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Logística reversa de materiais pesados em tecnologia, uma abordagem além da sustentabilidade

O descarte inadequado de resíduos eletrônicos não afeta apenas a saúde e o meio ambiente, mas também gera custos financeiros elevados

Os resíduos eletrônicos, especialmente aqueles que contêm metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio, representam ameaça ao meio ambiente (Nitat Termmee/Getty Images)

Os resíduos eletrônicos, especialmente aqueles que contêm metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio, representam ameaça ao meio ambiente (Nitat Termmee/Getty Images)

Samuel Barros
Samuel Barros

Colunista

Publicado em 27 de junho de 2024 às 07h00.

A logística reversa de materiais pesados, como baterias, placas de circuito e componentes metálicos, é uma peça fundamental da abordagem de TI Verde e sustentabilidade tecnológica, com impactos significativos no meio ambiente, na saúde humana e animal, nos custos financeiros e nos ganhos potenciais para as empresas. Essa perspectiva nos últimos anos tem ganhado ainda mais destaque por conta da busca de práticas sustentáveis no manejo dos resíduos eletrônicos.

Os resíduos eletrônicos, especialmente aqueles que contêm metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio, representam ameaça ao meio ambiente. Quando descartados de maneira inadequada, esses materiais podem contaminar o solo e os lençóis freáticos, resultando em poluição que afeta a flora e a fauna.

Além disso, a incineração desses componentes libera componentes altamente tóxicos, contribuindo para a degradação da qualidade do ar e podendo causar problemas respiratórios em humanos e animais. Em particular, o mercúrio pode se “bioacumular” em organismos aquáticos, afetando toda a cadeia marinha e, eventualmente, impactando a saúde humana através do consumo de peixes e frutos do mar contaminados.

A exposição continua aos metais pesados presentes nos resíduos eletrônicos pode ter efeitos graves na saúde. Em humanos, o contato com essas substâncias pode levar a doenças neurológicas, problemas renais e diversos tipos de câncer. Estudos publicados no New England Journal of Medicine e no American Journal of Public Health, em 2005 e 1992 respectivamente, já mostravam que crianças expostas a altas concentrações de chumbo podem sofrer de problemas de desenvolvimento cognitivo e comportamental.

Da mesma maneira animais que vivem em áreas contaminadas também sofrem com essas substâncias, apresentando taxas aumentadas de mortalidade e problemas de reprodução. A bioacumulação desses metais nos ecossistemas pode levar a um ciclo contínuo de contaminação e danos à cadeia alimentar, resultando em um impacto prolongado e difícil de reverter.

O descarte inadequado de resíduos eletrônicos não afeta apenas a saúde e o meio ambiente, mas também gera custos financeiros elevados. A recuperação de áreas contaminadas pode ser extremamente cara, e os custos associados ao tratamento de saúde para populações afetadas também são significativos, e absorvidos em muitas vezes pelo sistema público de saúde.

Em virtude do potencial estrago ambiental, empresas que não gerenciam adequadamente seus resíduos podem enfrentar multas e sanções regulatórias, além de danos à sua reputação e imagem pública.

A perda de materiais valiosos que poderiam ser reciclados deve ser encarado um desperdício econômico. Segundo o Relatório intitulado “Metal Recycling: Opportunities, Limits, Infrastructure” das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) desta que a mineração urbana – a recuperação de metais preciosos de resíduos eletrônicos – pode ser mais eficiente e menos dispendiosa do que a mineração tradicional, além de ser mais ambientalmente amigável. 

Empresas que adotam práticas de logística reversa podem reduzir seus custos de produção ao reutilizar componentes valiosos, como metais raros, como o ouro. Acrescenta-se a isso que ao investir em tecnologias verdes e processos de reciclagem, as empresas podem melhorar sua imagem pública e atrair consumidores preocupados com a sustentabilidade.

A economia circular, promovida pela reutilização de materiais, também contribui para a redução da dependência de recursos naturais finitos, promovendo um ciclo de produção mais sustentável. Estudos publicados pela Havard Business Review, pela MIT Sloan Management Review e pela consultoria Gallup sobre sustentabilidade, de 2016, 2012 e 2017 respectivamente, já mostravam que empresas que adotam práticas sustentáveis frequentemente observam um aumento na lealdade dos clientes e na satisfação dos funcionários, o que pode se traduzir em maiores lucros e eficiência operacional a longo prazo.

Empresas ao redor do mundo têm se destacado na implementação de práticas de TI Verde e logística reversa. A Dell, por exemplo, possui programas robustos de reciclagem, incentivando os consumidores a devolverem equipamentos antigos para serem reciclados adequadamente. Utilizando uma técnica chamada de "reciclagem fechada", onde plásticos de eletrônicos antigos são reutilizados na fabricação de novos produtos, reduzindo a necessidade de novos recursos. A HP também se destaca com sua iniciativa "Planet Partners", que permite a devolução e reciclagem de produtos de forma simples e eficiente. A HP recicla aproximadamente 1,2 milhão de toneladas de hardware e consumíveis de impressão desde o início do programa. Outra empresa exemplar é a Apple, que através do seu programa "Apple Renew", não só recicla dispositivos antigos, mas também reutiliza materiais valiosos em novos produtos. A Apple introduziu o robô "Daisy", capaz de desmontar rapidamente iPhones para recuperar e reciclar seus componentes, um passo significativo em direção a um ciclo fechado de produção.

Além das iniciativas empresariais, é importante destacar o papel de políticas governamentais e internacionais na promoção da logística reversa e da TI Verde. A União Europeia, por exemplo, implementou a diretiva de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (WEEE), que estabelece metas de reciclagem e responsabiliza os fabricantes pelo descarte adequado de seus produtos. Nos Estados Unidos, estados como a Califórnia possuem leis rigorosas sobre a reciclagem de eletrônicos, incentivando as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis. Tais políticas não apenas impõem obrigações legais, mas também oferecem incentivos fiscais e subsídios para empresas que investem em tecnologia verde e reciclagem.

A adoção de práticas de TI Verde e logística reversa busca mitigar os malefícios ambientais e à saúde causados pelos resíduos eletrônicos. Além dos benefícios ambientais e de saúde, as empresas podem obter ganhos financeiros significativos ao adotar essas práticas, ao mesmo tempo em que fortalecem sua reputação e contribuem para a sustentabilidade global. Casos de sucesso, como os da Dell, HP e Apple, demonstram que a transição para uma abordagem mais sustentável é não apenas possível, mas também vantajosa em múltiplos aspectos. À medida que a conscientização sobre a importância da TI Verde cresce, esperamos que mais empresas sigam o exemplo, promovendo um futuro mais sustentável e saudável para todos.

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