Para a BlackRock, carbono zero importa mais que política monetária
Segundo a maior gestora do mundo, a transição para a economia de baixo carbono será um choque de oferta que durará décadas e pressionará a inflação
Rodrigo Caetano
Publicado em 13 de dezembro de 2021 às 17h45.
Última atualização em 13 de dezembro de 2021 às 17h47.
A transição para a economia verde, que implica na busca das empresas pelo net zero ( carbono zero), deve pressionar a inflação. Sem essa transição, no entanto, os riscos climáticos são inimagináveis, os ganhos diminuem e a inflação aumenta ainda mais. O melhor a fazer, portanto, é ordenar esse processo. Quem diz isso é a BlackRock, maior gestora do mundo, com mais de 9 trilhões de dólares em ativos.
Em relatório produzido pelo BlackRock Investment Institute, a gestora apresenta tendências estruturais que irão moldar as estratégias de investimento no próximo ano. O estudo é dividido em três partes: “vivendo com a inflação”, “superando a confusão” e “navegando pelo carbono zero” ( Living with inflation, Cutting through confusion e Navigating net zero ).
A alta dos preços é imperativa nos próximos anos. O reinício da atividade econômica será atrasado em função das novas cepas da covid e os bancos centrais aumentarão suas taxas de juros, permanecendo tolerantes com a inflação. A esse contexto se soma a transição para a economia de carbono zero, que também é inevitável. “Sim, seria melhor se as mudanças climáticas não existissem. Mas isso não é uma opção; as mudanças climáticas são reais”, diz o relatório.
“Há uma noção popular de que combater as mudanças climáticas implica em custos econômicos e inflação maiores. Não concordamos. Uma transição tranquila para a economia carbono zero deve implicar em crescimento maior e inflação menor. Uma transição desordenada ou a falta de ação climática sugere crescimento baixo e inflação ainda mais alta”, afirma a BlackRock.
A gestora enxerga esse processo como um choque de oferta que durará décadas – mais um motivo para a persistente alta na inflação. Sem um esforço coordenado, um cenário possível é a imposição abrupta de políticas para reduzir as emissões, o que pode resultar em escassez de energia e discrepâncias entre setores e empresas.
Um exemplo de como se daria uma transição desordenada está na crise de energia deste segundo semestre. “Quando fatores climáticos e geopolíticos reduzem abruptamente a oferta de energia a carvão e renovável, outras fontes encontram dificuldade em compensar a queda. E com os governos buscando minimizar as emissões, o preço do gás natural subiu ainda mais que o do carvão”, diz a gestora.
O cenário indica que fazer uma transição “suave” para a economia de carbono zero é mais importante para o controle da inflação do que a política monetária, na visão da BlackRock. “Esse episódio (a crise energética) revelou que a transição, até agora, tem sido assimétrica: a redução dos investimentos em combustíveis fósseis não foi compensada por um ganho de investimentos em energias alternativas e em sua infraestrutura”, afirma a gestora.
Mercados emergentes e desenvolvidos
Outra assimetria está na capacidade de investimentos dos países desenvolvidos em comparação aos em desenvolvimento. A BlackRock estima que serão necessários 1 trilhão de dólares por ano para que os países mais pobres façam a transição – seis vezes mais do que os investimentos atuais. Eles não têm esse dinheiro.
A saída para mobilizar esse capital se dará por meio de um aumento do financiamento público por governos de países desenvolvidos. A implicação disso, para a gestora, é uma predileção por ativos de países ricos, em detrimento aos de países emergentes, excluindo a China. “Sem uma transição verde em todos os lugares, o risco climático será inimaginável em qualquer lugar”, define Paul Bodnar, líder global de investimentos sustentáveis da BlackRock.
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