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PUC-Rio migra do petróleo para a energia limpa para ser o motor econômico do Rio de Janeiro

Em entrevista à EXAME, Anderson Pedroso, reitor da universidade, detalha os planos de como pretende “amazonizar” a instituição

Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio: "A universidade é católica, mas não é só para os católicos" (Assessoria de Imprensa / PUC-Rio/Divulgação)

Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio: "A universidade é católica, mas não é só para os católicos" (Assessoria de Imprensa / PUC-Rio/Divulgação)

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 17 de julho de 2024 às 16h38.

As Pontifícias Universidades Católicas, as PUCs, são o mais alto nível de instituições de ensino ligadas à Igreja Católica. Todas respondem diretamente ao Vaticano, embora não formem uma rede, como é natural presumir. Seus reitores são nomeados pelo arcebispo da região – no caso do Rio de Janeiro, a responsabilidade é do Cardeal Dom Orani Tempesta – e essa indicação é confirmada pela Congregação para a Educação Católica do Vaticano, departamento da Cúria Romana que supervisiona a educação católica no mundo. “A universidade é católica, mas não é só para os católicos”, afirma o professor Padre Anderson Pedroso, atual reitor da PUC-Rio.

Pedroso, 48, é padre jesuíta e o mais novo professor a assumir a reitoria da instituição, considerada, em diversos rankings, a principal universidade privada do Brasil. Sua formação acadêmica inclui um doutorado em História da Arte e Estética Filosófica pela Sorbonne, universidade francesa referência no segmento. Sua missão no posto é modernizar a PUC-Rio sem perder a conexão com a tradição católica, projeto que, de tempos em tempos, acomete instituições ortodoxas. O reitor encara o dever a partir de uma lógica, aparentemente, infalível. “A universidade não mudou, o mundo mudou”, afirma.

As mudanças globais nas últimas décadas, é preciso dizer, foram enormes e formam um mosaico multifacetado. Mas, a PUC-Rio está focada, especialmente, em uma delas, a transição energética. Celeiro de inovação e formação de profissionais para a indústria petrolífera, em virtude da exploração do pré-sal, cuja base de operações sempre esteve no litoral fluminense, a universidade agora se volta para as energias limpas. O que está no radar são os bilhões em investimentos necessários para descarbonizar a economia, parte indispensável dos esforços para conter os efeitos nocivos das mudanças climáticas.

Neste aspecto, o Brasil desempenha um papel estratégico no mundo. Maior economia da América do Sul e guardião da maior parte da Floresta Amazônica, o país vive a expectativa de receber uma enxurrada de projetos energéticos. Por mais contraditório que possa parecer, há uma correlação entre as pesquisas focadas na extração de combustíveis fósseis e o conhecimento necessário para avançar no desenvolvimento das renováveis.

"O objetivo é levar o conhecimento do setor de petróleo para a área de renováveis"Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio

O setor eólico, cuja próxima fronteira está na chamada offshore, ou seja, em alto-mar, se beneficia em larga escala da expertise brasileira em plataformas petrolíferas. Toda parte geológica também é aproveitada, e há o hidrogênio verde, combustível limpo e renovável apontado como o substituto do carvão em indústrias de carbono intensivo, como siderurgia, mineração, entre outras. “O objetivo é levar o conhecimento do setor de petróleo para a área de renováveis”, diz Pedroso.

“Amazone-se”

Essa transferência de conhecimento é a parte local do plano, mas existe um componente externo. Pedroso admite que a PUC-Rio, e outras universidades, nunca entendeu por completo a Amazônia. O motivo, diz ele, é a falta de escuta por parte das instituições, que sempre aportaram na região Norte com uma visão essencialmente sudestina. “O que funciona no Rio, não necessariamente, funciona lá. Nós queremos inverter esse processo, primeiro aprender, depois colaborar, praticando a escuta com os povos locais”, detalha o reitor. Ele define esse processo com o verbo “amazonizar”, que representa essa postura de humildade perante o desconhecido – algo que tanto a academia, quanto os jesuítas, integram em seus valores básicos.

Pedroso vê nessas mudanças do mundo e da PUC-Rio uma oportunidade de colaborar com a sociedade de maneira mais efetiva. Mais do que um canal de conhecimento e, no caso das PUCs, de propagação da fé católica, as universidades são propulsoras econômicas. A correlação entre a fundação da Universidade de São Paulo (USP) e a ascensão do estado para o posto de maior economia do país é uma prova indiscutível do poder da pesquisa acadêmica ligada ao empreendedorismo. A PUC-Rio quer ocupar esse lugar, em conjunto com as universidades públicas, e reativar a economia carioca. “Houve um empobrecimento do estado, e não há mais espaço para se instalar indústrias aqui. A melhor opção que se apresenta é nas áreas de tecnologia e inovação”, afirma o reitor.

Outra força carioca é a área cultural. Berço de boa parte dos grandes movimentos musicais brasileiros, por exemplo, o Rio de Janeiro é uma potência em economia criativa. Localizada no tradicional bairro da Gávea, a PUC-Rio se coloca como a ponta de lança de um corredor cultural, que se estende da costa ao morro, abrangendo as favelas da Rocinha e do Vidigal. A ideia é promover atividades artísticas e culturais geradoras de renda, explica Pedroso.

O CEO da PUC-Rio

A preocupação com aspectos econômicos e do setor produtivo colou no reitor a alcunha de “CEO da PUC-Rio”. Pedroso entende que, quem o chama dessa maneira, o faz pejorativamente. A ofensa, no entanto, não produz efeitos. “Não me incomoda, pelo contrário, vejo de maneira positiva”, diz. Essa postura é parte dos esforços de modernização da função e da universidade e resulta de uma visão mais pragmática do que significa tradição – e, por afinidade, conservadorismo. “A palavra tradição deriva de transmissão”, explica.

Filosoficamente, nada mais adequado para uma universidade católica. Pedroso enxerga a PUC-Rio como uma guardiã do conhecimento e da fé, e um instrumento de transmissão dessa consciência entre gerações. Por isso, é um erro pensar em instituições de ensino fechadas em uma só doutrina. A universidade deve ser um espaço aberto, de debates e de liberdade, onde a diferença de visões de mundo é celebrada e a busca pelo contraditório é incentivada.

Deus, o Todo-Poderoso, em suas infinitas representações, está presente, sim, mas como um elemento de sentido existencial. A produção de conhecimento, afinal, tem como propósitos elevar a humanidade, materialmente e espiritualmente, e proteger aquilo que é mais sagrado: a vida, em todas as suas formas.

Novo conselho

A materialidade dessa filosofia está, neste momento, na formação de um novo Conselho de Desenvolvimento, que tem a tarefa de orientar a reitoria em temas estratégicos. São 17 nomes, entre eles ex-alunos como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-presidente do IBGE, Sérgio Besserman Vianna e a vice-presidente global de tecnologia da Coca-Cola, Simone Grossmann. Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, por outro lado, deixa o conselho para atuar na Associação de Antigos Alunos.

O foco de Malan será a construção de um fundo patrimonial para a ampliação de bolsas de estudo e garantir a sustentabilidade e modernização da universidade. Para isso, buscará engajar outros ex-alunos a doar para a universidade. A meta é ambiciosa: levantar R$ 500 milhões nos próximos dez anos. Hoje, 40% dos 9,1 mil alunos de graduação são bolsistas, sendo metade custeadas por bolsas do ProUni e metade com bolsas parciais ou integrais da própria PUC-Rio, que também oferece ajuda de custo de alimentação e transporte para os bolsistas do ProUni.

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