória, entrega ou background. E se não está explicado é um ‘gap’ que preciso cobrir”, afirma Leite.
A meta de ter 50% de mulheres em cargos de diretoria e acima – ou seja, liderança sênior – na América Latina a partir de 2023 e a meta foi alcançada ainda em 2020. No final de 2022, a Natura&Co contava com 52% de mulheres na alta liderança.
Na revisão das iniciativas, que aconteceu no ano passado, a Natura&Co definiu as seguintes metas: ter 30% de posições gerenciais ocupadas por pessoas de grupos sub-representados, ter 25% de pessoas negras em cargos gerenciais no Brasil a partir de 2025 e 30% a partir de 2030.
Desde 2020, no lançamento da Visão 2030, a holding tem uma parceria com a consultoria Mercer para estudos anuais sobre a equidade salarial no grupo, que abrangem mais de 15 fatores individuais, como salário, cargo, nível de experiência, tempo na função, desempenho, país, gênero e raça.
A empresa também faz parte do Movimento Salário Digno do Pacto Global da ONU Brasil . “A ideia é criar uma rede que tenha força suficiente para que outras empresas compartilhem os aprendizados e que também se envolvam. Imagina se todas as empresas oferecessem uma renda digna. Como o mundo seria e qual efeito teríamos do ponto de vista de impacto. Não só social, mas quando um indivíduo ascende socialmente ele também faz a economia progredir, outras pessoas progredirem. Existe um impacto que pode ser acelerado se, de fato, tivermos essa força coletiva”, diz Leite.