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Retrospectiva ESG 2023: o ano da virada para a energia solar no Brasil

Energia solar cresce no Brasil em 2023 e se torna a segunda maior fonte do país, com marco de 36 GW adicionados à rede, segundo balanço preliminar realizado pela ABSOLAR

Energia solar: 2023 foi ano de crescente desempenho da modalidade, diz presidente executivo da Absolar (Leandro Fonseca/Exame)
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 26 de dezembro de 2023 às 07h08.

Última atualização em 26 de dezembro de 2023 às 07h40.

A soma de todas os tipo de matrizes elétricas em atividade no Brasil neste ano alcança com 220 GW (gigawatts) de capacidade produzida. Do total, 36 GW são provenientes da fonte solar. Isto é, cerca de 16,1% da matriz elétrica, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), que completa de 10 anos de existência.

“2023 foi um ano expressivo de crescimento da energia solar”, afirma Rodrigo Sauaia, presidente executivo da associação, em entrevista à EXAME . Os números comentados fazem parte do consolidado levantado pela organização até a segunda quinzena de dezembro.

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A fonte solar fotovoltaica , como também é conhecida, é a segunda maior fonte do país. “Essa é uma posição possível por conta da tecnologia, especialmente em 2023, o ‘ano da virada’, quando a energia solar ultrapassou a eólica, atrás apenas das hidrelétricas”, diz Sauaia.

De acordo com a organização, o Brasil iniciou o ano com mais ou menos 25,4 GW de energia solar e foram adicionados 10,6 GW – o que faz deste ano um dos melhores no desenvolvimento da energia solar no país.

“Mais ou menos 70% de toda essa potência adicionada de 2023 veio de telhados e dos pequenos sistemas solares de geração própria de pessoas físicas, pequenos negócios, produtores rurais e gestores públicos. E cerca de 30% desse mercado no ano veio das grandes usinas solares que normalmente são resultado de grandes investidores corporativos nacionais e internacionais”, afirma Sauaia.

O desempenho da geração própria de energia solar em 2024

Para 2024, a ABSOLAR projeta que 9,4 GW serão adicionados à rede com crescimento contínuo. Dessa forma, a expectativa da organização é que, até o final do ano que vem, a matriz solar conte com 45,5 GW em operação, crescendo em participação. O presidente da organização comenta que estes números são conservadores, visto que existem muitos projetos de usinas solares em atraso e que, se houver progresso nos projetos, isso pode impactar para que os números de produção de energia solar sejam ainda maiores.

“Mais uma vez, o segmento que deve liderar o crescimento do mercado solar são os sistemas de pequeno e médio porte em telhados e pequenos terrenos, que é o que chamamos de geração própria ou geração distribuída solar”, diz Sauaia.

A geração própria é uma tendência no Brasil por ter seu crescimento proveniente de investimento dos próprios consumidores nas casas, pequenos negócios, propriedades rurais. Gestores públicos também estão instalando energia solar em escolas, hospitais, postos de saúde, delegacias, parques, bibliotecas e museus. Sauaia explica que este investimento não depende de leilões ou de grandes contratações do governo, por isso, é menos influenciado por decisões externas, como as políticas.

“Neste momento, a energia solar vale muito a pena. O consumidor investe e com a economia que ele terá na conta de luz com a energia solar, ele poderá recuperar o investimento que foi feito no sistema em quatro a cinco anos, aproximadamente. A durabilidade do sistema é um ponto importante também, já que existe a garantia de fabricante nos equipamentos de 25 anos ou mais. Com isso, o consumidor consegue reduzir a sua conta em até 90% ou mais”, afirma Sauaia.

O presidente da organização diz que a promessa da taxa básica de juros (Selic) mais suave pode ajudar no barateamento ao acesso facilitado de linhas de crédito para buscar recursos a quem quer investir em sistemas solares – além do próprio barateamento da tecnologia. Para ele, a regulamentação brasileira e marco legal (Lei nº 14.300/2022) para geração própria de energia solar traz mais previsibilidade e transparência para investir em energia solar local com autonomia e sustentabilidade, no caso de empresas com metas sustentáveis.

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O papel das usinas solares

A partir de 2019, com a energia solar se tornando a fonte energética mais barata do Brasil, houve um grande interesse dos consumidores no chamado mercado livre de energia – também conhecido como Ambiente de Contratação Livre (ACL) – que é a forma de contratação do setor onde o consumidor pode escolher o seu fornecedor de energia elétrica.

“Muitos dos consumidores têm buscado ativamente a energia solar porque ela tem um preço muito bom, além da competitividade e sustentabilidade. Então esse mercado que dependia muito do ponto de vista de novos leilões e decisões governamentais passou a ter esse outro ambiente onde está diretamente buscando os próprios consumidores, fazendo um processo mais parecido com o da geração própria”, diz Sauaia. Neste caso, é preciso um contrato a longo prazo visto que são investimentos de, no mínimo, centenas de milhões.

Mas com as chuvas deste ano e as hidrelétricas cheias, os preços da energia no mercado livre caiu. Bom para quem quer comprar mas complicado para aqueles que querem vender a energia solar produzida desta forma – o que configura um desafio para novos contratos. Mas, a energia solar de grandes usinas adicionou, em 2023, 3 mil MW (megawatts) e a expectativa da organização é que essa marca seja superada em 2024.

O crescimento da energia solar

“Quando combinamos a energia solar de pequeno porte com a de grande porte, a matriz solar foi a fonte que mais cresceu no Brasil em 2023 disparada, ela deverá ser a que mais irá crescer em 2024 também”, afirma Sauaia.

De forma exclusiva, o presidente da ABSOLAR comentou que no final deste ano, a associação traçou as oportunidades e desafios do setor e, a partir disso, foi feito um mapeamento e uma definição com os associados durante uma assembleia para definir as prioridades que serão trabalhadas em 2024. Dentre elas, a ABSOLAR quer se esforçar – juntamente com o restante do setor de energia solar – para que a agência regulatória realize o cálculo do valor de energia injetada na rede do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

A ABSOLAR também relembra o caso da CPI em tramitação. Essa Comissão Parlamentar de Inquérito se propõe a entender os motivos de distribuidoras estarem negando pedidos de conexão à rede, sem nenhuma justificativa técnica, descumprindo a regulação – com o suposto argumento de incapacidade.

Outro ponto importante para o desenvolvimento do setor é a reforma tributária para incentivar o uso de energia solar, a fim de acelerar a transição energética. Outros pontos são: a correção de problemas na geração própria, a diminuição dos impostos sobre o uso de baterias solares para que o mercado alcance novos níveis de industrialização, como aconteceu em países como a China, Índia e Malásia – além do cuidado com a reciclagem e circularidade desses materiais.

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