Total: petroleira francesa líder em ESG divulga resultados de 2020 (Charles Platiau/Reuters)
A petroleira francesa Total anunciou na madrugada desta terça-feira, 9, um lucro líquido de 4 bilhões de dólares em 2020, superando a expectativa dos analistas, que era de 3,6 bilhões de dólares.
O bom resultado, contudo, representa uma queda de 66% no lucro em relação ao mesmo período de 2019, quando a petroleira lucrou 11 bilhões de dólares.
Assim como as concorrentes, a Total foi prejudicada ao longo do ano passado pelos efeitos da pandemia, que diminuíram o consumo global de gasolina e, consequentemente, os preços da matéria-prima.
Em boa medida o resultado menos grave do que o esperado se deve aos esforços da companhia para se tornar cada vez mais correta do ponto de vista ambiental, adotando a agenda ESG na esteira de uma demanda crescente por energias renováveis no mundo.
O grupo do qual a petroleira faz parte é o sexto maior explorador de petróleo e gás do mundo, e a empresa é a primeira representante francesa entre os líderes globais da indústria. Ainda que com essa atuação e exploração massiva, a Total é também uma das 10 empresas com maior peso no Índice de Sustentabilidade da Dow Jones, um dos principais indicadores ESG do mercado - e do qual a Total tem presença registrada há 17 anos.
A história petroleira francesa em território brasileiro também já é de longa data. Em 2013, a empresa comprou, em sociedade com a Petrobras e a britânica BP, cinco blocos de exploração de petróleo e gás na região da foz do Rio Amazonas. O projeto, no entanto, passou por altos e baixos, com impasses regulatórios e ambientais até que a empresa desistiu da exploração, em 2020.
A decisão também faz parte de um esforço global por um reposicionamento sustentável e adoção de práticas mais “verdes”. Hoje, a Total quer se posicionar como uma das líderes em energias renováveis, ao passo em que abandona, aos poucos, a exploração de petróleo em larga escala. A empresa anunciou que pretende ser neutra em carbono até 2050.
O desempenho da Total mostra que a economia verde é capaz de abocanhar boa parte investimentos das empresas, até mesmo de companhias e setores tradicionalmente poluentes. Um dos projetos limpos da Total prevê o investimento de 500 milhões de euros para a conversão de uma refinaria de petróleo na França para uma unidade de produção de biocombustíveis.
Neste ano, a Total se uniu à Engie em um acordo para projetar, construir e operar uma unidade de produção de hidrogênio na França, que será alimentada por energia solar e atenderá a todo o processo de produção de biocombustíveis da refinaria. Segundo a empresa, o projeto irá evitar a emissão de 15.000 toneladas de CO2 por ano.
A empresa também mira a mobilidade elétrica e tem feito aquisições de redes diferentes de recarga de veículos elétricos na Europa.
Ainda em 2021, a Total também anunciou a saída do principal lobby de petroleiras dos Estados Unidos, o Instituto Americano de Petróleo (API), após divergências sobre atuação das integrantes do grupo a respeito das mudanças climáticas.
Junto às gigantes Shell e BP, a Total se comprometeu a eliminar as emissões de suas operações até a metade do século. As petroleiras europeias têm assumido a dianteira nos investimentos em energia limpa entre as empresas do setor, e hoje respondem por mais de 70% dos investimentos em fontes renováveis.
No entanto, um estudo da BloombergNEF mostra que a indústria do petróleo não tem gastado o suficiente para um futuro de baixo carbono, embora muitas empresas tenham colocado a descarbonização no centro de suas estratégias de longo prazo O setor cortou investimentos para 11,3 bilhões de dólares – o equivalente a 4,3% de seus orçamentos totais – em ativos e tecnologias de baixo carbono no ano passado.
O estudo destaca o enorme trabalho pela frente do setor, que está cada vez mais na mira de investidores e da sociedade para desempenhar um papel maior no combate às mudanças climáticas.