ESG

Philip Morris quer vender menos cigarro e atrair investidor ESG

Empresa garante que antevê um futuro sem fumo e tem trabalhado em produtos alternativos, como um dispositivo que aquece o tabaco sem queimar; investidores temem greenwashing

Dispositivo iQOS, da Phillip Morris: produto aquece refis do tabaco, que não entram em combustão (Axel Heimken/dpa (Photo by Axel Heimken/picture alliance/Getty Images)

Dispositivo iQOS, da Phillip Morris: produto aquece refis do tabaco, que não entram em combustão (Axel Heimken/dpa (Photo by Axel Heimken/picture alliance/Getty Images)

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GabrielJusto

Publicado em 28 de agosto de 2021 às 09h53.

Uma gigante do tabaco — praticamente a definição de empresa evitada por investidores socialmente conscientes — quer aproveitar a expansão das finanças sustentáveis. A Philip Morris International apresentou na sexta-feira o plano para emissão de títulos de dívida, com uma promessa de ficar menos dependente das vendas de cigarros.

Quando emitem títulos ou tomam empréstimos vinculados a critérios ambientais, sociais e de governança (reunidos sob a sigla em inglês ESG), as organizações definem metas que geralmente estão alinhadas aos objetivos do desenvolvimento sustentável. O emissor se compromete a pagar multa aos credores se ficar aquém do prometido. Para a Philip Morris, o objetivo é reduzir seu negócio de cigarros.

A entrada da Philip Morris nesse jogo chama a atenção porque muitos investidores voltados para ESG evitam a empresa por princípio. Por outro lado, a tentativa da fabricante do Marlboro de atrair esses investidores faz sentido, diante da abundância de recursos. Em todo o mundo, empresas e governos emitiram uma quantia recorde de US$ 652 bilhões este ano em títulos verdes ou sociais ou dívida vinculada a metas de sustentabilidade.

“Sendo uma empresa grande, temos grande impacto ambiental e social, mas o maior impacto vem do produto que vendemos e queremos mostrar não apenas como a empresa está mudando o produto, mas transformando toda a nossa cadeia de valor”, afirmou Jennifer Motles, diretora de sustentabilidade da Philip Morris, em entrevista.

A decisão coincide com o momento em que a Philip Morris finaliza a compra da Vectura Group, fabricante britânica de medicamentos contra a asma. A aquisição de uma farmacêutica por uma fabricante de cigarros gerou questionamentos éticos por entidades de saúde.

O projeto de financiamento — que a Philip Morris caracteriza como financiamento vinculado à transformação do negócio — inclui a meta de ampliar a participação da receita não vinculada ao fumo para 50% da receita líquida total até 2025, vindo de 23,8% em 2020. Outro objetivo é aumentar o número de mercados onde vende produtos livres de fumo de 64 para 100 no mesmo período.

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Na corrida pelo financiamento sustentável, investidores bem-intencionados temem que seu dinheiro não leve de fato aos benefícios ambientais ou sociais prometidos pelos emissores. Esse medo do chamado greenwashing pode ser equivocado no mercado de títulos que financiam projetos ESG, de acordo com a S&P Global Ratings.

A Philip Morris garante que antevê um futuro sem fumo e tem trabalhado em produtos alternativos, como o dispositivo IQOS, que aquece o tabaco e, segundo a empresa, um dia substituirá totalmente o cigarro.

A companhia também almeja faturar pelo menos US$ 1 bilhão com produtos não ligado à nicotina, em parte graças à aquisição da Vectura.

 

Não se trata de greenwashing, se trata do que essa estrutura pode gerar. Minha esperança é que a comunidade de investidores — que tem incrível poder de provocar mudanças — se informe melhor sobre o que pode pedir das fabricantes de cigarros. Se outras empresas de cigarros adotarem as mesmas métricas e começarem a divulgá-las de forma transparente, poderemos tornar os cigarros obsoletos e poderemos multiplicar a velocidade para alcançar isso.

Jennifer Motles, diretora de sustentabilidade da Philip Morris
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