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O produtor rural Márcio Matos, que cultiva camarão em cativeiro: "Somos os primeiros no Amapá a realizar todo o processo, desde a larvicultura até a engorda." (Rogério Lameira / Amazônia Vox)
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Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 18h24.
* Texto de Ruanne Lima e revisão de Carla Fischer
Embora a economia do Amapá seja fortemente baseada no setor de serviços, que representa quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção rural vem ganhando espaço e importância na região.
O estado também se orgulha de ser um dos mais preservados do país, com mais de 70% do território ainda coberto por florestas, principalmente com áreas protegidas. Aliar essa expansão sem avançar no bioma amazônico é um dos desafios.
Para garantir produção com atenção à sustentabilidade, um caminho fundamental é a produção que considera as culturas locais. Esse é o caso de Márcio Lima de Matos, que resolveu investir na reprodução de camarão em cativeiro.
A ideia surgiu entre amigos, e após buscar conhecimento e apoio junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o projeto saiu do papel e já virou dois grandes tanques de criação. É no município de Mazagão, que fica a 50 minutos da capital Macapá, que está o sítio Beija-Flor, que pertence a Márcio.
Em um espaço de 11 hectares, dividido entre criação de porcos, carneiros e marrecos, também está a menina dos olhos: a produção de pós-larva de camarão-da-amazônia (Macrobrachium Amazonicum), o conhecido camarão regional.
De acordo com um estudo da Embrapa Amapá, o cultivo de pós-larvas de camarão-da-amazônia pode ser utilizado no repovoamento de áreas impactadas pela pesca e para suprir o mercado local. Com todo o conhecimento disponibilizado, Márcio não teve dúvidas em buscar recursos e iniciar a produção.
Hoje, um ano após as primeiras conversas com a Embrapa Amapá, a produção já está na fase final, ou seja, a engorda das larvas para a venda.
"Muitos produtores aqui do Amapá tentaram, mas não conseguiram fechar o ciclo de reprodução, e nós conseguimos. Agora chegamos na última etapa, estamos com as pós-larvas prontas para serem vendidas, e também na fase da engorda para oferecermos o camarão adulto aos restaurantes locais", celebra Márcio Lima.
O investimento para escavar os tanques foi de R$ 70 mil, recurso adquirido através de uma linha de crédito junto à cooperativa Sicredi. Ele conta que também teve apoio da Prefeitura Municipal de Mazagão, e da Secretaria de Pesca e Agricultura do Amapá no processo de escavação dos tanques.
Confiante, Márcio diz que o empréstimo será quitado em pouco tempo. Nos dois tanques, de 60 metros de comprimento por 30 de largura, a expectativa é que em fevereiro de 2026 sejam retiradas seis toneladas de camarão.
"Claro que a gente almeja a viabilidade econômica da produção, mas pensamos muito na sustentabilidade do projeto em si. Então, com a nossa reprodução aqui, estamos reduzindo a captura de camarão na região. Imagine retirar seis toneladas de camarão dos rios, isso levaria muito mais tempo para a natureza repor", afirma o produtor.
O processo de produção do camarão-da-amazônia em cativeiro começa com a seleção das matrizes reprodutoras, na natureza. Márcio fez a captura de cerca de duas mil fêmeas.
Já nos tanques, essas matrizes são monitoradas regularmente para verificar quais estão ovadas e, então, são levadas para outro tanque que é chamado de "maternidade", onde permanecem até completar a desova.
Após a liberação, os ovos são recolhidos em um filtro e transferidos para caixas onde ficam por cerca de um mês, até atingirem a fase de pós-larva, quando passam para a etapa seguinte do cultivo: a engorda.
"Nós conseguimos chegar a essa produção a partir de um termo de cooperação técnica com a Embrapa Amapá, que nos dá toda orientação e acompanhamento. Nós somos os primeiros no Amapá a realizar todo o processo, desde a larvicultura até a engorda", explica Márcio Lima.
Exemplos como esse mostram como produtores rurais do Amapá estão diversificando atividades e apostando em práticas sustentáveis que fortalecem a economia local, preservando os recursos naturais da região.
Já no município de Amapá, distante 300 quilômetros de Macapá, está a Fazenda Luz do Mundo, do Ronery Brito. Ronery é cantor amapaense, compositor, escritor, pastor e agora agricultor, seu maior desafio até o momento. A área, herança de família, tem 100 hectares, quase toda de floresta nativa.
E é lá, no meio das árvores nativas, que está o açaizal. Após longos 38 anos de tentativas para legalizar a área, há dois anos Ronery finalmente conseguiu o título definitivo. Com a documentação em mãos, o novo agricultor teve acesso a créditos para investir na fazenda, e uma das frentes de trabalho é o manejo do açaí nativo que está sendo preparado para a primeira produção.
Anderson Melo é agricultor e mora na fazenda. Ele explica que para o manejo do açaí é importante avaliar com atenção as touceiras, que normalmente têm entre 10 e 12 açaizeiras, para identificar quais produzem melhor.
Segundo Anderson, é importante eliminar aquelas com baixa produção ou com algum defeito, mantendo cerca de seis ou sete plantas mais fortes. Esse cuidado ajuda a garantir uma produção mais eficiente.
"Apesar de ser a primeira vez que fazemos esse manejo aqui, a expectativa de colheita é muito positiva. Eu diria que cerca de 10% do açaí produzido aqui é muito bom, com uma polpa bem forte", avalia Anderson Melo.
No Amapá, o açaí apresentou os maiores números de extrativismo em 2024, de acordo com o IBGE. Foram produzidas 22 mil toneladas do fruto, com 1.760 hectares de área plantada, totalizando uma movimentação financeira de R$ 65 milhões.
Segundo Ronery, a coleta do ano que vem já tem destino certo: a fabricação de polpas que vão virar chop, um tipo de picolé comercializado na região.
"Nós temos uma base de 15 a 20 hectares de açaí nativo na fazenda. Como iniciamos agora o processo de manejo, esperamos ver o resultado em um ano, porque é um projeto de médio a longo prazo. Toda a produção será convertida em polpa para a confecção do nosso chopp, o Luz Prime Gelatos Gourmet, que é feito de polpa de frutas", adianta Ronery Brito.
Cassiano Cândido Aranha, gerente agro da Cooperativa Sicredi Integração no Amapá. (Rogério Lameira / Amazônia Vox)
A polpa de maracujá foi a primeira produção da Fazenda Luz do Mundo, e deu início à confecção dos gelatos. A fabricação é artesanal, na cozinha industrial que fica na casa da família, em Macapá. A esposa do Roneri, Simone Lobato, é bióloga, pastora e agora empreendedora.
É ela quem está à frente da fabricação. "Nós começamos os gelatos goumert com o maracujá, misturando com outros doces como chocolate, goiabada, e agora estamos esperando a polpa do açaí, que vem direto da fazenda, que com certeza vai ser mais um sucesso", conta Simone.
A empreendedora também fala sobre a necessidade de escoar o que a agricultura produz, especialmente na região do município de Amapá, onde está localizada a fazenda da família.
"Nós vamos construir uma fábrica de polpas, porque nessa localidade a produção é extensa e muitos agricultores não conseguem escoar tudo o que produzem na fruticultura para a capital, especialmente devido à distância. Por isso, pensamos também na fábrica de polpas para contribuir com toda a cadeia produtiva da região", ressalta.
O que esses dois produtores rurais têm em comum, além da vontade de crescer no mercado e contribuir com a economia sustentável do Amapá, é o acesso a linhas de crédito para investir em suas produções.
Segundo Cassiano Cândido Aranha, que é gerente agro da Cooperativa Sicredi Integração no Amapá, hoje o grande desafio a ser superado no estado é a questão documental das terras. O acesso às linhas de crédito e o apoio técnico surgem como ferramentas essenciais para superar essa barreira.
"Tanto o grande como o pequeno produtor têm plena consciência do desenvolvimento do Amapá, e isso passa pela questão documental. Quando o agricultor tem suas terras legalizadas, ele tem acesso às linhas de crédito para poder investir e desenvolver", afirma o gerente.
Hoje, a agência Amapá atende 140 produtores rurais, o que movimenta mais de R$ 8 milhões em créditos na economia local. "O Sicredi é uma instituição democrática e todos os associados têm voz.
Ouvir uma nova ideia faz parte do nosso DNA, especialmente aquelas que têm sentido de sustentabilidade, de desenvolvimento cultural, econômico e social, que são nossos pilares de sustentação.
Por isso, quando os agricultores vêm buscar atendimento, nós ouvimos com toda a dignidade e respeito que eles merecem, desta forma, a instituição financeira cooperativa contribui com a prosperidade dos seus associados e para o desenvolvimento local", afirma.