Apoio:
Parceiro institucional:
Pesquisa aponta cenário das pessoas com deficiência no mercado de trabalho brasileiro (SDI Productions/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 26 de abril de 2023 às 08h00.
Última atualização em 26 de abril de 2023 às 11h14.
O desafio das pessoas com deficiência (PCD) no mercado de trabalho, passa também pela falta de conscientização e conhecimento das pessoas sem deficiência, inclusive sobre as políticas dentro das próprias empresas, é o que aponta a pesquisa Cenário das Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho Brasileiro, conduzida pela consultoria Mais Diversidade.
Há um trabalho de conscientização a ser feito, por exemplo, para as pessoas executivas, quando 60% da alta liderança sem deficiência respondente desconhece ou não sabe opinar se a empresa possui planos de desenvolvimento para as PCD.
O estudo também demonstrou que, das pessoas que participaram da pesquisa, 34% das pessoas com deficiência não trabalham no momento, enquanto o percentual para pessoas sem deficiência é de 16%. Os maiores percentuais de pessoas com algum tipo deficiência que não trabalham são para aquelas com deficiência múltipla (42%) e intelectual (50%)".
A respeito do setor de atuação, foi constatado que a maioria das pessoas com deficiência (21%) se concentram em diferentes tipos de indústria. Na sequência das áreas de atuação, as pessoas com deficiência se concentram em Serviços Financeiros (16%), enquanto as sem, em Tecnologia e Consultoria (11% cada).
Além de coletar dados próprios, a pesquisa contextualiza informações apresentadas por órgãos como o IBGE: 8,4% da população brasileira possui alguma deficiência1, totalizando 17,2 milhões de pessoas. O documento, a partir do resultado com os respondentes, quebra o mito de que as pessoas com deficiência possuem menos qualificação, uma vez que 42% das pessoas sem deficiência completaram o Ensino Superior, e o percentual é de 45% para as pessoas com deficiência. Apesar disto, apenas 9% de pessoas com deficiência ocupam cargos de liderança, enquanto 30% das pessoas sem deficiência ocupam. Mais de 80% das pessoas com deficiência exercem cargos de execução, suporte e base.
"Ao mesmo tempo, não é como se as pessoas com deficiência fossem mais escolarizadas do que as sem deficiência. Elas são bem escolarizadas, mas se olharmos para o percentual de pós-graduados, por exemplo, vamos ter 45% de pessoas sem deficiência, e apenas 25% das com deficiência. Ou seja, é uma jornada", diz Thiago Roveri, diretor de pesquisas na Mais Diversidade.
Olhando gênero e raça, encontram-se disparidades, sobretudo para mulheres cisgênero (ou seja, aquela que se identifica com o gênero atribuído ao nascer), se comparadas aos homens cis, pois 88%, 79% e 84% das mulheres cis brancas, pardas e pretas sem deficiência estão empregadas, enquanto os percentuais para suas pares com deficiência são 71%, 59% e 77%.
Considerando apenas as pessoas que trabalham no momento, 66% desconhecem planos definidos para o desenvolvimento profissional das pessoas com deficiência na empresa onde atuam. Para neurodivergentes, por exemplo, o índice é de 78%.
Também foi investigado “Como você avalia a inclusão das pessoas com deficiência na empresa em que trabalha?”. Os resultados apenas para quem trabalha no momento fomentam diferentes análises. Dentre as pessoas sem deficiência, 11% afirmam que não há pessoas com deficiência na empresa onde trabalham. O maior percentual entre os demais grupos é de 7%, para neurodivergentes.
Ainda dentre as pessoas com deficiência, não houve grandes diferenças na avaliação entre péssima/ruim (26%), razoável (27%) e ótima/boa (30%). De modo geral, as pessoas com deficiência avaliam a inclusão como Ruim ou Péssima em apenas
23%, e Ótima/Boa em 40%, ou seja, tem uma percepção mais positiva da inclusão do que as sem. Pessoas com deficiência auditiva (42%), física (42%) e visual (49%) consideram a inclusão muito mais positiva do que negativa.
A publicação ainda inclui as sete principais barreiras dentre as quais as pessoas poderiam escolher até duas opções, além da
alternativa “Não há dificuldades para a inclusão das pessoas com deficiência, elas precisam alinhar seu perfil as demandas
do mercado”:
1. Poucas oportunidades e/ou oportunidades ruins;
2. Barreiras atitudinais (atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa
com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas);
3. Foco exclusivo no cumprimento da cota;
4. Barreiras físicas/ arquitetônicas (as existentes nos edifícios, como falta de rampas, banheiros, elevadores adaptados para pessoas com deficiência);
5. Barreiras nas comunicações e na informação (qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação);
6. Barreiras nos transportes (as existentes nos sistemas e meios de transportes);
7. Barreiras tecnológicas (as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias);
A pesquisa, que ficou disponível em plataforma online de pesquisa do dia 19 de setembro de 2022 a 31 de janeiro de 2023, contou com a participação de 850 pessoas, das quais 59% são pessoas com deficiência. Inicialmente, o objetivo era alcançar 2.000 respostas de pessoas com e sem deficiência.
A pesquisa ficou aberta por cerca de quatro meses e não alcançou a meta, mesmo com a aplicação de diferentes estratégias para o aumento da amostra. "Para encontrá-las, fizemos um plano de comunicação, com divulgações em nossas redes sociais e também por meio de parcerias com instituições e pessoas focadas para este grupo de pessoas", diz Thiago Roveri, diretor de pesquisas na Mais Diversidade.
Leia também
Afinal, o que é acessibilidade? Perrengues e reflexões de uma PCD em um festival de música