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Na COP, participação de lobistas do setor de combustíveis fósseis cresce 286%

Lista de representantes dos interesses da indústria do petróleo, gás e carvão subiu de 636, em 2022, para 2.456, aponta levantamento divulgado por aliança com 450 organizações

Pressão: nove dos dez maiores grupos de pressão são do Norte Global (Foto: Leandro Fonseca) (Leandro Fonseca/Exame)
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 12h45.

Levantamento aponta que ao menos 2.456 lobistas do setor de combustíveis fósseis estão credenciados na COP28, em Dubai. O dado foi divulgado nesta terça-feira, 5, pela Kick Big Polluters Out (KBPO), uma aliança de 450 organizações que trabalham com clima no mundo.

O total de lobistas é 286% maior do que o verificado pela aliança na COP27, no Egito: 636 participantes estavam credenciados no evento, no Egito, sob as credenciais de defesa dos interesses da indústria de carvão, petróleo e gás. Já em Glasgow, na COP25, foram 503 pessoas.

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O aumento exponencial é visto ao mesmo tempo que a conferência do clima de 2023 é sediada em um dos maiores produtores de petróleo e, ao mesmo tempo, tem como principal pauta a necessidade de recuo do uso de combustíveis fósseis como forma de minimizar as emissões de gases de efeito estufa ( GEE ).

Em comunicado, a Kick Big Polluters Out disse ter analisado a lista provisória de participantes na COP28, “linha por linha, no estudo mais aprofundado sobre a presença da indústria dos combustíveis fósseis em todas as negociações até à data”.

Vulneráveis têm presença menor

O levantamento mostra ainda que os lobistas dos combustíveis fósseis receberam mais credenciais para a COP28 do que todos os delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima juntos (total de 1.509). O comparativo, segundo a KBP, confirma como “a presença da indústria está ofuscando a (participação) dos que estão na linha da frente da crise”.

A KBP aponta que nove dos dez maiores grupos de pressão são do Norte Global. O maior deles é a Associação Internacional de Comércio de Emissões ( IETA ), com sede em Genebra, que trouxe 116 pessoas, incluindo representantes d eempresas como Shell, TotalEnergies e Equinor, da Noruega.

Defesa de interesses

Alexia Leclercq, da ONG americana Start:Empowerment, analisou a situação no documento divulgado pela KBP. "Acham mesmo que a Shell, a Chevron ou a ExxonMobil estão enviando lobistas para observar passivamente estas conversações? Para promover soluções climáticas em benefício das comunidades cujo ar e água poluem? Para colocar as pessoas e o planeta acima do lucro e dos seus dólares gananciosos? É por causa deles que a COP28 está envolta num nevoeiro de negação do clima, e não de realidade climática".

Hwei Mian Lim, do Women and Gender Constituency, afirmou que, se os governos tivessem “exigido aos grupos do petróleo e do gás que descarbonizassem desde o início, de acordo com o que a ciência diz ser necessário para limitar os piores impactos das alterações climáticas, não estaríamos no atual estado de emergência total”. Ainda segundo a ativista, “estamos onde estamos devido a anos de negação, atrasos e falsas soluções dos mesmos grupos que são responsáveis pelo problema".

O documento divulgado pela aliança adverte que a estimativa de lobistas na COP28 pode ser conservadora, já que foram levados em consideração apenas os delegados que revelam abertamente as suas ligações aos interesses dos combustíveis fósseis. A KBPO informa ainda ter se baseado exclusivamente em fontes públicas, como sites de de empresas, cobertura noticiosa ou bases de dados como a InfluenceMap's, para estabelecer conexão entre as companhias e os lobistas.

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