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Quem é o líder climático que decidiu ser ativista aos 12 anos

Andreas Bjelland Eriksen é ministro do Meio Ambiente e Clima da Noruega, país que fez o maior aporte ao Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, com um cheque de US$ 3 bilhões

Precoce: Eriksen, aos 12 anos, se envolveu com o tema da transição verde e na luta para trabalhar em políticas climáticas

Precoce: Eriksen, aos 12 anos, se envolveu com o tema da transição verde e na luta para trabalhar em políticas climáticas

Amazônia Vox
Amazônia Vox

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Publicado em 14 de novembro de 2025 às 20h28.

Texto de Alice Martins Morais e revisão de Samantha Mendes/Edição Exame

Quem está acompanhando a COP30 provavelmente já viu ou ouviu falar sobre ele: Andreas Bjelland Eriksen, o ministro do Meio Ambiente e Clima da Noruega. É o país que fez o maior aporte ao Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), mecanismo liderado pelo governo brasileiro para a conservação desse bioma em mais de 80 países do mundo.

Com o anúncio do investimento de US$ 3 bilhões vindo de um país que, ao mesmo tempo, tem tantas empresas de mineração quanto de energia renovável instaladas no Brasil, Bjelland Eriksen carrega uma grande responsabilidade na Conferência do Clima em Belém, algo que contrasta com seus 33 anos completados em março deste ano.

Isso quer dizer que, na primeira vez que a Noruega fez uma doação para o Fundo Amazônia (2008), ele tinha apenas 16 anos. Três anos depois, ele estava no município de Utøya, em seu país, quando houve um ataque terrorista em que 77 pessoas perderam suas vidas. Sobrevivente do massacre, seguiu sua carreira política e hoje está ao lado de embaixadores, outros ministros e autoridades que normalmente têm o dobro de experiência, falando de igual para igual.

O ministro concedeu uma entrevista exclusiva ao Amazônia Vox, em que compartilha um pouco de sua trajetória e pensamentos para o presente e o futuro. Leia abaixo:

Amazon Vox: Quando você começou a se engajar politicamente? Como essa história se inicia?
Andreas Bjelland Eriksen: Então, eu me envolvi com política juvenil quando tinha 12 anos, por causa da transição verde e da luta para trabalhar em políticas climáticas. Especialmente, com a sensação de que precisamos tentar unir alguns dos grandes desafios que estamos enfrentando. Se vamos reduzir as emissões, preservar a natureza, também precisamos dar às pessoas oportunidades de emprego, de desenvolvimento econômico etc. Foi assim que comecei e entrei na política.

Amazon Vox: Essa ligação vem do seu contexto familiar?
Eriksen: Tenho uma família que está muito envolvida em grandes questões políticas. E minha mãe também foi política pelo Partido Trabalhista. Ela esteve envolvida no mesmo período que eu e foi eleita para o cargo local em Stavanger (município da Noruega) e também foi vice-ministra no governo trabalhista anterior.

Então, aprendi muito com a experiência dela, mas também com o envolvimento do resto da minha família na política.

Amazon Vox: Sim, seu primo também é envolvido com engajamento climático, certo?
Eriksen: Isso, o meu primo [Vebjørn Bjelland Berg] é um ativista climático.Temos muitas vozes fortes e engajadas na minha família. Acho que isso é uma coisa boa. Não concordamos com tudo, as pessoas têm perspectivas diferentes - algumas trabalham na indústria de petróleo e gás e outras se engajaram como ativistas climáticas. Mas, ao mesmo tempo, acho que todos compartilhamos a mesma perspectiva, no fundo, que precisamos adaptar a maneira como vivemos. Precisamos agir de uma forma diferente daqui para frente. Somos  capazes de discutir isso de maneira razoável, focando mais em soluções e menos nas discordâncias.

Amazon Vox: Você mencionou petróleo e gás. Você também foi secretário de Estado interino na mesma área, certo? 
Eriksen: Fiquei por pouco mais de um ano no Ministério da Energia, também trabalhando com questões relacionadas a petróleo e gás. Acredito que esse é o equilíbrio que muitos de nós estamos buscando, tanto nos países produtores de petróleo e gás quanto, é claro, nos países consumidores. Porque o maior desafio que enfrentamos daqui para frente é como fazer a transição de nossos sistemas energéticos, como reduzir nosso consumo de petróleo e gás e como lidar com as emissões. Esse é o grande desafio que todos nós precisamos enfrentar e encontrar outras alternativas.

Eu também tive uma ótima experiência profissional como regulador de energia por alguns anos, trabalhando com energias renováveis e redes elétricas, o que obviamente é uma parte muito importante da solução que precisamos explorar daqui para frente.

Amazon Vox: Você tem certeza que tem apenas 33 anos?
Eriksen: Tenho certeza disso [risos]. Mas você pode fazer muito se não estiver necessariamente com pressa, se gostar de trabalhar e tentar se aprofundar em muitas coisas, você pode ter a oportunidade de fazer isso em um período bastante curto.
E tive muita sorte. Por exemplo, fui eleito conselheiro municipal em Rogaland [condado da Noruega] quando tinha 19 anos. Pude trabalhar no comitê de transporte do meu município, onde, por exemplo, trabalhamos muito nas políticas de veículos elétricos e em como garantiríamos a integração de mais carros elétricos em nosso sistema de energia.

Ao mesmo tempo, preservamos todos os benefícios de poder ter um carro e poder ir para o trabalho dirigindo, levar sua família para o treino de futebol.  Assim, é realmente um exemplo de como podemos fazer muito em um período muito curto de tempo. E isso me inspirou quando trabalho em outras áreas onde também precisamos reduzir as emissões.

Amazon Vox: É claro que o dinheiro é uma questão importante nessa transição e, por isso, a Noruega está em melhor situação nesse aspecto do que outros países em desenvolvimento. Mas, além das finanças, qual foi o maior desafio na transição para os veículos elétricos? 
Eriksen: Bem, talvez o maior desafio seja acertar nas regras, regulamentações e infraestrutura, porque a infraestrutura de que precisamos para o consumo de petróleo e gás em um setor como o automotivo não é a mesma que precisamos para veículos elétricos. Desse modo, acredito que acertar no financiamento sempre será importante, mas já é possível fazer muito desde o início.

Em muitos lugares, pode ser bastante lucrativo, se você tiver a infraestrutura necessária para realmente fazer a transição para outras fontes de consumo de energia e reduzir as emissões, construir uma rede e ter um plano de como construir estações de recarga, facilitando a transição para as pessoas. Essa é talvez uma das coisas mais importantes que acertamos desde o início na Noruega.

Amazon Vox: Estando no contexto da agenda do petróleo e do gás e agora na agenda ambiental, mas sempre pensando na interação entre os dois. Como fazemos a transição de um para o outro? Estamos falando sobre uma forma de transição dos combustíveis fósseis, então como fazemos isso?
Eriksen: É um passo de cada vez. Muitas vezes, nos perdemos um pouco nas percepções e perspectivas quando falamos sobre o trabalho que precisamos fazer na transição energética daqui para frente. Um lado se concentra apenas em onde queremos estar no futuro, reduzindo as emissões a zero, eliminando totalmente as emissões de nossos sistemas de energia e de nossos sistemas de transporte. O outro lado se concentra apenas na energia e tem uma perspectiva muito presente, de que as pessoas precisam ter acesso à energia confiável e barata para empregos e agregar valor.

Ambas as afirmações são verdadeiras. No entanto, precisamos reduzir as emissões de forma constante, ano após ano. E precisamos fazê-lo passo a passo, ao longo do tempo, e criar um plano sobre como fazê-lo.

Uma das coisas mais importantes que temos agora na Europa e na Noruega é o aumento gradual do preço do CO2 [gás carbônico]. Dar gradualmente às empresas e às pessoas uma perspectiva de longo prazo para que, em algum momento no futuro, quando forem comprar um carro novo, saibam que é inteligente escolher um carro elétrico em vez de um carro a combustível fóssil.

Uma empresa que vai instalar uma nova fábrica, por exemplo, sabe que é inteligente começar já a pensar em como poderá consumir energia limpa e não energia fóssil no futuro. Se conseguirmos criar caminhos que funcionem bem para todos os países, globalmente, para poder fazer isso e fazê-lo passo a passo, então estaremos num bom ponto.

Amazon Vox: Sei que você esteve no Rio Negro (AM) ontem (10/11). Como você se sentiu? Você já tinha estado lá antes? 
Eriksen: Não, foi uma viagem fantástica. Quero dizer, viajamos para Manaus. Depois, pegamos um barco e visitamos o parque nacional local, o que nos permitiu sentir como é estar no coração da Amazônia. É um lugar muito bonito, com muitas oportunidades. É um lugar importante para todos nós, porque as florestas tropicais não são importantes apenas para o Brasil e para o povo brasileiro, mas também para a Noruega, que precisa preservar a Amazônia, tanto para reduzir as emissões quanto porque muitas das plantas da região são importantes para os medicamentos que utilizamos no tratamento do câncer, por exemplo. Portanto, essa é uma grande tarefa para todos. E também precisamos falar sobre os desafios que muitas dessas comunidades estão enfrentando.

Um dos maiores é, claro, que elas precisam de oportunidades de desenvolvimento, de bons empregos, de grandes oportunidades econômicas para as pessoas locais, de acesso a energia renovável, a serviços de saúde, a educação, e de poder fazer parte disso e contribuir para isso, o que é realmente significativo. Estou muito, muito grato pelas pessoas que conheci e pelas histórias fantásticas que elas compartilharam conosco.

Amazon Vox: Agora, você já está há uma semana no Brasil, certo? O que você aprendeu com a Amazônia? 
Eriksen: O maior aprendizado é que é possível encontrar pessoas na Amazônia que ganham a vida sem derrubar a floresta. É uma das mensagens mais inspiradoras que podemos levar conosco aqui na COP30, em Belém. É uma lição valiosa que mais de nós precisamos lembrar em nossa vida cotidiana.

Porque, para nós, trata-se de criar valor a partir da não emissão, de sermos capazes de enfrentar nossas emissões, preservando nosso planeta e nosso clima, para o benefício dos seres humanos, ao mesmo tempo em que somos capazes de criar oportunidades para pessoas em todos os lugares. E há algumas lições realmente valiosas a serem aprendidas com isso no coração da Amazônia.

Amazon Vox: Você mencionou que começou a se envolver politicamente aos 12 anos, certo? E temos aqui o pavilhão infantil e juvenil. Temos muitos jovens por aqui. Eles também podem ser os próximos ministros de seus países, certo? Que mensagem você deixa para essas crianças e adolescentes?
Eriksen: A mensagem mais importante para eles é continuarem lutando. Sei que algumas coisas na política climática e nas negociações climáticas hoje em dia podem parecer mais difíceis do que antes. Tanto porque tivemos um grande país decidindo sair do Acordo de Paris, quanto porque as mudanças climáticas não são mais algo que vai acontecer no futuro. Elas estão acontecendo aqui e agora e estão sendo sentidas pelas pessoas, especialmente pelos jovens, que enfrentarão as consequências mais graves das mudanças climáticas no futuro.

Ao mesmo tempo, cada décimo [de grau] conta. Cada décimo que conseguimos reduzir o aquecimento global cria um impacto, porque significa uma vida melhor para as pessoas. São eventos climáticos menos extremos que precisamos enfrentar no futuro.

É uma base melhor para a vida humana em todo o planeta. Portanto, continuem lutando, seu engajamento é realmente importante. É o engajamento que nos levou longe na direção certa nos 10 anos em que tivemos o Acordo de Paris. E é o mesmo engajamento que também precisamos ansiar.

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