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O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 213 milhões de cabeças de gado de 2,6 milhões de produtores (Ernesto Reghran/Pulsar Imagens/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 27 de julho de 2020 às 16h40.
O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo. São 213 milhões de cabeças de gado, mais do que uma para cada cidadão brasileiro. Os produtores responsáveis por criar e engordar esse contingente somam mais de 2,6 milhões. Só por esses números, dá para ter uma ideia do desafio que é rastrear toda a cadeia da pecuária.
A esse contexto, soma-se o fato da maior parte da produção estar espalhada por uma área gigantesca, que compreende parte da Amazônia e do Cerrado. Além disso, a indústria da carne é pouco verticalizada. Quem cria o boi, geralmente, não é quem engorda ou quem abate. Na ponta, está o pequeno produtor, com pouca capacidade de investimento.
“Podemos tentar monitorar isso sozinhos, mas, o mais eficiente seria um esforço conjunto entre empresas, governo e o mercado financeiro”, afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig, segundo maior frigorífico do País.
Criar um sistema eficiente de rastreamento, no entanto, é imperativo para a cadeia da carne. Nos últimos meses, o setor vem sofrendo pressão de investidores e compradores para acabar com a compra de bois de áreas desmatadas. Há cerca de 1 mês, gestores de fundos de investimento que gerenciam 4 trilhões de dólares em ativos enviaram uma carta aberta ao governo brasileiro pedindo o fim do desmatamento, sob risco de desinvestimento.
Para Pianez, esse tipo de ameaça não é a melhor maneira de lidar com o problema. “Quando um fundo diz que vai deixar de investir, ele se torna parte do problema, não da solução”, afirma. “Até hoje, a abordagem foi de exclusão. Obviamente, isso não tem funcionado. Não podemos fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente. É preciso criar uma solução que inclua essa produtor na cadeia legal”.
Na semana passada, a Marfrig anunciou um compromisso para rastrear a origem de todo o gado que abate, até 2025. Para isso, deve investir cerca de 500 milhões de reais em 10 anos, sendo a maior parte nos próximos 5. O monitoramento vai incluir os fornecedores diretos e os indiretos, iniciativa pioneira na indústria.
“Tecnologicamente, não há impeditivo para o rastreamento. A dificuldade é lidar com a complexidade do cenário brasileiro”, diz o executivo. A proposta da empresa é iniciar esses esforço com a transposição de mapas de uso do solo, desmatamento e produção bovina para determinar as áreas de maior risco.
A partir desse estudo, é possível estabelecer uma ordem de prioridade para a implementação do rastreamento, que utiliza sistema de satélite, chips e brincos de identificação e até blockchain. "Com essa tecnologia, podemos criar um sistema em que um elo da cadeia monitora o outro, de maneira pública e comprovada", diz Pianez. Outra ponto importante é a regularização fundiária. Sem o título da terra, o produtor não tem acesso a crédito, o que favorece a ilegalidade. “Os bancos concedem crédito para quem pode pagar. Mas, geralmente, não é quem precisa”, afirma o executivo.